Existem duas conexões diretas entre Beatles, Stones e Guns N’ Roses. Uma é que Lennon e McCartney deram o ponta-pé inicial na carreira de Jagger e Richards, que 27 anos depois salvariam o Guns de um fim prematuro. A outra é que as 3 bandas tiveram biografias lançadas recentemente. Todas saborosas, mas cada uma do seu jeito.
A BIOGRAFIA MAIS DEFINITIVA…
Os Beatles já eram os Beatles em 1963. E os Rolling Stones, só uma banda cover de blues praticamente anônima. Mas isso só até eles gravarem uma música de Lennon e McCartney: I Wanna Be Your Man. John achava a canção medíocre (até por isso a liberou). Só que ela estourou nas paradas na voz de Mick Jagger. Logo depois, os Stones abririam um show dos Beatles. Pronto: essa grudada nos fab four foi o suficiente para os Stones ficarem conhecidos. Essa história está em só 3 das 982 páginas desta biografia, a mais extensa (e densa) sobre a banda. Se você pegar para ler, o sonho vai demorar para acabar.
TRECHO: “Para Paul, era impossível separar-se dos Beatles. Ele tentou tudo para esquecer aquela perda em 1970. Às vezes nem conseguia sair da cama de manhã. ‘Quando eu conseguia, tomava uma bebida assim que levantava’, diz.”
Beatles, a Biografia
Bob Spitz, Larousse, 982 páginas, R$ 99
…A MAIS DIVERTIDA…
Depois da mãozinha dos colegas de Liverpool, os Stones fizeram aquilo tudo que todo mundo sabe. Ou nem todo mundo: boa parte das melhores histórias da banda ainda é novidade até para os fãs xiitas. E estão bem documentadas aqui – principalmente as várias vezes em que Jagger e Richards tiraram férias no Brasil, nos anos 60 e 70, quando passaram por Rio, São Paulo e Bahia. E foram sempre férias bem produtivas: o batuque afro da lavagem da Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador, inspirou Mick, e virou a abertura macumbeira de Sympathy for the Devil. E foi em Matão, interior de São Paulo, que eles dedilharam a suingada Honky Tonk Woman.
Trecho: “Para eles, as fazendas, os cavalos e os vaqueiros de Matão lembravam o Arizona. Daí a levada country da música.”
Sexo, Drogas e Rolling Stones
José Emílio Rondeau, Nélio Rodrigues, 352 páginas, Agir, R$ 50
…E A MAIS ATERRORIZANTE
Os Guns N’ Roses estavam no auge em 1990. No auge da dependência de heroína. Slash, o guitarrista, tomava tantos picos por dia quanto um fumante consome cigarros. Os outros integrantes não ficavam muito atrás. E, sempre chapados, nem se viam mais. Mas aí veio um telefonema dos Stones: “Querem abrir uns shows para a gente?” A convocação entusiasmou a banda, que voltou a tocar junta e, pouco depois, colocaria dois álbuns no topo. Não que as drogas tenham saído de cena, claro. E é aí que está o ponto forte da autobiografia de Slash – um relato honesto sobre o que é viver em função da seringa.
TRECHO: “Já tinha usado minha heroína toda na noite anterior, mas precisava tanto de outra dose que disse que ia dormir um pouco. Aí me piquei, apaguei, e perdi o ensaio dos Stones.”
Slash (inédito em português)
Slash e Anthony Bozza, Harper Collins, 480 páginas, US$ 19 (na Amazon)