Muito antes de os CDs invadirem o mercado para ofuscar os velhos vinis com a promessa de som mais claro, crianças passaram um bom tempo sentadas diante da vitrola. Tirando de letra os chiados e revoltando-se com discos riscados (sem contar o problemão que era acertar o início das faixas caso você não quisesse ouvir o bolachão desde o começo), elas acompanhavam inocentes narrações de fábulas, canções que punham em xeque a sexualidade do King Kong ou até descreviam uma apimentada aula de piano.
O sucesso era grande e rendeu bons frutos. Também, pudera: esses discos infantis combinavam propostas interessantes a arranjos cuidadosos, em material feito por grandes nomes da música e da poesia brasileira. Pronto para viajar ao seu passado musical? Então siga a bolinha e cante com a gente.
Coleção Disquinho (1960)
João de Barro descobriu um nicho ao adaptar clássicos da literatura infantil. Criou os minivinis coloridos que embalaram gerações – foram relançados em 2001
De ouvido: “Pela estrada afora, eu vou bem sozinha/ Levar esses doces para a vovozinha”. Pobre Chapeuzinho, mal sabia que a esperava o Lobo Mau, aquele que pegava “criancinhas pra fazer mingau”
Uma nota, maestro: João de Barro era a alcunha adotada por Braguinha, parceiro de músicos como Pixinguinha e Noel Rosa
Os Saltimbancos (1977)
Sob os olhos da censura, Chico Buarque traduziu o musical infantil inspirado num conto dos Irmãos Grimm. Seria a saga do Jumento, do Cachorro, da Galinha e da Gata a lutar por liberdade uma parábola social?
De ouvido: “Nós gatos já nascemos pobres/ Porém, já nascemos livres”. A voz bossa nova de Nara Leão embalava o tema que ficou famoso
Uma nota, maestro: A primeira montagem, exibida no Canecão, tinha Marieta Severo, Antônio Pedro, Miúcha e Grande Otelo nos papéis dos animais que querem formar um conjunto musical
A Arca de Noé, 1 (1980) e 2 (1981)
O especial adaptou poesias publicadas por Vinicius de Moraes em 1970 e escalou intérpretes do calibre de Elis Regina. Ganhou um prêmio Emmy em 1981
De ouvido: “Lá vem o pato, pata aqui, pata acolá/ Lá vem o pato para ver o que é que há”. “Pato Pateta”, com o MPB4, embalou muita formatura pré-escolar
Uma nota, maestro: As Frenéticas cantaram “Lição de Piano”, história de uma menininha que se apaixona pelo professor (“tira a mão daí/ dó, dó, ré, dó, si/ assim não dá pé/ mi, mi, fá, mi, ré/ e agora o sol, fá pra lição acabar”). Se fosse na era do politicamente correto…
Pirlimpimpim (1982)
No centenário de Monteiro Lobato, os personagens do Sítio do Picapau Amarelo foram interpretados por cantores: Baby Consuelo era a Emília, Moraes Moreira o Visconde e Jorge Ben ficou na pele do Saci
De ouvido: Ângela Ro-Rô, que interpretou a Cuca, apavorava ao entoar a canção-tema da vilã, com o gutural “Lindooooona!”
Uma nota, maestro: “Nosso Lindo Balão Azul”, de Guilherme Arantes, reunia quase toda a turma do programa. O clássico foi regravado até pela dupla Claudinho & Buchecha
Casa de Brinquedos (1983)
Aretha, simpática figurinha carimbada dos infantis, passeava por uma casa cheia de brinquedos com vida. A composição das músicas ficou a cargo de Toquinho
De ouvido: “Sou eu que vou seguir você do primeiro rabisco até o bê-á-bá/ Em todos os desenhos coloridos vou estar”. “O Caderno”, cantada por Chico Buarque, emociona marmanjos até hoje
Uma nota, maestro: No refrão de “A Bicicleta”, Simone soletrava “bê, i, cê, i, cê/ éle, ê, tê, á/Sou sua amiga bicicleta”. Muita criança demorou anos para entender o que ela dizia
Plunct Plact Zuuum (1983)
Um grupo de crianças entediadas resolve viajar para o Planeta Doce. O nome da nave criada pelos pequenos dava título ao especial. No repertório, pérolas como a Gang 90 duvidando da masculinidade do rei dos macacos em “Será que o King Kong É Macaca?”
De ouvido: “Planeta Doce” foi feita sob medida para Jô Soares: “O Sol é um quindim e brilha doce até o fim/Nuvens de algodão doce, pirulitos nos jardins”
Uma nota, maestro: “Carimbador Maluco” resgatou Raul Seixas. Para o desgosto de muitos fãs, que odiaram a presença do Maluco Beleza num especial da Globo