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Para “Supermax”, a Globo construiu um presídio de verdade – dentro do Projac

Fomos até o complexo de filmagens da emissora, e demos de cara com um presídio de verdade - que serviu como set de filmagens

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 nov 2016, 19h19 - Publicado em 21 set 2016, 19h15

O chão é de cimento batido, sujo de pó e terra. Ao passar pela porta, a única visão possível é a do escuro ambiente circular. Todo de concreto, com exceção de uma larga escada metálica, que leva para o andar de cima e 12 portas de ferro distribuídas pelas paredes. São celas. Solitárias que podem ser fechadas e trancadas remotamente por um controlador. Por dentro elas são pequenas e não muito inspiradoras; compostas geralmente por pichações na parede, fotos de mulheres nuas, um colchão desgastado e um vaso sanitário – sempre nojento. No andar de cima, um refeitório sem luxo algum: só mesas, cadeiras e uma cozinha (separada do restante do andar por barras de ferro). Tudo devidamente monitorado por pequenas câmeras estrategicamente localizadas para observar todos os cantos do ambiente. É uma prisão de segurança máxima, completamente funcional. O que não é usual nessa história é o fato de que a cerca de 500 metros dali, Ana Maria Braga, Danielle Winits e Eri Johnson conversavam em uma aconchegante cozinha colorida e animada. Não, não construíram uma cadeia perto do Projac.  Ela está lá dentro mesmo.

Mas não vai rolar rebelião, e o Louro José não tem que se preocupar se virará almoço no xadrez. Apesar de tudo funcionar de verdade, o uso será de mentirinha. A prisão só foi feita para fins artísticos. É lá que se passa a nova série da Globo, Supermax, que retrata um reality show (apresentado por Pedro Bial), em que criminosos são trancafiados juntos, visando um grande prêmio no fim. As coisas dão errado, a produção desaparece, e os participantes passam enfrentar questões que vão de assassinatos a bruxarias, passando por encarar criaturas que parecem ter saído de O Senhor dos Anéis. O que está acontecendo, por que motivo, e como sair disso, são questões que só vão sendo respondidas ao longo dos episódios da trama.

Refeitório na prisão

Mas em tempos que filmes são inteiramente filmados sem um cenário físico sequer, com quase tudo gerado em computador, para quê construir um presídio funcional? Isso é realmente necessário? É. “A ideia é que a experiência funcione como um todo. Ter o presídio ali muda a percepção de quem está atuando – todo o elenco estava presente em partes diferentes da cadeia, mesmo que não estivessem em cena. Isso faz uma diferença enorme, dá uma realidade”, afirma José Alvarenga, cococriador e codiretor da série. A ideia é que a atuação não dependesse só da imaginação do elenco (o que ocorre em produções que usam efeitos especiais para a construção de ambientes). Os atores tinham que sentir a cadeia. Além disso, a imposição física de um presídio, trazia, para a produção, justamente a sensação oposta do que as cadeias costumam dar: liberdade. “Esse tipo de situação é muito diferente para um diretor, você consegue aproveitar mais o espaço e acaba encontrando coisas interessantes; acha ângulos, cria intimidade com o espaço e fica cada vez mais livre”, completa Alvarenga.

O fato de estar dentro do Projac também era um problema “A gente não queria que o ator fizesse uma cena supertensa, saísse para um intervalo e tomasse um café glamoroso com o Tony Ramos. É isso que acontece no Projac”, conta Alvarenga. A solução foi esconder a cadeia global. O centro de estúdios da emissora tem 400 mil m², e a prisão de Supermax foi estrategicamente construída em um canto, meio afastada das celebridades e dos carrinhos de golf que circulam por lá. O afastamento foi somado a dinâmicas e treinamentos para que os atores absorvessem toda a tensão e as situações que um enceramento com elementos sobrenaturais poderia acarretar. O elenco teve que aprender, por exemplo, como reagir a uma amputação. “Depois de cinco meses de gravação, era nítido o cansaço físico dos envolvidos. Para mim, deu certo”, conta o diretor.

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Alvarenga

Apesar da importância das instalações físicas, os efeitos criados por computador foram tão importantes quanto cada tijolinho do presídio. A começar pelos arredores. Na trama, a cadeia fica localizada no meio da floresta amazônica – deixando ainda mais difícil a fuga dos participantes. E o que não faltam são tomadas aéreas mostrando as instalações cercadas de árvores e animais. Ponto para o pessoal de efeitos especiais: a prisão do Projac era filmada e inserida digitalmente em uma floresta de mentirinha. Dentro da cadeia os efeitos eram ainda mais intensos. “A gente escaneou todo o ambiente. Usamos 3D para mapearmos o espaço do set, conseguimos transportá-lo, em detalhes, para dentro do computador. Assim conseguíamos inserir personagens e objetos dentro da ação com muito mais perfeccionismo”, conta Fernando Alonso gerente de operações de tecnologia do programa. Para que tudo acontecesse da forma mais real possível, Fernando e sua equipe se afundaram em códigos. Desenvolveram uma inteligência artificial que mesclava os efeitos especiais com a atuação humana. Em uma cena mostrada na divulgação do seriado, por exemplo, é mostrada uma poça de sangue escalando o corpo de um presidiário. A maneira como o líquido se comporta é traçada por um software e pode ser controlada pelos programadores. A cereja do bolo aparece nas criaturas criadas digitalmente. Um contorcionista foi chamado para interpretar alguns dos monstros do seriado e contracenar com o elenco. Seus movimentos foram captados em tempo real e serivram como base para os técnicos animarem criaturas assustadoras que se mesclassem com à realidade. “Tivemos bastante tempo, calma, para trabalhar com Supermax. Isso é refletido no resultado final. Tudo precisa ser feito com muito cuidado. Usamos câmeras que filmam, por exemplo, em mais de 60k – não existe televisor no mercado com essa capacidade, mas para uso interno, isso reflete em muito mais qualidade na hora de trabalhar com efeitos especiais”, explica Fernando.

Mas se você der uma volta pelo Projac hoje, nem adianta procurar a cadeia – ela já foi demolida. O cenário todo foi abaixo em junho, mas não antes de servir de palco para atores estrangeiros entrarem em cena. É que Supermax virou franquia antes de estrear, com versão latino-americana filmada com atores de países de língua espanhola. Há ainda planos para uma versão para o público americano. O que não há no calendário é uma data para continuação. Por enquanto, o projeto tem só uma temporada prevista. “A gente fica sempre pensando em novos projetos, e não planejamos uma nova fase para Supermax, mas os gringos vieram para a gente já pensando em um conjunto de temporadas. Quem sabe?”, afirma Alvarenga. Se rolar, um presídio novinho em folha pode voltar a ser erguido nos confins dos estúdios globais.

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