As oferendas servem tanto para fazer pedidos como para agradecer. Entenda como elas funcionam.
Texto: Tiago Cordeiro | Edição de Arte: Estúdio Nono
Design: Andy Faria | Consultoria: Instituto Cultural Aruanda
uem nunca viu uma garrafa de cachaça aberta na encruzilhada levanta a mão. Os despachos podem assustar, mas são um dos jeitos mais eficientes de entrar em contato com os orixás. O princípio é simples: o fiel leva um presente, em agradecimento ou para pedir algo em troca. Os seguidores das religiões afro, aliás, não gostam do termo “despacho”, preferem falar em “entregas”.
Existem diferentes entregas, para os mais variados objetivos: fazer uma limpeza energética em alguém, criar uma atmosfera positiva num determinado lugar, ou mesmo anular alguma magia negativa. Para cada objetivo, agrada-se a um ser espiritual diferente. E, para cada ser, o lugar para fazer a entrega varia.
Encruzilhadas, por exemplo, são usadas para fazer oferendas a Exu e Ogum. O mar é território de Iemanjá, assim como as cachoeiras pertencem a Oxum. A depender da entidade, também pode-se procurar por matas, pedreiras, montanhas ou rios.
Contato imediato
Fazer uma entrega é uma forma de se comunicar com as entidades.
• Concentração – O devoto precisa estar sóbrio, de banho tomado e vestindo branco. No caminho até o local onde a entrega será feita, deve-se rezar ou meditar e, claro, evitar estresse. A concentração ajuda. Na maior parte dos casos, o despacho deve ser feito durante a luz do dia.
• Os donos do lugar – Se o delivery for numa mata, por exemplo, já na entrada fica-se de joelhos e pede-se licença aos guardiões espirituais do local, a quem se oferece pinga, charuto e vela preta. Com isso o fiel estará protegido.
• A escolha do point – O fiel anda devagar pela mata, em silêncio até achar uma árvore grande. Limpa o lugar e forra o chão com folhas. No caso de Oxóssi, por exemplo, ele aceita cerveja clara, três charutos, incenso, flores, sete velas verdes e frutas, além do axoxó.
• Decoração caprichada – A oferenda deve ser cuidadosamente montada, combinando as frutas partidas por tamanho e cor, numa espécie de mandala. Enquanto reza, o religioso dispõe as velas em círculo, ao redor da entrega. Os charutos são baforados três vezes. Ao terminar, o adepto encosta a cabeça no chão.
• Sustentabilidade – A oração só acaba quando as velas terminam de queimar, pelo menos 30 minutos depois. Então, recolhem-se os recipientes usados e a parafina escorrida. Tudo o que não é orgânico deve ser retirado, para não agredir a natureza. Só então o fiel pode ir embora, mantendo a concentração no pedido.