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Aromas em frascos de 3,4 mil anos revelam banquete funerário da “elite” egípcia

Cientistas investigaram o interior de frascos fechados dentro da tumba de um casal para descobrir quais alimentos estavam guardados lá. Confira.

Por Luisa Costa
Atualizado em 26 jul 2022, 13h49 - Publicado em 6 abr 2022, 17h03

O mestre de obras Kha e sua esposa Merit foram sepultados há mais de 3,4 mil anos com tudo o que tinham direito. Entre os mais de 440 objetos encontrados junto ao rico (e mumificado) casal egípcio, havia potes de comida que ainda guardam, cada um, cheiros específicos. Agora, cientistas investigaram esses aromas para descobrir os segredos da tumba.

Chamada de Tumba de Kha ou TT8, ela foi encontrada em 1906, na necrópole Deir el-Medina (na cidade egípcia de Luxor), pelo italiano Ernesto Schiaparelli. Na época, Ernesto era diretor do Museu Egípcio da Itália, em Turim – e foi para lá que o conjunto funerário foi levado para exibição. (Você pode até conferi-lo neste tour virtual do site do museu.)

Das pessoas que não pertenciam à realeza, esse é o conjunto mais abundante e bem preservado já encontrado no Egito, com móveis, ferramentas, tecidos e cerâmicas diversas – algumas com alimentos, promovendo os tradicionais banquetes funerários.

É comum que arqueólogos encontrem tumbas com pães, azeite, carnes, verduras e outros alimentos que acompanhavam as múmias – para eles, também seria necessário comer no pós-vida, afinal. A egiptóloga Joyce Tyldesley, da Universidade de Manchester (Inglaterra), explica essas tradições dizendo que os antigos egípcios eram “obcecados com a vida”. “Eles queriam viver a melhor vida que pudessem. E queriam que isso continuasse após a morte.”

Não se sabia ao certo quais alimentos estavam guardados na TT8. Para descobrir, uma equipe de químicos e arqueólogos analisou 46 objetos – ânforas, jarros e pequenas tigelas. Eles estão bem preservados, porque, na época da descoberta da tumba, as investigações foram limitadas a fim de deixar a maior parte do conjunto funerário intocado.

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Agora, os cientistas recorreram a uma abordagem não invasiva, para manter a conservação dos materiais. Para isso, a equipe colocou os artefatos dentro de sacos plásticos selados por vários dias, para coletar moléculas de compostos orgânicos ainda existentes. 

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Em seguida, os cientistas usaram um espectrômetro de massa portátil, um instrumento que permite identificar moléculas medindo sua massa e caracterizando sua estrutura. Assim, eles detectaram os componentes dos aromas de cada frasco.

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Um dos frascos encontrados sendo analisálido por um espectrômetro de massa.
Os cientistas analisaram os aromas dentro dos frascos selados, para não danificá-los. (J. La Nasa et al./J. Archaeol. Sci/Divulgação)
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“Dois terços dos objetos deram alguns resultados, foi uma surpresa muito boa”, afirma Ilaria Degano, uma das autoras do estudo publicado no Journal of Archaeological Science. De acordo com as moléculas encontradas nas amostras, cera de abelha, frutas e peixe seco estavam possivelmente presentes no banquete de Kha e Merit.

A análise de aromas ainda é uma área pouco explorada da arqueologia, e as descobertas do estudo vão alimentar mais pesquisas para analisar o conteúdo da TT8, revelando mais sobre as tradições funerárias e costumes alimentícios daqueles que viveram, como este casal egípcio, durante a segunda metade da 18ª dinastia (entre cerca de 1450 e 1400 a.C.).

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