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Existem santos em outras religiões?

Cada religião tem seu jeito de homenagear os fiéis excepcionais. Saiba como a santidade se manifesta para além do catolicismo.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 26 abr 2023, 11h11 - Publicado em 5 fev 2019, 18h34

Dentro do próprio cristianismo, é complexo estabelecer um perfil do que seja uma santidade. Santo Agostinho é venerado pela excelência de suas obras teológicas. Santo Antão, porque iniciou a tradição dos eremitas. Frei Galvão tinha pílulas capazes de curas sobrenaturais – ainda que fossem potentes placebos. Joana D’Arc pegou em armas conta a Inglaterra.

Além da fé em Cristo, não há nada de muito semelhante entre essas pessoas ou entre suas histórias. Ainda assim, há um senso comum do que deva ser uma pessoa santa. A figura que logo vem à cabeça é alguém profundamente religioso, dedicado a ajudar o próximo, desapegado dos bens materiais (embora não sejam tão raros os santos ricos em vida).

Pode ser um velho guardião de certa sabedoria, uma espécie de guru. Ou um herói da sua comunidade. Pessoas com essas características são reconhecidas como especiais e cultuadas não apenas sob o guarda-chuva do catolicismo. Estão em outas religiões também – ainda que a canonização tenha deixado o termo “santo” imediatamente associado à cultura católica.

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O fato é que, com ou sem esse título, cada religião encontrou sua própria maneira de homenagear seus iluminados da fé, seus escolhidos. Os judeus têm sábios místicos; muçulmanos têm aqueles que estiveram (e estão) na Terra para dar sequência à missão de seu profeta; candomblecistas pedem a proteção de seus orixás. No hinduísmo, há gurus de espiritalidade tão desenvolvida que sua simples presença seria uma bênção para quem estivesse por perto – figuras de alguma forma parecidas com os monges sábios do cristianismo.

A exceção está nos que seguem as doutrinas lançadas na Reforma de Martinho Lutero. Para os protestantes, só Jesus é fiel.

Igreja ortodoxa

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(Reprodução/iStock)

Até o século 10, os ortodoxos formavam uma religião única com os católicos apostólicos romanos. Surgiram com a missão de disseminar o cristianismo pelo Oriente. Mas uma série de divergências, quanto à língua dos cultos (ocidentais queriam o latim; ortodoxos, o grego) e à obediência ao papa (ortodoxos não reconhecem sua autoridade), acabou provocando um rompimento em 1054 – embora ainda compartilhem alguns costumes.

Assim como os católicos romanos, os ortodoxos cultuam os santos, mas são mais comedidos nas suas canonizações, que costumam demandar mais tempo. Não há estátuas de santos em suas igrejas, só pinturas – mas a veneração existe. Um dos santos recentes da Igreja Ortodoxa, curiosamente, é o último czar da Rússia: Nicolau 2o. Aliás, sua esposa, Alexandra, e os cinco filhos também. Todos foram assassinados pelos bolcheviques, em 1918, e agora são considerados mártires.

Judaísmo

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(Reprodução/iStock)

Não há canonização como no catolicismo – mas a tradição hassídica tem, sim, seus indivíduos especiais. São rabinos conhecidos como “Os Justos” (tzaddikim, em hebraico): sábios com fama de poder espiritual.

Aliás, o que não falta no Antigo Testamento – a parte da Bíblia que conta para os judeus – é a jornada heroica de patriarcas e matriarcas, modelos de fidelidade aos valores de sua religião e de grande aproximação com Deus.

Islamismo

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(Reprodução/iStock)

Wali, palavra árabe que significa “amigo de Deus”, é usada para indicar um santo islâmico. Em sua vida terrena seriam teólogos, ascetas, juízes e até poetas. Segundo al-Tirmidhi, místico do século 9, 40 deles teriam sido designados para perpetuar o conhecimento dos mistérios divinos recebidos por Maomé. Esses ganhariam substitutos a cada geração após suas mortes e seriam “uma garantia para a existência contínua do mundo”.

Religiões africanas

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(Reprodução/iStock)

Cultuados no candomblé e na umbanda, os orixás são entidades que, no Brasil, correspondem a santos católicos. Quando chegaram aqui para ser escravos, os africanos de origem iorubá foram proibidos de cultuar suas divindades. Então começaram a disfarçar suas figuras sagradas, associando-as ao catolicismo.

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Nessa fusão espiritual, Xangô, deus do trovão e da justiça, é associado tanto a São Jerônimo quanto a São João Batista. Iansã, sua esposa, corresponde a Santa Bárbara, ambas protetoras contra tempestades, raios e trovões. Ogum, o orixá da guerra, é Santo Antônio (sim, o casamenteiro) e também São Jorge, o soldado matador de dragões. Isso é que é sincretismo religioso.

Protestantismo

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(Reprodução/iStock)

Não se vê culto aos santos aqui. Martinho Lutero, o grande líder da Reforma Protestante, rejeitava o uso de relíquias e achava que, embora até houvesse pessoas santas “na terra e no céu”, elas não mereciam ser veneradas. Em seu impulso para destruir os ícones católicos, negou o papel dos santos como mediadores do diálogo dos fiéis com Deus. Venerar um deles, para Lutero, era idolatria pura, semelhante à que se fazia nas seitas pagãs.

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Já João Calvino (1509 – 1564), inspirador de diversas denominações protestantes, como a Igreja Presbiteriana do Brasil, foi ainda mais radical. Disse que quem acreditava na intercessão dos santos era porque lhe faltava fé em Jesus como interlocutor junto ao Todo-Poderoso. “Eles desonram o Cristo e o privam de seu título de único mediador, um título que, tendo sido dado pelo Pai, como Seu especial privilégio, não deve ser transferido para outros.”

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