Ele é barato, econômico e não queima nunca. Está em todos os lugares. Mas vai ganhar uma nova geração, ainda melhor – que fará você trocar a TV e as lâmpadas da sua casa.
Texto Tiago Cordeiro Ilustração Otavio Silveira Design Estúdio Nono Edição Bruno Garattoni
Oleg Losev nasceu na época errada. Sua família fazia parte da nobreza da Rússia, e o pai era capitão no exército imperial do czar. Quando Losev terminou o ensino médio, em 1920, a revolução comunista já tinha feito dele um pária – não era aceitável que um filho da antiga aristocracia galgasse postos elevados. Por isso, ele não pôde cursar faculdade. Conseguiu emprego como técnico do primeiro laboratório de rádio do governo soviético, instalado em Nizhny Novgorod, 400 quilômetros a leste de Moscou. Foi obrigado a se mudar para São Petersburgo em 1937; e morreu de fome (literalmente) durante o cerco alemão à cidade, em 1942, durante a 2a Guerra. Tinha 38 anos e ao longo de uma vida discreta de pesquisas havia inventado, sozinho, uma tecnologia que transformaria o planeta: o LED.
Autodidata, Losev escreveu uma série de artigos sobre um tal “diodo emissor de luz”. O primeiro deles, publicado em 1927 pelo jornal Telegrafiya i Telefoniya bez Provodov (russo para “Telegrafia e Telefonia sem Fio”), descrevia uma descoberta intrigante: se você jogasse uma corrente elétrica em diodos de óxido de zinco e carbeto de silício, peças usadas nos aparelhos de rádio da época, os componentes emitiam luz. Os diodos são componentes eletrônicos extremamente simples, que têm apenas uma função: só deixam passar eletricidade em uma direção. Losev não entendia como eles podiam emitir luz.
Ele recorreu às teorias de Albert Einstein para tentar explicar o fenômeno – chegou a escrever para o físico alemão pedindo orientação, mas não recebeu resposta. Alguns textos de Losev até chegaram a ser publicados na Alemanha e na Inglaterra, mas acabaram esquecidos no caos da 2a Guerra Mundial. Seria necessário esperar mais duas décadas até que o misterioso diodo emissor de luz fosse redescoberto. E outras três até que ele começasse a dominar o planeta.
Do vermelho ao azul
Hoje o LED está em todo lugar: até onde você não vê, como nas fibras ópticas usadas para transmitir os dados de internet entre os continentes. Segundo a empresa de pesquisas Allied Market Research, o mercado mundial de LED deve crescer 15,9% ao ano, em média, até alcançar US$ 96,7 bilhões anuais, em 2024. Mas, em que pesem os esforços de Oleg Losev, o LED só decolou mesmo graças aos americanos. Essa história começa em 1961, quando os engenheiros elétricos James Biard e Gary Pittman, da Texas Instruments, criaram um circuito de arsenieto de gálio: um material que, estimulado por corrente elétrica, produz luz infravermelha.
No ano seguinte, também nos EUA, quatro times de pesquisadores inventaram circuitos semelhantes. O chefe de um desses times ficou com a fama de pai do LED: Nick Holonyak Jr., engenheiro e pesquisador da General Electric. Seu grande avanço foi criar um LED que emitia luz visível (a infravermelha é invisível a olho nu). Mas havia um problema: a única cor que esse LED emitia era… vermelho. Ainda não servia para fazer lâmpadas – no começo, os LEDs só eram usados nos painéis de aparelhos eletrônicos.
Dez anos depois, um ex-aluno de Holonyak, chamado M. George Craford, criou o primeiro LED amarelo. Conseguiu isso mudando os ingredientes do LED. “O verde, por exemplo, é gerado a partir da combinação de gálio, índio e nitrogênio, enquanto o fósforo é essencial para o amarelo”, explica Fernando Dalmolin, engenheiro da fabricante de lâmpadas Taschibra. Os materiais podem variar, mas o princípio básico envolvido é sempre o mesmo: a eletroluminescência. Os elétrons do material são excitados, e liberam energia na forma de fótons, ou seja, partículas de luz.
1 Uma corrente elétrica entra no circuito.
2 Ela chega até o chip, que pode ser feito de gálio, índio ou fósforo, entre outros materiais.
3 Os elétrons do chip são excitados e liberam energia na forma de fótons: partículas de luz.
Em 1972, na Universidade Stanford, surgiu o primeiro LED azul, feito com nitreto de gálio. E o que pode parecer só mais uma cor foi o salto definitivo – que permitiria, muito tempo depois, construir as lâmpadas que você tem em casa hoje. Nos anos 1980, os cientistas japoneses Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura desenvolveram uma versão mais estável dos cristais de nitreto de gálio. E foi isso que tornou possível, finalmente, desenvolver as primeiras lâmpadas de LED com luz branca – é que o verde e o amarelo já estavam bem desenvolvidos, mas o azul continuava sendo um problema. E ele era necessário para combinar com as outras duas cores e, assim, gerar o branco. A invenção rendeu aos três o Prêmio Nobel de Física de 2014. As lâmpadas LED para uso doméstico geralmente são brancas, mas também existe outra versão, mais amarelada, que imita o tom das antigas lâmpadas incandescentes. Ela deixa qualquer casa mais aconchegante, mas é bem mais difícil de encontrar nas lojas. Não existe nenhum motivo tecnológico para isso: é uma demanda de mercado mesmo. “O brasileiro não se interessa pelas lâmpadas amarelas, e os lojistas preferem apostar no branco”, diz Dalmolin.