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Tocando o foda-se

Tirando uma onda, só De Leve

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 30 nov 2003, 22h00

Alexandre Matias

O largadão De Leve, nova febre do hip hop nacional, faz rimas cheias de piadas e é fã de Juca Chaves. Ele só não quer ser chamado de humorista…

Embora tenha começado por pura brincadeira e seja um fã de Juca Chaves, De Leve, 22 anos, não se considera humorista. “Minhas piadas não têm graça”, desconversa. Fluminense de Niterói, Ramon Moreno é um dos integrantes do Quinto Andar e talvez nome mais conhecido do coletivo. Seus dois EPs caseiros (“Intro-duzindo De Leve”, de 2001, e “O Estilo Foda-se”, deste ano) chutam o balde da seriedade do hip hop, com rimas insólitas e metáforas inusitadas. “A idéia é essa mesmo, mandar tudo pra pqp “, diz, rindo, num café de Ipanema. Os discos viraram febre entre quem acompanha de perto as recentes mutações do rap nacional, principalmente graças à internet, porque não foram lançados comercialmente. Da web ele foi parar em coletânea independente e até na trilha do seriado “Cidade dos Homens”, da Rede Glo-bo. Agora, De Leve virou coisa séria. O rapper é um dos primeiros lançamentos do selo Segundo Mundo, do produtor Dudu Marote. Seu primeiro CD, também batizado “O Estilo Foda-se”, acaba de ficar pronto. Largado como sempre, o rapper conversou com VOLUME01.

Volume01 – Você leva a sério fazer música?

DE LEVE – Nunca levei a sério. Ouvi um rap pela primeira vez num filme chamado “O Lance do Crime”. Era maneiro, eu nem sabia o que era aquilo. Gravei a música da TV numa fitinha e ficava ouvindo direto. Comecei a fazer umas letras, mas na brincadeira. Na escola, a gente fazia uns funks pra zoar os professores. Aí rolou o convite para uma coletânea. Eu tinha só um pedaço da música, que era “Eu Bolo”, e o refrão. No dia que eu ia gravar, eu ainda não tinha a segunda parte: acordei tipo sete da manhã só pra escrever. Doideira. Até hoje tenho pé atrás. Meu pai me dava esporro. Minha mãe nunca me deu apoio, mas também nunca falou nada. Eles só começaram a gostar depois que eu apareci no jornal. Saiu no jornal, é maneiro.

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V01 – E o disco próprio?

DE LEVE – Eu comecei a escrever milhares de coisas, até que o Castro me apresentou o Bruno: “Pô, tem um camarada que tem um estudiozinho em casa”. Beleza, fui lá. Gravei umas músicas e, porra, tinha seis músicas. Falei: “Vamos lançar um disco”. Fiz mil CDs caseiros, com a capa xerocada. A foto é de um vinilzão do Ciro Monteiro, que se chama De Leve, e eu só botei o meu rosto em cima. E lancei na internet.

V01 – E como foram as vendas?

DE LEVE – Vendi tudo. E rolava nesses Kazaas da vida. A gente procurava “Quinto Andar”, “De Leve”, e a galera tinha. Se não fosse a internet, não sei mesmo… Aí, começou a aparecer neguinho querendo fazer matéria, entrevista. Fiquei bolado. O Xis apareceu me elogiando na MTV. Aí a gente fez o clipe de “Eu Rimo na Direita”. Comecei a ser reconhecido na rua, principalmente em São Paulo. Uma vez um cara veio puxar papo citando partes das minhas músicas. Achei aquilo um saco. Teve um cara que tatuou “Largado” nas costas, não botei fé. Sinistro.

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V01 – Você falou que foi reconhecido no Blen Blen, em São Paulo…

DE LEVE – Pois é, tava dançando bebão. Veio uma mina: “Você não é o cara do clipe?” Eu falei “Sou”. Acabei pegando (risos).

V01 – E o Estilo Foda-se, como aconteceu?

DE LEVE – Aí rolou o disco, uns shows e fui fazer o disco novo. Fiquei pensando em fazer um disco doideira, nada a ver com o primeiro. Eu falei: “Não, vou fazer uma parada diferente”. No início era pra desagradar, pra chocar mesmo: estilo foda-se. O pessoal achou que o segundo ia ter sample de jazz, ia ser mais cool…

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V01 – Era um disco pra ir contra o oba-oba.

DE LEVE – No mundo inteiro é assim: arte virou lobby. Eu falo bem de você, você fala bem de mim, a gente sai na foto junto. A maior falsidade. Não quero que minha música apareça num lugar porque eu sou amigo de não-sei-quem. Que apareça por mérito, senão foda-se, não faço questão.

V01 – Você é largado mesmo?

DE LEVE – É nesse estilo que eu ando naturalmente: chinelo, camisa amassada, bermuda. Não é nada demais, é gente que não se veste pra sair de casa. Vai pra praia, então bota bermuda e chinelo. Você vai jantar num lugar e neguinho começa a te olhar, segurança fala no walkie-talkie. O pai da sua mulher fica reclamando porque você só anda de chinelo. Você nem percebe. Eu era assim e não percebia. Não é forçado: “Pô, vou sair à noite então vou de chinelo!” Só que neguinho te olha estranhão por causa disso. E foi o que aconteceu. Estava com a minha namorada e ela falou: “Meu pai gosta de você, te considera legal e tudo o mais. Só acha que você é muito largado. E bateu na hora. Na volta da casa dela, comecei a primeira frase e fiz a música.

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Ouça

Introduzindo De Leve (2001, independente)

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As bases saem de discos velhos de jazz. O disco traz o hit “Largado” e a pensativa “Melancólico Irônico”: “O bom do rap é que só gasto com caneta/ Papel eu pego da padaria, só gasto palavra e tempo.”

O Estilo Foda-se (2002, independente)

O segundo disco começa com pompa: “A parada mais malfeita do ano! É da internet! Pode baixar… É de grátis!”. As bases são mais groovy e eletrônicas. O destaque é “Pra Bombar no Seu Estéreo”.

O Estilo Foda-se (Segundo Mundo, 2003)

As músicas dos dois primeiros discos agora formam um só CD. As bases ficaram mais secas e ganharam instrumentos adicionais – mas a principal novidade é que agora dá para achar o disco nas lojas…

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