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O céu é o limite

O universo dos aviões particulares não é só glamour e ostentação. Mas o que enche mesmo os olhos é a opulência dos jatinhos e jatões.

Texto: Ricardo Lacerda | Edição de Arte: Inara Pacheco | Design: Andy Faria

I

magine um palacete de dois andares onde é possível receber confortavelmente 89 convidados. Os ambientes são decorados em tons de branco e bege, em estilo art déco. Há uma suíte master, quarto de hóspedes, várias cozinhas, lounges e salas de jantar. A mansão tem dez banheiros e conta até com uma UTI para emergências.

Quer mais? Ela voa a 914 quilômetros por hora e pode te levar a praticamente qualquer lugar do mundo quando você bem entender. Basta desembolsar algo em torno de R$ 2,6 bilhões (US$ 500 milhões) e o Boeing 747-8i da família real do Catar será todo seu.

Em operação desde 2015, o brinquedinho foi colocado à venda em julho com apenas 1.100 horas voadas. Isso é praticamente um avião zero-quilômetro. Apesar de ser apontada como a mais luxuosa do planeta, a aeronave não fará falta à realeza. Os xeiques são donos de uma empresa de aviação privada que atende apenas autoridades do país, amigos e familiares.

É a Amiri Flight, que tem em sua frota uma dúzia de aviões igualmente deslumbrantes, como outros dois 747-8i e alguns Airbus A340, A330 e A320. Em 2018, os catarianos chegaram a doar outro majestoso 747-8i ao governo da Turquia – uma forma de agradecimento ao apoio recebido em disputas políticas na região.

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<strong>Boeing 747-8i da Amiri Flight, da família real do Catar: modelo está à venda por US$ 500 milhões.</strong>
Boeing 747-8i da Amiri Flight, da família real do Catar: modelo está à venda por US$ 500 milhões. (Jetlinerimages/Getty Images)

Foi apenas no fim dos anos 1990 que as duas maiores fabricantes de aeronaves do mundo criaram divisões independentes para atender à aviação executiva. Antes, os aviões da Boeing e da Airbus eram destinados essencialmente a companhias aéreas.

A Boeing Business Jet, conhecida como BBJ, começou adaptando a bem-sucedida série 737. Depois, lançou versões VIP do 787 e do 747-8, tal qual o dos ricaços do Catar. Já a Airbus Corporate Jets, ou ACJ, iniciou sua produção sobre a base dos A-319. E não demorou para que encontrasse bilionários interessados em seu superjumbo, o A380.

Em 2007, o príncipe saudita Alwaleed bin Talal se tornou o primeiro proprietário particular do maior avião comercial do planeta. Com dois andares e 550 metros quadrados de área útil, o A380 pode levar mais de 800 passageiros quando operado por companhias como a Emirates Airlines. Obviamente não seria esse o caso de Bin Talal, já que a customização previa caprichos como lugar para dois Rolls-Royce e vários cavalos. O negócio foi avaliado em US$ 500 milhões, incluindo adaptações e decoração.

Mas não rolou como esperado. Principal acionista individual do Citigroup, o príncipe viu sua fortuna encolher na crise de 2008. E ele se enrolou para pagar o avião, que nem chegou a usar. No fim, o jatão acabou revendido em 2012. Mas tudo bem, pois o (ainda) ricaço possuía outras aeronaves – entre elas, um BBJ 747 comprado por cerca de US$ 220 milhões.

“No Oriente Médio, onde o dinheiro sai pelo cano, é mais comum encontrar essas aeronaves. Na Europa, isso é bem mais moderado”, diz Flávio Pires, presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral (ABAG). “No Brasil, conheço apenas o BBJ do Banco Safra e o AeroLula.”

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AeroLula é o apelido dado ao Santos-Dumont, avião presidencial comprado em 2003 pelo governo para substituir o Boeing KC-137, o famoso Sucatão, que peleava na ativa desde 1986. Na época da compra, a oposição não poupou críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que o Airbus ACJ-319 havia consumido US$ 56 milhões dos cofres públicos. Apesar da grita, o avião continuou sendo usado pelos seus sucessores, inclusive Jair Bolsonaro.

Mesmo para quem está habituado a frequentar aeroportos, não é comum dar de cara com aviões da magnitude de um Boeing ou Airbus VIP. Em geral, aeronaves privadas de grande porte são usadas por chefes de Estado, megacorporações e alguns poucos ultrarricos. Nem empresários, artistas e atletas donos de polpudas contas bancárias costumam se esbaldar em tamanho luxo. No Brasil, a nata dos proprietários privados de aeronaves opta mesmo é por jatinhos.

<strong>Cabine do Challenger 350, da Bombardier: supermédio para até 8 passageiros custa mais de US$ 26 milhões.</strong>
Cabine do Challenger 350, da Bombardier: supermédio para até 8 passageiros custa mais de US$ 26 milhões. (Bombardier/Divulgação)

Alguns famosos são os empresários Jorge Paulo Lemann, Abílio Diniz, Carlos Jereissati e João Apolinário. O governador de São Paulo, João Doria, é outro que tem um avião para chamar de seu.

