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Como o streetwear indiano se tornou pijama no Ocidente

Entenda como calças largas milenares, criadas por nômades asiáticos para montar cavalos, deram origem às nossas roupas de dormir.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 27 jan 2025, 14h20 - Publicado em 27 jan 2025, 10h00

A história dos pijamas começa na Ásia, há cerca de 3 mil anos. A palavra vem do persa pāy-jāma, que significa literalmente “roupa para as pernas” — até então, o termo se referia unicamente à parte de baixo da roupa. 

A mudança ocorreu quando povos nômades que habitavam as vastas planícies da Eurásia começaram a usar calças largas amarradas na cintura em vez de mantos ou túnicas, que eram vestimentas mais comuns na época. 

Eles eram cavaleiros e pastores como os Dothraki de Game of Thrones, e preferiam essa vestimenta inovadora porque ela era mais confortável para a montaria (de fato, a hipótese mais aceita é que a invenção das calças foi uma consequência do uso de cavalos como meio de transporte). 

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Foi assim que a peça chegou ao subcontinente indiano, onde acabou combinada com um tipo de blusa chamada kurta: uma peça longa, sem gola e bastante larga, semelhante a uma bata — esse conjunto é usado até hoje na própria Índia, no Paquistão e em Bangladesh. 

Mulher hindu, em Sind, Índia, de pijama estilo shalwar, 1870.
(Wikimedia Commons/Reprodução)
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O mundo não era exatamente globalizado nessa época, e os europeus da Idade Média não faziam ideia de que essas peças existiam.

Séculos se passaram até os ingleses invadirem e ocuparem violentamente a Índia. Kurtas e pijamas se tornaram ícones de riqueza e luxo no Ocidente, reservados à elite da Companhia das Índias Orientais que enriquecia às custas da exploração e submissão de seus colonizados. 

Na época, essas ainda eram roupas diurnas. Na Inglaterra, até então, usava-se um tipo de roupão de linho ou lã por cima de uma camisa para dormir. A peça lembrava um kimono japonês ou uma camisola.

Em um artigo escrito na National Geographic, Ana Velasco escreve que “a camisola era usada por homens e mulheres. Foi só no final do século 19 que o “pijama” [agora referindo-se ao conjunto de duas peças de calças largas e camisa] se tornou peça de roupa para dormir.”

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O que aconteceu foi que, enquanto os britânicos dominavam a Índia, eles precisavam de roupinhas confortáveis para usar em casa. Por isso, os soldados começaram a imitar o vestuário local, mais adequado ao calor tropical. 

Na era vitoriana, o vestuário de duas peças (uma blusa solta e uma calça), inspirado nas roupas indianas, passou a ser adotado mais amplamente na Europa, mas com algumas adaptações: as blusas ficaram mais curtas e botões foram inseridos na parte da frente da peça.

Após sua visita à Índia e à corte persa, William Feilding, primeiro conde de Denbigh, encomendou a Anthony van Dyck este retrato de 1633 dele mesmo com seu servo indiano, ambos vestidos com o pijama kurta
(Wikimedia Commons/Reprodução)

Os EUA, que eram uma potência industrial nascente, agarraram a oportunidade de produzir essas peças em massa, o que ajudou a espalhar o costume pelo mundo: os pijamas de duas peças passaram a ser vendidos a preços acessíveis nas lojas de departamento.

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Em 1933, uma revista francesa especializada em moda masculina escreveu sobre os benefícios do pijama: “Ele nos dá grande liberdade de movimentos, necessária ao corpo durante o sono, e favorece a dignidade e o estilo que não eram atendidos pela camisola.”

O autor afirma que “houve um desequilíbrio causado pelo uso das camisolas (sendo o equilíbrio a qualidade primordial da elegância) que os pijamas restabeleceram, acrescentando a graça de sua linha.”

Todo esse discurso favoreceu o público masculino, que se encantou com a possibilidade de abandonar o vestidão para dormir. Somado com a popularidade dos filmes do início do século 20, o pijama se tornou a nova norma.

Enquanto isso, na índia, os pijamas e kurtas permaneceram uma peça popular do streetwear,  e também são usados em ocasiões especiais, como casamentos e festivais. Ou seja: se quiser passar o dia de pijama, já sabe aonde morar. 

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