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Corpo de santa morta há 442 anos é exumado para pesquisa

Pesquisadores devem analisar o estado de conservação do cadáver de Teresa de Ávila, que morreu em 1582.

Por Manuela Mourão
12 set 2024, 10h00

O corpo de Santa Teresa de Jesus, ou Teresa de Ávila, foi exumado no dia 28 de agosto, na Espanha. O intuito é estudar o estado de preservação dos restos mortais da santa, falecida em 1582. A exumação, realizada na Basílica de Alba de Tormes, foi noticiada pela Diocese de Ávila, e ocorreu mais de um século após a última abertura do sepulcro, em 1914.

A exumação é a retirada dos restos mortais da sepultura, ou seja, o ato de recuperar o corpo – ou o que sobrou dele – do lugar em que ele foi velado.

Teresa, uma das figuras mais veneradas do cristianismo e a primeira mulher a ser proclamada doutora da Igreja, faleceu em 1582. Seu corpo, até então, repousava em um túmulo de mármore protegido desde o século XVII, que escondia o pequeno caixão de prata e um esquema de segurança que envolve 10 chaves: três ficavam com as Carmelitas Descalças, três com o padre geral da Ordem do Carmelo Descalço em Roma, três com o Duque de Alba e a última com o rei da Espanha. 

Estado de conservação

O postulador geral da Ordem do Carmelo Descalço, Marco Chiesa, que acompanhou o processo, destacou que o corpo de Teresa mantém bom estado de conservação. “Não há cor de pele, pois está mumificada, mas o rosto é visível, especialmente a parte central.”

Esse é um fenômeno que a igreja chama de incorruptibilidade: quando o corpo mantém bom estado de preservação anos após a morte do indivíduo. Pode acontecer no corpo todo ou apenas em parte dele. Isso ocorre não só com pessoas consideradas santas, claro, mas também em outros indivíduos ao longo da história. As baixas temperaturas e falta de oxigênio nos caixões levam a uma mumificação natural. Não coincidentemente, essas condições geralmente são encontradas nas criptas em que os corpos santos ficam armazenados.

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Diante da importância histórica e religiosa da santa, a exumação contou com a participação de uma equipe internacional de especialistas, incluindo médicos e cientistas italianos. O objetivo é estudar não apenas o estado de conservação do corpo, mas também realizar novas análises das relíquias de Teresa de Ávila, como seu coração, um braço e uma mão, além de documentos históricos e registros fotográficos.

As três principais relíquias exumadas – os órgãos da santa –  foram consideradas em excelente estado, e não há necessidade de medidas adicionais de conservação. Após a verificação, elas serão devolvidas aos seus relicários originais

As novas fotografias e radiografias feitas durante o procedimento foram enviadas para laboratórios na Itália, onde cientistas realizarão análises detalhadas nas próximas semanas. 

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A expectativa é que um relatório completo com as conclusões científicas seja divulgado nas próximas semanas. “Sabemos, por estudos semelhantes, que poderemos conhecer dados de grande interesse sobre a vida de Teresa e também aprender recomendações para a preservação de outros corpos e das relíquias”, explicou o postulador.

Um ponto particularmente interessante, segundo Chiesa, foi a constatação de que a santa sofria de esporão de calcâneo em um dos pés, uma condição que torna o ato de caminhar doloroso.

Cápsula histórica 

Durante a exumação, os pesquisadores também encontraram registros históricos inesperados dentro do sepulcro. Entre eles, estavam crônicas que documentavam o traslado do corpo de Teresa em 1754, dentro do mosteiro, e uma série de fotografias deixadas por moradores de Alba de Tormes durante a abertura do túmulo em 1914. Segundo o prior de Alba de Tormes, padre Miguel González, essas descobertas têm um grande valor histórico.

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“A exumação não trouxe apenas informações sobre o estado do corpo da santa, mas também documentos e registros que serão fundamentais para compreender melhor o contexto histórico em que Teresa viveu”, afirmou o padre González. 

Quem foi Teresa de Ávila?

Santa Teresa de Jesus foi uma freira carmelita, mística e santa católica do século XVI, destacada por suas obras sobre a vida contemplativa e sua atuação na Contrarreforma. Co-fundadora da Ordem dos Carmelitas Descalços com São João da Cruz, foi canonizada em 1622 e proclamada Doutora da Igreja em 1970 por Paulo VI, devido à sua significativa contribuição à espiritualidade católica. Seus livros – alguns bibliográficos – como “A Vida de Teresa de Jesus” e “O Castelo Interior”, são marcos da literatura renascentista e do misticismo cristão.

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