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Como é possível prevenir o câncer

Não há fórmula que garanta que o câncer não vai acontecer. Mas um estilo de vida saudável pode espantar a doença. Ou reduzir seus impactos no organismo.

Texto: Márcia Schuler | Edição de Arte: Caju Design | Design: Andy Faria

“Todos temos um câncer dormindo. Como todo organismo vivo, nosso corpo fabrica células defeituosas permanentemente. É assim que nascem os tumores. Mas nosso corpo é também equipado com múltiplos mecanismos que lhe permitem detectá-los e contê-los.”

Com essas palavras, o neurocientista francês David Servan-Schreiber começa a narrativa de Anticâncer: prevenir e vencer usando nossas defesas naturais (Ed. Fontanar, 2011), e foi também sob esse preceito que ele lutou contra a própria doença.

A teoria é simples: o câncer pode surgir a qualquer momento. O que a gente pode fazer é não criar um ambiente propício para ele se desenvolver – e isso passaria por adotar um estilo de vida saudável.

Servan-Schreiber descobriu que estava com câncer no começo da década de 1990, aos 31 anos. Foi por acaso. Um de seus alunos, que participaria de uma experiência neurológica no laboratório que ele coordenava com outro colega não compareceu, e ele tomou seu lugar na máquina de ressonância magnética.

Olhando as imagens, não teve dúvidas: aquela bola do tamanho de uma noz em seu cérebro era um tumor. Depois de se tratar com quimioterapia e cirurgia, perguntou ao médico que lhe acompanhava o que poderia fazer para ajudar o corpo a se defender para evitar uma recaída. Ouviu que deveria voltar à vida normal, que não existiam dados científicos que permitissem afirmar que se pudesse prevenir que a doença voltasse a aparecer.

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Alguns anos depois, o tumor voltou. Ele encarou uma segunda rodada de quimio, radioterapia e cirurgia. Foi então que o francês decidiu investigar como poderia armar seu corpo contra o câncer. Mudando hábitos alimentares, incluindo exercícios físicos na rotina e criando um “estado de espírito anticâncer”, ele fez do estilo de vida uma bandeira contra a doença.

O autor morreu em julho de 2011, por um novo tumor, quase 20 anos depois do primeiro diagnóstico – que havia lhe dado seis meses de vida. De início, Servan-Schreiber constatou que vivia em um meio totalmente oposto ao ambiente anticâncer que desejava criar – morava nos Estados Unidos e tinha um estilo de vida típico dos países industrializados.

O autor cita o estudo da pesquisadora Annie Sasco, do Centro Internacional de Pesquisa de Câncer da OMS, que mostra que os cânceres de mama, próstata e cólon são encontrados especialmente em países ocidentais, e que há nove vezes mais ocorrências dessa doença nos Estados Unidos e na Europa do Norte do que na China, no Laos ou na Coreia, e quatro vezes mais do que no Japão.

Para chineses que vivem no Havaí ou em São Francisco, as taxas de câncer se aproximaram rapidamente das ocidentais – o que mostraria que os genes asiáticos não são menos propensos à doença. O francês sofreu críticas de seus pares por propagandear métodos naturais cuja eficácia não têm comprovação científica. A verdade é que o autor não abriu mão dos tratamentos tradicionais – ele só adotou um novo estilo de vida que faria a diferença.

Ainda que parte da comunidade médica resista ao termo “prevenção”, ele já consta como recomendação oficial entre órgãos como a Organização Mundial de Saúde, o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o americano National Cancer Institute e o World Cancer Research Fund International.

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<strong>Servan-Schreiber constatou que tinha um estilo de vida típico dos países industrializados.</strong>
Servan-Schreiber constatou que tinha um estilo de vida típico dos países industrializados. (Marc DEVILLE/Getty Images)

Um levantamento feito por este último em nível global aponta que cerca de um terço dos tipos mais comuns de câncer podem ser prevenidos com dieta balanceada, peso saudável e atividades físicas regulares.

Segundo o Inca, de todos os casos no Brasil, entre 80% e 90% estão associados a fatores ambientais – o meio em geral (água, terra e ar), o ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins), o ambiente de consumo (alimentos, medicamentos) e o ambiente social e cultural (estilo e hábitos de vida).

É claro que não é possível estabelecer uma relação causa-efeito diretamente – por exemplo, não dá para dizer que, se um homem comer só tomate, não terá câncer de próstata – mas também não se pode estabelecer que, se fumar, certamente terá câncer de pulmão.

A maioria das evidências envolvendo a prevenção vem de estudos epidemiológicos observacionais – ou seja, se constata que em um grupo de pessoas com determinados hábitos há mais ou menos casos de câncer – e estudos sobre componentes alimentares específicos em laboratório. É que o desenvolvimento de um câncer, em geral, tem muitas causas e é impossível isolar um fator e dar a ele o status de culpado.

A alimentação é o ponto-chave para Servan Schreiber – e para as organizações de saúde também. Entre os alimentos anticâncer listados por ele estão chá-verde, cúrcuma, azeite de oliva, gengibre, alho, cebola, entre outros. Muitos estudos mostraram a eficiência desses alimentos – e tantos outros os desacreditaram.

