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Centenas de esposas para o sultão

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h13 - Publicado em 31 mar 1998, 22h00

Tânia Menai, de Istambul

Como eram os haréns?

A palavra harém vem do árabe e significa “lugar fechado”, “interditado”. O harém era a parte da casa onde moravam, reclusas, as mulheres dos poderosos, com seus filhos, criadas e escravos castrados, os eunucos. Junto com elas, como chefe de todas, vivia ninguém menos que a sogra, a mãe do marido coletivo. O costume surgiu em regiões islâmicas, onde a religião admite a poligamia. Segundo o Corão, a bíblia do islamismo, cada homem pode ter até quatro mulheres. Mas às elites era permitido um número maior. Quem podia sustentar mais esposas acabava colecionando um grande harém. Alguns sultões, como Mehmet IV (1640-1686), chegaram a ter 700 mulheres.

O harém mais famoso do mundo foi o do luxuoso Palácio de Topkapi, em Istambul, Turquia. Inaugurado no reinado de Süleyman, o Magnífico (1520–1566), está intacto até hoje, embora desativado. Virou uma atração turística, uma espécie de Pão de Açúcar erótico do século XX. Antes disso, serviu de residência dos sultões do século XV ao XIX. Abrigava a corte, órgãos de governo, o conselho judicial, o arsenal, a casa da moeda e alojamentos de escravos. Chegou a hospedar 40 000 pessoas em 700 hectares cercados por muralhas.

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Encerradas no harém, as mulheres eram hierarquizadas com funções e privilégios correspondentes. Todas eram escravas e competiam pela atenção do sultão. A mais poderosa era a valide, a mãe do monarca, a quem eram reservados quarenta quartos. Abaixo dela, vinham as kadin, quatro esposas dispostas por ordem de favorecimento: primeira, segunda, terceira e quarta.

Abaixo das esposas vinham as doze ikbals, as favoritas. Depois, as gozde, as candidatas a favoritas. Em geral, as mulheres eram divididas em concubinas (amantes) e odaliscas (serventes). Todas tinham a ambição de subir a posto mais alto. A todo momento o soberano poderia ignorar a hierarquia e escolher qualquer mulher. Quem desse à luz a um filho do sultão recebia mais privilégios, escravos e aposentos.

Uma profusão de filhos e príncipes disputava a sucessão, gerando grandes pressões políticas. O harém era fértil em conspirações, golpes e envenenamentos. Mesmo uma escrava nascida lá dentro sabia que poderia se tornar poderosa se viesse a ser a mãe do príncipe herdeiro. Não bastava ser bela, mas também inteligente e política. Houve várias, assim, na história da Turquia.

O costume durou até 1909, quando o Palácio de Topkapi foi fechado. Em 1923, a República foi proclamada e, em 1926, a tradição abolida. Na maioria dos países islâmicos, hoje, o harém está em desuso. Sustentar quatro mulheres custa caro. Mas há lugares onde a prática continua. O sultão de Brunei, um dos homens mais ricos do planeta, foi processado recentemente por uma ex-miss dos Estados Unidos. Ela o acusou de tê-la aprisionado no harém de um palácio de 1 700 quartos.

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