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“Xógum” se preocupa em ser historicamente preciso – por mais que seja um drama fictício

O novo drama histórico se passa no Japão feudal. Em entrevista à Super, produção americana afirma ter tido cuidado em representar a cultura – além dos extensos trabalhos de consulta histórica.

Por Leo Caparroz
27 fev 2024, 20h17

“Xógum: A Gloriosa Saga do Japão” acaba de estrear simultaneamente no Star+ e Disney+. A série de dez episódios é um drama histórico ambientado no Japão feudal do século 17, produzida pela FX Productions e inspirada no livro de 1975, do autor australiano James Clavell. A obra original dá um tapa fictício em eventos reais, baseando os personagens em figuras históricas que realmente existiram.

A história acompanha um trio de protagonistas: Yoshii Toranaga (Hiroyuki Sanada), um poderoso daimiô (espécie de governante feudal), em desacordo com seus perigosos rivais políticos; John Blackthorne (Cosmo Jarvis), um capitão inglês que naufraga na ilha, trazendo segredos e informações para abalar as influências locais; e Toda Mariko (Anna Sawai), uma misteriosa tradutora habilidosa, mas com laços familiares desonrosos, que deve provar seu valor e lealdade.

Os dois primeiros episódios já estão disponíveis, e os próximos serão lançados às terças-feiras. A Super conversou com alguns dos envolvidos na série:

Um pouco de história, um pouco de ficção

Para representar a época, a superprodução americana teve um elenco majoritariamente japonês. Além disso, os criadores da série se preocuparam em balancear o fictício e o histórico de maneira respeitosa com a cultura japonesa:

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“Você tem uma enorme responsabilidade em tentar contar uma história que seja o mais fiel possível ao espírito da cultura japonesa”, afirma Rachel Kondo, uma das criadoras da série. “ Foi realmente um exército de artistas, pesquisadores, historiadores, especialistas em movimento e cabelo, maquiagem, figurino. Tínhamos pessoas com conhecimentos especializados basicamente para cada momento que você vê no programa.”

Só que, em alguns casos, não há consenso entre historiadores. Pode ser difícil cravar um selo de “historicamente correto” em alguns costumes menos registrados, como formas de se sentar ou tradições gestuais. Quando batia a dúvida, os criadores deixavam a decisão final para membros japoneses da produção e elenco.

“Tivemos que fazer isso com muito cuidado, porque esta não é a nossa cultura. Como produtores americanos, realmente não seria nossa função opinar. Então, nesses casos, nós contamos com Hiroyuki Sanada, nossa estrela e produtor, por exemplo, para arbitrar”, conta Justin Marks, criador e showrunner da série. “Só eles podem realmente entender se vamos fazer uma escolha que é potencialmente imprecisa, mas que o público japonês espera que seja assim. Foi um equilíbrio muito complicado que nos forçou a confiar na sabedoria de nossos colaboradores.”

E foi exatamente isso que ele fez. Sanada conta que, como produtor, se preocupava muito com a autenticidade dos eventos. Segundo ele, cada pequeno detalhe no set, cada movimento ou posição de cenário pode fazer uma grande diferença na percepção final do espectador.

“A história em si é um entretenimento fictício, mas é por isso que precisávamos torná-lo o mais autêntico possível: para tornar a história e os personagens críveis e depois concentrar-se na história”, afirma. “É importante para o público. Se a cultura estiver incorreta, eles não conseguirão se concentrar na história. É por isso que tento torná-la autêntica.”

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Não foi só a produção que se dedicou a entender a época, os próprios atores consultaram especialistas na história e cultura da época para garantir aspectos historicamente precisos. Cosmo Jarvis afirma que precisou se entender a situação política inglesa no século 17 para se familiarizar com partes históricas relevantes para Blackthorn. Já Anna Sawai relata vários detalhes de comportamento que ela precisou incorporar para dar vida a Mariko: o jeito de andar com o kimono, de se sentar e até de colocar a mão na frente da boca (segundo ela, não se pode mostrar os dedos).

Personagem de Anna Sawai, Toda Mariko, da série "Xógum: A Gloriosa Saga do Japão" (2024).
Toda Mariko (Anna Sawai) interpreta uma misteriosa nobre cristã que é a última em uma linhagem de sucessão desonrada. (FX Networks/Divulgação)

“Sem os consultores não conseguiríamos fazer uma série como essa. Tínhamos todos os tipos de supervisores técnicos, professores de maneirismos, tínhamos pessoas responsáveis por adereços vindas do Japão para dizer exatamente como deveria ser feito. Até mesmo as perucas têm próprio estilo”, diz Sawai.

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“Estávamos constantemente cercados por pessoas que eram especialistas em muitas áreas, não apenas no que diz respeito à cultura japonesa, mas também do ponto de vista de coisas como canhões, guerra e falcoaria”, relata Jarvis. “Havia tantas coisas específicas e muitas vezes esse tipo de coisa que dá legitimidade aos acontecimentos ficcionais”.

Personagem de Cosmo Jarvis. John Blackthorne, da série "Xógum: A Gloriosa Saga do Japão" (2024).
John Blackthorne (Cosmo Jarvis), é um marinheiro inglês que acaba naufragado em praias japonesas. Um estranho para a cultura local, está acostumado à vida nas terras do rei. (FX Networks/Divulgação)

“Não é nosso direito” mexer na cultura dos outros

Dramas históricos costumam balançar bastante no limiar entre a precisão histórica e a liberdade artística. A diferença em Xógum é que os desvios foram feitos com zelo e respeito à cultura original, algo que os criadores insistem ser não só eticamente importante, mas também essencial para uma boa história.

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“Acho que depende da cultura e da era que você está retratando. Falando por mim, como americano, se eu estivesse fazendo um filme sobre o oeste americano e quisesse tomar certas liberdades, sinto que é minha história e cultura e minha permissão de fazer isso. Da mesma forma o inverso: você vê Akira Kurosawa tomar liberdades o tempo todo com peças de época japonesas. É o direito dele. Esse não é o nosso direito”, defende Marks. “É claro que estamos fazendo ficção – não são documentos históricos. Mas é preciso ter muito cuidado com de quem é a cultura que você está tomando liberdades.”

“Em primeiro lugar, estamos contando histórias, certo? Dentro dos limites da minha cultura, eu quero contar a melhor história. Então eu quero utilizar pesquisas e quero utilizar fontes históricas para fazer com que esses componentes apoiem a narrativa, porque isso vai deixá-la melhor”, afirma Kondo. “No entanto, acho que Justin está certo ao dizer que é muito difícil sair de sua cultura e contar essas histórias por conta própria. Por isso tivemos que trazer pessoas do Japão para nos ajudar a fazer isso.”

Para o produtor e ator da série, Hiroyuki Sanada, essa união “Japão e Ocidente” ao longo do desenvolvimento foi muito simbólica – já que a obra também relata do encontro dessas duas culturas:

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“Não só a história, mas a própria criação de Xógum tem uma ótima mensagem, porque a equipe ocidental e a equipe japonesa trabalham juntas. Eles se respeitam, aprendem um com o outro e depois criam esse tipo de história juntos. Tanto a história quanto a criação de Xógum são interligados, e uma mensagem muito forte para o mundo, especialmente agora, eu acredito.”

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