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Por que calças femininas têm bolsos tão pequenos?

Um bolso de calça jeans feminina é 46% mais raso que um masculino: só 40% deles comportam um smartphone. Essa é uma herança do século 19.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 ago 2020, 14h25 - Publicado em 27 dez 2018, 14h39

São muitos motivos: a invenção e popularização de bolsas, o custo de costurar bolsos, o corte das calças skinny… Tudo com um tempero machista, é claro.

Os primeiros bolsos femininos eram sacos de tecido branco atados à cintura por meio de um cordão. Essas pochetes retrô, que foram populares ao longo do século 18, ficavam escondidas sob a anágua – uma espécie de cruza entre camisola e lingerie que era usada por debaixo dos desconfortáveis e exuberantes vestidos da época. 

Anáguas tinham mais camadas do que massa folhada. Algumas eram vestidas por cima de dois saiotes extras (haja pudor e calor). Como não seria próprio erguer as vestes em um local público, essas peças logo passaram a ter buracos invisíveis, posicionados de maneira a permitir o acesso ao bolso sem revelar sua posição.

Nem é preciso dizer que esse era um luxo reservado à elite. Embora as mulheres da época não tivessem celulares ou cartões de crédito para carregar por aí, havia objetos íntimos ou valiosos que não estariam em segurança em outro lugar. 

De acordo com o museu londrino Victoria & Albert – dedicado à decoração, moda e design – os móveis e quartos da época eram grandes e, frequentemente, compartilhados. Não havia a noção de que não se pode abrir as gavetas de outras pessoas.

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Por isso, era comum encontrar dinheiro, chaves, diários e joias nas pochetes. Instrumentos de costura também: tesouras e facas, almofadas de alfinete, lápis e dedais eram escondidos para evitar que as outras mulheres os pedissem emprestados. Hoje em dia, ceder uma caneta esferográfica a um colega de trabalho é um ótimo jeito de perdê-la para sempre. Na época, o provável era que você nunca mais visse suas agulhas. 

Um manual de etiqueta escrito em 1819 por Theresa Tidy, pseudônimo da escritora britânica Elizabeth Susannah Graham, traz uma lista de itens essenciais para um bolso: “…carregue consigo um dedal, uma almofada de alfinetes, um lápis, uma faca e tesouras, que não só serão uma fonte indescritível de conforto e independência, evitando que você precise pedir esses itens emprestados, mas também lhe assegurarão o privilégio de não ter de emprestar esses artigos indispensáveis.

Na passagem para o século 19, o jogo virou. Vestidos com saias do tamanho de guarda-sóis saíram de moda, e os mais apertados, que marcavam melhor a silhueta do corpo, se tornaram comuns. Peças despojadas de inspiração neoclássica entraram no rolo: o elegante era parecer uma deusa grega. A charge abaixo, publicada na época, tira sarro da mudança.

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(Isaac Cruikshank/Domínio Público)

Como não havia mais espaço para bolsos, nasceram os equivalentes às bolsas de mão atuais. Elas eram minúsculas, e assim deveriam ser: mulheres que precisavam carregar coisas demais eram mais independentes  e o esperado, óbvio, era ser completamente dependente do marido. Bolsas minúsculas (e, obviamente, inúteis) se tornaram símbolo de status

Velhinhas saudosistas e manuais de costura mais empoderados, voltados a mulheres da classe trabalhadora, estimulavam o uso de bolsos pela praticidade, mas eles perderam espaço nos teatros, bailes e demais espaços sociais das classes altas.

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Com a 2ª Guerra Mundial, mulheres passaram a usar calças e macacões, e a trabalhar nas fábricas no lugar dos homens que iam para o campo de batalha (e morriam aos montes). Mas o estrago do século anterior já estava feito: o preconceito ficou. Atribui-se ao estilista Christian Dior a seguinte frase, dita em 1954: “homens tem bolsos para guardar coisas, mulheres, por decoração.”

Hoje, um bolso feminino em um jeans de corte reto é em média 46% mais raso que um bolso masculino, embora tenha uma boca quase do mesmo tamanho (só 6,5% menor). Só 40% das calças femininas têm espaço suficiente para armazenar um smartphone. As conclusões são do site The Pudding, que em agosto deste ano comparou os bolsos de mais de 80 calças de 20 marcas.

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Bolsos para mulheres, bolsos para homens. (Juliana Krauss, com dados de The Pudding/Superinteressante)
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A moda skinny e a redução de custos da indústria fast fashion, é claro, não ajudam em nada. Em calças muito apertadas, bolsos marcam e fazem um volume extra. Em tamanho absoluto, os bolsos das calças coladinhas são menores tanto para mulheres quanto para homens. A proporção entre eles, porém, se mantém praticamente a mesma: nos modelos skinny femininos, os bolsos da frente são 48% menores que nos masculinos.

 

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