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Abandono do padrão-ouro

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h21 - Publicado em 26 Maio 2012, 22h00

Ricardo Torrico e Eduardo Lima

Erro – Emitir dinheiro para custear os gastos da 1ª Guerra Mundial, a partir de 1914, depois de passar décadas lastreando a moeda em reservas do metal precioso.

Quem – EUA, Reino Unido, França e Alemanha, entre outros.

Quando – A partir de 1914.

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Consequências – Processos hiperinflacionários, como o vivido pelos alemães na primeira metade dos anos 20, e desequilíbrio monetário que ajudou a provocar a crise de 1929.

Entre 1815 e 1914, a economia global esteve alicerçada no chamado padrão-ouro. Ou seja: o valor da moeda de cada país correspondia às reservas do metal precioso que ele mantinha. Era como se cada moeda nacional fosse meramente um nome para um determinado peso em ouro. Exemplos: o valor de um dólar equivalia a 1/20 de uma onça de ouro; o valor de uma libra esterlina era igual a um pouco menos de ¼; e assim por diante. Em parte, foi graças ao padrão-ouro que o mundo viveu, nesse período, uma forte expansão econômica marcada por estabilidade inflacionária e comércio recorde entre os países ricos, já que a moeda de cada um deles “valia ouro”.

Em 1914, no entanto, estourou a 1ª Guerra Mundial, e as potências econômicas mandaram às favas o padrão-ouro, pois precisavam emitir dinheiro – independentemente do lastro no metal – para financiar os altos custos do conflito. Daí em diante, as coisas degringolaram.

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Desvalorização

Quem mais se deu mal com o fim do padrão-ouro foi a Alemanha, grande derrotada na 1ª Guerra. Ao final do conflito, a quantidade de dinheiro em circulação no país havia quadruplicado e os preços tinham subido mais de 140%. Mas o pior ainda estava por vir: como perdedores, os alemães foram obrigados a pagar altas indenizações aos vencedores – cerca de 33 bilhões de dólares em ouro ou moeda estrangeira, já que o marco valia menos a cada dia.

As reservas do metal, que já tinham sido dilapidadas para financiar a guerra, praticamente se esgotaram. E a emissão de notas sem qualquer tipo de lastro tornou-se inevitável. Cinco anos depois, em dezembro de 1923, o Banco Central alemão já tinha emitido 496,5 quintilhões de marcos, fazendo que cada cédula valesse apenas um trilionésimo do que valia em ouro em 1914.

A desvalorização era impressionante. Um dólar valia 4,2 trilhões de marcos. “A hiperinflação alemã foi provocada precisamente porque o governo não tinha como voltar ao padrão-ouro”, diz André Villela, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio). “Se a Alemanha tivesse condições de fazê-lo, os índices inflacionários provavelmente não teriam explodido dessa forma.”

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Crise de 1929

Nos EUA, no Reino Unido e na França, principais vencedores da 1ª Guerra, o padrão-ouro foi readotado tão logo encerrado o conflito. Os britânicos voltaram a conviver com um cenário de deflação a partir de 1925. Para os americanos, no entanto, a expansão monetária durante a guerra e nos anos seguintes ao seu encerramento foi boa. Boa até demais. O crescimento econômico desordenado foi um dos fatores que levariam à crise de 1929, quando a Bolsa de Valores de Nova York – que, àquela altura, já era a mais importante do planeta – simplesmente quebrou e empurrou o mundo todo para dentro do pior e mais longo período de recessão econômica do século 20.

Mas, se um dia o padrão-ouro serviu para regular o valor entre as moedas, hoje ele parece não fazer mais sentido, dada a complexidade dos mercados globais. “No fundo, esse era um sistema imbecil”, escreve o jornalista Alexandre Versignassi em Crash – Uma Breve História da Economia (Ed. Leya). “É só pensar: manter o padrão-ouro consistia em desenterrar o metal em uma mina, num grotão qualquer, para enterrá-lo de novo nos cofres dos bancos. (…) Era o planeta inteiro mobilizando uma força soberba de trabalho para minerar e transportar o metal. Tudo com a única função de fazer as pessoas acreditarem que o dinheiro de papel que elas carregavam não era só papel.”

Hiperinflação alemã
Entre 1922 e 1924, qualquer coisa custava trilhões de marcos.

• No auge da hiperinflação, em outubro de 1923, eram necessários 5,6 trilhões de marcos alemães para comprar 1 quilo de manteiga.

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• Nesse momento, o índice inflacionário chegou ao ápice, com taxa de 29.500% ao mês, ou 20,9% ao dia.

• O preço de quase tudo dobrava, em média, a cada 3 dias e 7 horas.

• Entre agosto de 1922 e novembro de 1923, a taxa de inflação acumulada na Alemanha passou de 1.000.000.000.000% (um trilhão por cento).

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• No fim de 1923, eram necessários 726 bilhões de marcos para se comprar algo que, em 1919, custava apenas um marco.

• De 1923 a 1924, o Banco Central alemão foi obrigado a emitir cédulas de 100.000.000.000.000 (100 trilhões) de marcos.

A pior da história

Um estudo desenvolvido pelo economista Steve Hank, professor da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, aponta a hiperinflação ocorrida na Hungria em 1946 como a pior da história. Segundo Hank, os preços aumentavam a uma taxa de 195% ao dia – quase 10 vezes maior que a registrada no ápice do processo hiperinflacionário vivido pela Alemanha em 1923. Um dos principais fatores que levaram à hiperinflação húngara, assim como à alemã, foi a impressão de dinheiro sem qualquer tipo de controle.

Valor intrínseco
O ouro sempre foi o preferido nas relações comerciais

Ao longo de toda a história da humanidade, o ouro sempre foi escolhido como meio de troca por causa, sobretudo, de sua raridade (o que lhe atribui maior valor em relação a outros metais). Mas a opção pelo metal não se deveu apenas a essa característica. Além de mais raro que os demais, ele é bonito, brilhante, imune à corrosão e fácil de ser derretido e moldado. Nos primórdios da civilização, os sacerdotes da Babilônia acreditavam existir uma estreita relação entre o ouro e o Sol. Mas foi o rei Croesus da Lídia, uma região da atual Turquia, que pela primeira vez cunhou moedas do metal com sua insígnia, por volta de 560 a.C. A partir daí, ouro virou dinheiro, auxiliando comerciantes na realização de seus negócios. Estima-se que, nos últimos 6 mil anos, tenham sido mineradas cerca de 125 mil toneladas de ouro no mundo todo.

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