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Cerveja, atropelamento e 39 °C: a maratona olímpica de Paris em 1900

Sinalização errada, pausa para uma gelada e ouro para um padeiro francês, que na verdade era uma marceneiro de Luxemburgo – teve de tudo na primeira vez que Paris sediou os Jogos

Por Victor Bianchin
3 ago 2024, 10h00

Quando se trata de bizarrices, a maratona é talvez a prova olímpica com a maior ficha corrida para mostrar. Houve o carteiro cubano Félix Carvajal em 1904, por exemplo, que perdeu todo o dinheiro no jogo ao chegar em St. Louis para as Olimpíadas e foi correr de calça (um colega se compadeceu e cortou a vestimenta com uma tesoura).

Houve também o ex-padre que invadiu o circuito de Atenas (2004) e agarrou o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que liderava a prova e acabou ficando só com o bronze.

E houve a maratona de 1900, em Paris, as primeiras Olimpíadas sediadas na cidade. Apenas 14 corredores participaram do circuito de 40.260 km (hoje, a prova tem 42.195 km), que partia do parque Bois de Boulogne e terminava no estádio La Croix-Catelan, um trajeto desenhado para circunavegar as fortificações da capital francesa. Um dos atletas, canadense, chamava-se Ronald McDonald! 

Logo no começo, os três britânicos que participavam desistiram da prova. Isso porque o trajeto da maratona simplesmente não foi isolado para os habitantes da cidade. Os atletas tinham que disputar espaço com carroças, bicicletas, bondes, pedestres irritados e até mesmo, veja só, rebanhos de gado. O Canadá tinha um segundo atleta, Richard Grant, que reclamou ter sido atingido por uma bicicleta enquanto estava na liderança.

Outro grande problema eram as condições climáticas – a maratona de Paris 1900 foi a mais quente da história da prova, com relatos variando entre 35 ºC e 39 ºC. Para ajudar, a largada foi dada às 14h36, no momento mais quente do dia.

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Quem logo pediu arrego foi o francês George Touquet-Daunis, um dos favoritos ao ouro. O que se diz é que, exausto com o calor, o atleta resolveu parar num dos bares locais para tomar umas cervejas. De lá, ele não saiu: estava quente demais para continuar.

O favoritismo passou então para o suíço Ernst Fast, mas ele se deparou com um grande desafio: encontrar o caminho certo. Ao longo da prova, havia apenas seis checkpoints para sinalizar aos corredores que eles estavam no sentido correto.

Correndo em um trajeto não isolado e mal sinalizado, Fast precisou parar e pedir direções para um policial francês. O homem ajudou, claro – acidentalmente indicando o caminho errado. Com isso, Fast acabou perdendo a liderança e, eventualmente, a medalha de ouro. Conta-se que o policial, após descobrir que privou o suíço da medalha devido ao seu engano, cometeu suicídio.

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Com a corrida aberta, quem acabou ganhando foi o francês Michel Théato, atingindo a marca de 2h59m45s. Mas a polêmica logo veio: o americano Arthur Newton e outras delegações acusaram Théato de usar atalhos para trapacear e chegar na frente. Segundo eles, o vencedor havia trabalhado como entregador numa padaria e conhecia muito bem o mapa da cidade.

As acusações foram desmentidas (Théato na verdade era marceneiro), mas o atleta só foi receber sua medalha de ouro em 1912. Isso se deveu a dois motivos: primeiro, porque a maratona não aparecia no programa oficial dos Jogos de 1900. Segundo, porque as medalhas só começaram a ser distribuídas nos Jogos de 1904.

E não acabou por aí. Muitos anos mais tarde, já no século 21, o historiador Alain Bouillé descobriu que Théato na verdade havia nascido em Luxemburgo. Em 2004, o Grão-Ducado daquele país formalizou no COI um pedido para que a medalha de ouro do atleta fosse oficializada para sua nação, em vez da França, mas o pedido foi negado.

Com isso, Luxemburgo permanece com uma única medalha de ouro em toda sua história nas Olimpíadas, a de Josy Barthel em 1952 (duas se você contar a medalha de François Faber em 1920, mas ele competiu por um time misto).

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Após as Olimpíadas, Michel Théato se tornou maratonista profissional, mas nunca mais conseguiu um resultado digno de nota.

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