Ahmet andava de um lado para outro na sala da sua gravadora, especializada em jazz, que abrira havia 12 meses. Era 1948 e a Atlantic Records vendera pouquíssimas cópias de discos de 78 rotações. “Eu preciso inventar um som comercial”, matutava. Foi então que teve a idéia de viajar pelo sul dos EUA para recolher amostras musicais. De volta a Nova York, trancou-se num estúdio durante dias até chegar à música que agradou em cheio aos compradores: um som dançante com vocais rasgados, entremeados por solos de sax. Assim, mais do que inventar o “som da Atlantic”, Ahmet criou a música popular moderna. De Phil Spector – produtor dos Beatles – a Celine Dion, o panteão pop tem uma dívida de gratidão com o turco, nascido em Istambul, filho de diplomata, que desistiu de estudar filosofia para abrir a gravadora com dinheiro emprestado por um dentista, amigo da família.
A primeira estrela a brilhar em suas mãos foi Ray Charles. “Antes de mim, Ray era um pianista fracassado de Seattle”, dizia. Ahmet escreveu, sob o pseudônimo A. Nugetre (seu sobrenome, Ertegun, ao contrário), o primeiro sucesso do soul man, Mess Around, de 1954. Seus dias de glória, contudo, aconteceram nos anos 60 e 70. O turco viu que o gosto popular estava mudando em direção ao rock ’n’ roll. Três de seus petardos da época: descobriu o Led Zeppelin depois de ouvir uma fita demo, fechou contrato para distribuir os discos dos Rolling Stones nos EUA, em 1971, e assinou com a banda Cream, de Eric Clapton. Também descobriu uma cantora de igreja e transformou-a na rainha do soul americano: Aretha Franklin. A única coisa que não conseguiu foi que os EUA fossem capazes de pronunciar o seu nome. O cantor Otis Redding, por exemplo, chamava-o de “Omelete”.
Ahmet morreu no ano passado, depois de sofrer uma queda, aos 83 anos, durante um concerto dos Rolling Stones em Nova York. Robert Plant (do Led Zeppelin) ligou para a Atlantic Records, perguntando para onde deveria enviar uma coroa de flores. A recepcionista que o atendeu nunca ouvira falar de Ahmet Ertegun. A glória é efêmera no circo do pop.
Grandes momentos
• Ele sempre se lamentava de duas bobagens: não ter insistido para ficar com o passe de Elvis Presley (perdido para a RCA) e ter perdido o contrato com uma banda inglesa, The Beatles.
• Mas a música não era tudo. Em 1971, montou o time New York Cosmos e ajudou a levar uma leva de craques para o escrete nova-iorquino: vPelé, Carlos Alberto Torres, Beckenbauer e Chinaglia. O Cosmos fechou as portas em 1984.
• Em 1967, vendeu a Atlantic Records à Warner Brothers por US$ 17 milhões. Mas nunca se aposentou. Suas últimas descobertas: a cantora Jewel e o roqueiro Kid Rock.