Assírios
Os inventores do exército profissional, com divisões especializadas e tropas que jamais se desmobilizavam
Tiago Cordeiro
O primeiro grande império da história foi deles. Originários do norte da Mesopotâmia (região que hoje corresponde ao Iraque), os assírios começaram a expandir seus domínios a partir do primeiro milênio antes de Cristo. E chegaram a controlar uma vastidão territorial que ia até o Egito. O segredo? Um exército profissional, que também foi o primeiro de que se tem notícia. Entre os séculos 9 a.C. e 6 a.C., praticamente todos os povos vizinhos conheceram – em maior ou menor grau – a força dessa máquina de guerra. “Os assírios inventaram o exército hierarquizado e com divisões especializadas, composto por homens dedicados exclusivamente a lutar por seu povo”, diz Karen Radner, professora de História Antiga da University College London, na Inglaterra. O rei em pessoa era o general supremo – e encarava o campo de batalha.
Os soldados assírios, segundo Karen, eram especialmente bons em pelo menos 3 quesitos: organização, disciplina e brutalidade. Tinham armas poderosas, como carros de guerra puxados por até 4 cavalos e capazes de levar 3 combatentes além do condutor. Quando as carruagens encontravam um rio pela frente, não havia problema: as tropas inflavam balsas feitas com couro de ovelha e faziam a travessia. Nenhum outro povo dispunha de tecnologia parecida. A quantidade de homens também impressionava: no auge, o exército assírio chegou a ser formado por 150 mil guerreiros. Nas maiores batalhas, até 50 mil podiam ser mobilizados.
A Bíblia registra dois grandes conflitos militares contra os israelitas, ambos supostamente ocorridos no século 8 a.C. – época em que os assírios já entravam em decadência (leia mais das págs. 53 e 54). A batalha que marcou o declínio definitivo dessa civilização, no entanto, só seria travada no século 7 a.C. e contra outro povo: os medo-persas. Eles não só derrotaram os rivais em Harã, no ano de 612 a.C., como aproveitaram o embalo e destruíram sua capital , Nínive.
2 REIS 19:35-36
Ora, nessa mesma noite o anjo do Senhor apareceu no campo dos assírios e feriu 185 mil homens. No dia seguinte pela manhã só havia cadáveres. Senaquerib, rei da Assíria, retirou-se, tomou o caminho de sua terra e deteve-se em Níneve.
RETAGUARDA
Chamados zuk shepe, os guardas de infantaria formavam as tropas de retaguarda do exército assírio no início do século 8 a.C. Eles não usavam armaduras. Além do escudo, feito de couro com acabamentos de bronze, a única proteção era o capacete de ferro – em forma de cone, para aliviar o impacto de golpes desferidos de cima para baixo contra a cabeça.
LINHA DE FRENTE
Esses eram os soldados mais bem protegidos: usavam armaduras com lâminas de bronze costuradas sobre um colete de couro – novidade introduzida no reinado de Tiglath-Pileser 3º (745 a.C. a 727 a.C.). Os guerreiros da linha de frente geralmente eram integrantes do chamado kisir sharutti: o exército permanente, formado por tropas que jamais eram desmobilizadas.
INFANTARIA
Um pouco mais tarde, por volta de 700 a.C., os soldados de infantaria passaram a proteger os pés usando calçados de couro que lembram sapatilhas de boxe. Outra inovação foi o irtu: um disco de bronze que protegia o centro do peito e era preso sobre a armadura. Além de resistir a golpes de espada e lança, ele dava ao combate uma inigualável sensação de segurança.