O clubber onipresente
O globo de espelho é o nosso totem, o grande irmão que nos vigia e ilumina a cada balada. E ele já foi até lançado ao espaço, sabia?
Camilo Rocha
Suponha que você é um ET vindo de outro sistema solar. Vai parar num clube, entra na pista e se depara com vários espécimes locais olhando fixamente para o alto, alguns com sorriso bobo na cara, outros com olhinho semicerrado. Eles estão olhando para esse objeto redondo, giratório, cintilante. O objeto reflete as luzes do lugar. Dá vida a ele. “Este, então, é o seu líder. Levem-me a ele.”
O globo de espelho é o nosso totem, nosso grande irmão, que nos vigia e ilumina. Sabe por quê? Porque ele tem o poder. Graças ao globo, qualquer salão xumbrega tem a chance de ser um pouco Studio 54. É só apertar um interruptor. Na era dos efeitos computadorizados que lembram uma batalha de Guerra nas Estrelas, a eficácia “old school” do globo de espelhos gira inabalada.
As sombras se foram. A pista dá voltas, e o nosso mundinho ganha movimento, se convertendo numa empolgante jornada pelas nuvens oníricas de um paraíso hedonista. (É claro que uns cinco ou seis coquetéis caprichados dão uma tremenda força para se receber essas visões.)
O globo serve a todos. Para o tranceiro, pode significar “uma onda louca, bicho!”, enquanto todos os seus chacras são estimulados de uma só vez. Para os houseiros, os clubes são construídos em volta do globo. Para o povo do electro, é um resgate irônico de inferninhos de strip-tease. Para o fã de “intelligent dance music”, seria uma metáfora do Panopticon, o observador imaginado pelo filósofo Michel Foucault.
Mas o globo é caco velho: no clássico “Casablanca”, de 1942, ele aparece numa boatezinha tosca. E sua influência não conhece fronteiras: em 2001, a NASA lançou ao espaço um satélite que era a cara de um globo de espelhos, apelidado de “disco ball”. Dá até pra imaginar um roteiro de filme trash: “O Ataque dos Globos Assassinos”. Com Olivia Newton-John fazendo uma ponta…