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Ainda assim, alguns marcam presença nos cardápios sugeridos por nutricionistas de centros de referência de tratamento do câncer no Brasil, como o A.C. Camargo Câncer Center e o Instituto do Câncer de São Paulo. Não existe dieta milagrosa, nem um só alimento que concentre todos os benefícios necessários para a prevenção de doenças. Mas mal não vai fazer.

A sina de Napoleão e Angelina

Há cânceres impressos no nosso DNA – ainda bem que eles correspondem a apenas 10% dos casos. Em 2013, a hollywoodiana Angelina Jolie anunciou que havia retirado as duas mamas saudáveis.

O motivo: os médicos estimaram que a atriz tinha 87% de chance de desenvolver câncer de mama.Por ter casos na família, ela havia passado por uma avaliação genética que identificou uma falha no gene BRCA1, um dos responsáveis pela doença.

Casos como o dela são conhecidos como síndrome hereditária de câncer de mama e ovário. Segundo o National Cancer Institute, as estimativas apontam que de 55% a 65% de mulheres que herdam mutações no BRCA1 terão câncer de mama, e 39% desenvolverão câncer de ovário. Para as que herdam falhas no BRCA2, a chance é de 45% para a neoplasia mamária e de 11% a 17% em relação aos tumores ovarianos.

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Napoleão Bonaparte não teve a mesma sorte de descobrir antes o que poderia acontecer. Pesquisas recentes com base no histórico clínico, no relatório original da autópsia e documentos históricos mostram que o câncer gástrico é a causa de morte mais provável – o avô, o pai, o irmão Lucien e três de suas irmãs teriam morrido pelo mesmo motivo.

A síndrome do câncer gástrico difuso hereditário é rara, mas, de acordo com a American Cancer Society, as chances de pessoas portadoras dos genes perigosos desenvolverem câncer de estômago fica entre 70% e 80%. Mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, os vilões do câncer de mama, também aumentam as chances de câncer gástrico. Na verdade, a maioria dos genes responsáveis por essas doenças também está relacionada a outros tipos de câncer.

PRATO ANTICÂNCER

Encher o prato de alimentos saudáveis pode ajudar a evitar a doença.

Proteína animal

<strong>Peixe, carne orgânica, ovos orgânicos enriquecidos de ômega-3, laticínios: as gorduras boas podem até potencializar os efeitos do tratamento.</strong>
Peixe, carne orgânica, ovos orgânicos enriquecidos de ômega-3, laticínios: as gorduras boas podem até potencializar os efeitos do tratamento. (Photo/iStock)

Ervas e condimentos

<strong>Cúrcuma, hortelã, tomilho, alecrim, alho têm propriedades anti-inflamatórias.</strong>
Cúrcuma, hortelã, tomilho, alecrim, alho têm propriedades anti-inflamatórias. (Photo/iStock)

Lipídios

<strong>Azeite de oliva, óleo de canola ou linhaça, manteiga com ômega-3: eles podem retardar o crescimento do tumor.</strong>
Azeite de oliva, óleo de canola ou linhaça, manteiga com ômega-3: eles podem retardar o crescimento do tumor. (fcafotodigital/Getty Images)

Cereais

<strong>Pão multigrãos, arroz integral: as fibras regularizam o funcionamento do intestino, reduzindo o tempo de contato de substâncias cancerígenas com a parede intestinal.</strong>
Pão multigrãos, arroz integral: as fibras regularizam o funcionamento do intestino, reduzindo o tempo de contato de substâncias cancerígenas com a parede intestinal. (Photo/iStock)

Legumes, frutas, proteínas vegetais

<strong>Lentilha, ervilha, feijão, tofu: ricos em fibras, têm os mesmos efeitos dos cereais.</strong>
Lentilha, ervilha, feijão, tofu: ricos em fibras, têm os mesmos efeitos dos cereais. (Photo/iStock)

Teste genético para quem?

O câncer é uma doença genética, mas não necessariamente hereditária.

No entanto, nossos genes podem explicar por que algumas pessoas são mais suscetíveis a determinados cânceres do que outras. Aí entram os testes genéticos, que avaliam determinados genes e analisam a probabilidade de um indivíduo ter uma doença. Desde o sequenciamento do genoma, nos anos 2000, a ciência se dedica a identificar marcadores genéticos relacionados a doenças.

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A American Cancer Society indica que apenas pessoas com histórico familiar se submetam a eles – ou mediante orientação médica –, para evitar uma sensação de “falsa segurança”: não ter os genes não impede a pessoa de desenvolver um câncer eventualmente. Os critérios são:
• Ter dois ou mais parentes de primeiro grau com câncer – especialmente se for o mesmo tipo de tumor;
• Casos na família de cânceres que podem ser relacionados a uma mutação de um gene específico – como pode ocorrer no câncer de mama;
• Ter parentes que tiveram câncer mais jovens do que o esperado para o tipo de doença;
• Apresentar familiares que tiveram cânceres raros, ligados a síndromes de câncer hereditário;
• Se um membro da família já se submeteu a um teste genético e apresentou alguma mutação.

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