Assim como os cantores Roberto Carlos, Claudia Leitte e Ivete Sangalo. Entre as marcas mais recorrentes no mercado de jatinhos estão Embraer, Dassault, Gulfstream e Cessna. Os preços? Novinhos em folha começam em US$ 10 milhões, mas podem passar dos US$ 70 milhões, dependendo de modelo, alcance, composição e outros atributos.

Nem tudo é jatinho

A aviação executiva é um segmento formado por empresas de táxi aéreo, indivíduos e organizações que possuem aeronaves particulares. Na maioria das vezes, elas operam em rotas distintas daquelas atendidas pelas companhias aéreas. Ainda que a denominação seja conhecida há décadas, nos últimos tempos o mercado vem sofrendo uma repaginada.

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“A gente não usa muito o termo aviação executiva porque causa confusão, traz uma elitização exagerada. Chamamos de aviação de negócios, já que a maior parte da ação está ligada a atividades econômicas”, explica Pires, da ABAG.

A entidade calcula a existência de 16 mil aeronaves no país – que possui a segunda maior frota do mundo, atrás apenas dos EUA. O detalhe é que somente 770 são jatinhos, o que significa menos de 5% do total. Ou seja, 95% da base nacional é formada por aviões mais simples, movidos por motor a pistão, turboélices e helicópteros.

Possuir um jato exige bem mais do que o investimento de compra. É preciso considerar gastos regulares com contratação de pilotos, combustível, manutenção e hangar.

Um Phenom 300, da Embraer, por exemplo, carrega nove passageiros e custa cerca de US$ 9 milhões. Voando ou não, o dono é obrigado a fazer manutenções por calendário, além da inspeção anual de manutenção, que somadas custam R$ 20 mil. Já o valor de hangaragem, em Congonhas, não sai por menos de R$ 45 mil mensais, enquanto o seguro consome em média de R$ 20 mil por mês.

A essa altura, você que sempre sonhou em ter um jatinho pode estar revendo seus planos. Pois saiba que há vantagens em aeronaves mais simples. Uma delas é a facilidade para pousar e decolar em pistas, por assim dizer, desafiadoras.

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Para se ter ideia, o Brasil conta com 580 aeroportos, sendo apenas 142 atendidos pelas companhias aéreas. Já o número de aeródromos passa de 2,5 mil, o que inclui pistas públicas e privadas, muitas das quais nem sequer são asfaltadas. Outro ponto positivo está no custo quase sempre mais baixo – tanto de compra quanto de manutenção e gasto de combustível.

Na prática, é a aviação de negócios que leva gente como empresários, fazendeiros e investidores a localidades não atendidas pelas linhas aéreas comerciais. Ou artistas para shows em cidades sem infraestrutura aeroportuária.

“No passado, a aviação executiva era um negócio muito ligado ao luxo, mas temos de pensar que otimizar tempo, hoje, é um luxo. Não tem fila, burocracia, check-in, despacho de bagagem”, explica Bruna Assumpção Strambi, diretora da Líder Aviação, que conta com uma frota de 60 veículos – incluindo helicópteros.

<strong>Phenom 300E, da Embraer, é o jato executivo mais vendido do mundo.</strong>
Phenom 300E, da Embraer, é o jato executivo mais vendido do mundo. (Embraer/Divulgação)

Fundada pelo avô de Bruna em 1968, a Líder atua em táxi aéreo, gestão de frota, manutenção, consultoria e venda de aeronaves. Atenta a um novo perfil de consumidor, a empresa possui um aplicativo para fretamento de voos online. Pelo smartphone, o cliente escolhe detalhes como leitura de bordo, cardápio e equipe de comissariado.

Caso a ideia não seja alugar uma aeronave inteira, é possível comprar um assento num voo predeterminado. Quando esse tipo de operação não envolve aviões da frota própria da Líder, o dono da aeronave recebe parte do valor e pode abatê-lo do contrato de gestão e manutenção.

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Novidades assim tendem a facilitar o acesso e a reduzir os custos da aviação de negócios no Brasil. “Faltava um jeito mais fácil de contratar serviço de táxi aéreo”, afirma Paul Malicki, CEO da Flapper, ao explicar por que lançou a empresa, em 2016.

A Flapper funciona como um marketplace de voos em aviões e helicópteros de parceiros. Na prática, a plataforma é conhecida como uma espécie de Uber Black dos céus. “Operamos desde aeronaves de pequeno porte, tipo Caravan, até aviões como Boeing 737. Mas a nossa especialidade são jatinhos de capacidade de quatro a dez pessoas, além dos helicópteros”, diz Malicki.

Um trecho de São Paulo a Angra dos Reis, por exemplo, custa menos de R$ 1 mil o assento. Já viagens internacionais, envolvendo fretamento completo, podem custar desde R$ 100 mil, do Sudeste para o Uruguai ou Argentina, até R$ 1,5 milhão, caso seja um voo fechado para a Europa, numa aeronave de alto luxo. E aí, vai embarcar?

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