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Os 6 vencedores do Nobel que já foram indicados ao Oscar

O Nobel de Literatura Kazuo Ishiguro concorre em 2023 pelo roteiro de "Living". Conheça o resto deste grupo, que inclui também Bob Dylan e Jean-Paul Sartre.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 6 out 2023, 17h09 - Publicado em 3 fev 2023, 14h34

Desde a sua primeira edição, em 1929, o Oscar já entregou mais de 3,1 mil estatuetas. Ou seja: ganhar um deles te coloca, automaticamente, em um clube bem exclusivo.

Mas dá para ser mais VIP.

O showbiz dos EUA têm quatro prêmios principais: Emmy (televisão), Grammy (música), Oscar (cinema) e Tony (teatro). Ganhe todos eles e você se torna um EGOT, sigla que junta as iniciais de cada troféu.

Missão impossível? O primeiro artista a virar um EGOT foi o compositor Richard Rodgers, em 1962. Ao todo, 17 personalidades já entraram para esse clube, como Whoopi Goldberg, John Legend e Jennifer Hudson. E há dezenas de outras que já venceram três dos prêmios e estão na “lista de espera”: Paul McCartney, Elton John, Al Pacino, Kate Winslet…

Mas dá para ser (ainda) mais VIP.

Na edição de 2023 do Oscar, cuja cerimônia acontecerá no dia 12 de março, o escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro concorre a Melhor Roteiro Adaptado por Living (que também aparece em Melhor Ator para Bill Nighy). Não é uma indicação qualquer: Ishiguro levou o Prêmio Nobel de Literatura em 2017 – e há pouquíssimas pessoas na história que realizaram ambos os feitos.

Considerando Ishiguro, apenas seis vencedores do Nobel conseguiram uma indicação ao Oscar (e, destes, só dois ganharam de fato o Oscar). Todos eles levaram o Nobel em Literatura, o que faz sentido – pelo menos até físicos, químicos e médicos decidirem tentar a sorte na sétima arte.

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Abaixo, veja a lista de quem conquistou essa rara combinação:

George Bernard Shaw (1856-1950)

Retrato de Bernard Shaw.
(Hulton Archive/Getty Images)

Notório dramaturgo irlandês, Shaw nasceu em Dublin e adquiriu cedo o gosto pelas artes graças à mãe, que era cantora profissional. Mas a sua carreira literária demorou a deslanchar. Por anos, seus manuscritos foram recusados pelas editoras de Londres, onde passou a morar depois de adulto.

Na imprensa, teve mais sorte: arranjou emprego num jornal e passou uma década escrevendo colunas, resenhas literárias e críticas de arte.

Além de escritor, Shaw também era economista. Estudioso do socialismo, foi um dos fundadores da prestigiada universidade London School of Economics.

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Shaw venceu o Nobel de Literatura em 1925. O Oscar, em 1939. O prêmio de Melhor Roteiro Adaptado veio pelo filme Pigmalião, adaptação da peça homônima de Shaw (que escreveu o roteiro junto a outros três autores). A história gira em torno de um professor que tenta transformar uma pobre florista em uma dama da alta sociedade inglesa. Pigmalião serviu de base para o famoso musical My Fair Lady.

John Steinbeck (1902-1968)

Retrato de John Steibeck.
(Bettmann/Getty Images)

Autor de 33 livros, entre romances, não-ficção e coletâneas de contos, Steinbeck é um dos mais respeitados autores americanos do século 20.

Um de seus maiores trabalhos é As vinhas da ira (The Grapes of Wrath), vencedor do Prêmio Pulitzer em ficção. A história acompanha uma pobre família de agricultores nos EUA na época da Grande Depressão – a severa crise econômica que assolou o país nos anos 1930.

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As vinhas da ira foi lançado em 1939 e, em 1940, ganhou uma adaptação para o cinema dirigida por John Ford. Ao todo, 17 obras de Steinbeck ganharam versões para as telas.

Steinbeck conquistou o Nobel de Literatura em 1962 e, ao contrário de Bernard Shaw, nunca venceu um Oscar. Mas não faltaram indicações. Foram três, todas por roteiro original: Um Barco e Nove Destinos (1944), A Morte de uma Ilusão (1945) e Viva Zapata! (1952).

Jean-Paul Sartre (1905-1980)

Retrato de Jean Paul Sartre.
(Dominigue BERRETTY/Getty Images)

 

O filósofo francês é um dos intelectuais mais lembrados do século 20. Primeiro, por suas obras filosóficas existencialistas, como A Náusea e O Existencialismo é um Humanismo. Segundo, pela sua atuação política (militante de diversas causas, apoiou várias pautas da esquerda). E, claro, pelo seu relacionamento de mais de 50 anos com Simone de Beauvoir, autora de obras fundamentais do feminismo.

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Mas o que pouca gente sabe é que Sartre, que levou o Nobel de Literatura em 1964, quase venceu um Oscar. Alguns anos antes, em 1957, ele concorreu na categoria Melhor História por Os Orgulhosos (1953).

Sartre não escreveu o roteiro do filme. O que ele fez foi escrever uma etapa anterior a ele, chamada de tratamento. Nela, há uma descrição minuciosa dos personagens e da história – mas ainda sem os diálogos e os detalhes de todas as cenas.

A categoria de Melhor História existiu até 1956. É que se tornou cada vez mais comum que os estúdios de Hollywood trabalhassem com roteiristas independentes, que elaboravam o roteiro inteiro – sem a necessidade de outro profissional para o tratamento prévio. Atualmente, os escritores são premiados nas categorias de Roteiro Original e Roteiro Adaptado.

Harold Pinter (1930 – 2008)

Retrato de Harold Pinter.
(Hulton Archive/Getty Images)
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Pinter foi um importante dramaturgo britânico. Nascido em Londres, publicou, ao longo da vida, 29 peças de teatro, além de romances, poemas e roteiros de cinema.

Ao lado de escritores como Samuel Beckett, Pinter foi um dos líderes do movimento conhecido como teatro do absurdo. Suas obras eram marcadas por situações inesperadas e técnicas de narrativa experimentais (em uma de suas peças, Traição, há cenas interpretadas na ordem reversa, do fim para o começo).

A vitória do Prêmio Nobel veio em 2005, mas Pinter não pôde comparecer à cerimônia de entrega em Estocolmo, na Suécia. Ele estava debilitado devido a complicações de um câncer no esôfago, descoberto em 2002. Em uma cadeira de rodas, gravou um vídeo para agradecer o troféu.

Pinter, que também dirigiu filmes para o TV e o cinema, foi indicado duas vezes ao Oscar – ambas na categoria Roteiro Adaptado. A primeira foi por A Mulher do Tenente Francês (1981); a segunda, Traição (1983), adaptação de uma peça homônima escrita por ele mesmo.

Bob Dylan (1941 – )

Bob Dylan em show, segurando microfone.
(Gus Stewart/Getty Images)

 

Se a sua vida é difícil, pense pelo lado bom: você não é primo do Bob Dylan. Imagine como seriam as festas de Natal em que os seus parentes fariam comparações entre você e um dos maiores letristas da história, detentor de prêmios Grammy, Pulitzer, Nobel (entregue em 2016), uma Medalha Presidencial dos EUA – e um Oscar.

Em 2001, Dylan venceu a categoria de Melhor Canção Original por “Things Have Changed”, música que compôs para o drama Garotos Incríveis (2000), estrelado por Michael Douglas e Tobey Maguire. O cantor bateu os artistas Björk, Sting e Randy Newman (o compositor de Toy Story e diversos filmes da Pixar), que também concorriam naquele ano.

Kazuo Ishiguro (1954 – )

Retrato de Kazuo Ishiguro.
(Europa Press/Getty Images)

 

O concorrente ao Oscar deste ano ganhou o seu Nobel de Literatura em 2017, um ano após Dylan. Nascido em Nagasaki, no Japão, Ishiguro se mudou com a família para a Inglaterra aos cinco anos. Nos anos 1970, graduou-se em Filosofia e Letras e, desde 1982, é escritor em tempo integral.

A sua obra mais famosa é o romance Vestígios do Dia (1989), adaptada para o cinema em 1993 – o filme, estrelado por Anthony Hopkins, recebeu oito indicações ao Oscar. O livro tem um notório caso de bastidor: para escrevê-lo, Ishiguro se isolou durante um mês em um quarto, sem telefone nem televisão e com pausas apenas para comer. Você pode conferir mais detalhes dessa história neste texto da Super, escrito quando Kazuo venceu o Nobel.

Ishiguro, contudo, não é o favorito ao Oscar. Segundo o site Golden Derby, as apostas têm se concentrado em Women Talking e Nada de Novo no Front. Desde 2000, todos os vencedores de Melhor Roteiro Adaptado foram indicados também a Melhor Filme – e nove deles acabaram levando também o prêmio principal.

Women Talking e Nada de Novo no Front preenchem esse requisito. Mas Living tem alguns pontos a seu favor: Ishiguro escreveu o roteiro com base em um filme de 1952 do diretor Akira Kurosawa – que, por sua vez, inspirou-se na novela A Morte de Ivan Ilitch, do russo Liev Tolstói, de 1886. Haja pesos-pesados para se contar uma história.

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