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Escândalo no Bell Labs

Por mais prosaico que possa parecer, o Bell Labs não tinha um arquivo central para os dados das pesquisas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h24 - Publicado em 30 nov 2002, 22h00

Lucas Tauil de Freitas

Um dos maiores reveses já vistos na ciência de alto nível abateu a física de materiais e a indústria de telecomunicações, em setembro. Com a demissão do físico alemão Jan Hendrik Schön, o laboratório americano Bell Labs confirmou o que já se temia: as inovações trazidas pelo pesquisador eram uma fraude.

Schön havia demonstrado, em artigos publicados nas revistas Nature e Science, que ínfimos cristais orgânicos poderiam funcionar como semicondutores. Música para os ouvidos da indústria da informática, ansiosa para continuar encolhendo chips e aumentando sua capacidade. Com apenas 32 anos, ele parecia estar revolucionando a física de materiais e, de quebra, trazia esperanças a um setor em crise.

No fim, era tudo mentira. Schön fabricou e falsificou dados para os artigos. Os gráficos que demostrariam seus experimentos eram meros artifícios obtidos a partir de fórmulas matemáticas. Confrontado com as acusações, alegou que havia apagado os dados corretos por falta de memória no computador e que criou os gráficos para melhorar o aspecto de sua apresentação. Por mais prosaico que possa parecer, o Bell Labs não tinha um arquivo central para os dados das pesquisas.

Um escândalo. Porém, na opinião da maioria dos pesquisadores, não há muito o que fazer para evitar casos assim, a não ser punir os culpados, já que as alternativas sugeridas, como a validação externa e o controle institucional dos laboratórios, seriam remédios piores que a doença. A comunidade científica, que correu para condenar Schön, também se mobiliza para defender os meios acadêmicos e o sistema de patrocínios à ciência nos Estados Unidos. “A independência dos laboratórios e centros de pesquisa é fundamental para a captação de investimentos privados e, no fim, para a própria ciência”, afirma Lydia Sohn, física da Universidade de Princeton, com a autoridade de quem primeiro identificou a fraude. Para ela, o caso Schön é uma prova de que o atual sistema funciona. O físico Carlos Henrique de Brito, reitor da Universidade de Campinas, que atuou no Bell Labs, nos anos 90, concorda. “O árbitro da produção científica é a comunidade acadêmica.

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Não acredito em checagem ou validação institucional. O prejuízo decorrente da burocracia seria ainda maior”, afirma.

No entanto, o sistema não impediu que muitos cientistas desperdiçassem tempo e dinheiro tentando reproduzir os resultados dos experimentos de Schön, afinal passaram-se cerca de quatro anos entre a divulgação da pesquisa e a comprovação da fraude. Brito diz que ainda é cedo para saber se a imagem do setor acadêmico e de pesquisa, que já vinha sofrendo com a redução de investimentos, acabará sentindo o baque.

Parece consenso que pouca coisa vai mudar nas políticas de patrocínio à pesquisa acadêmica americana, onde cientistas vencedores do prêmio Nobel são oferecidos como pratos suculentos nos menus dos centros de pesquisa. O próprio Bell Labs se orgulha de manter 11 deles em sua folha de pagamento. Lá, além da demissão de Schön, pouco se fez após a fraude. O laboratório adotou um servidor para reunir todos os trabalhos em andamento e, daqui para a frente, as pesquisas serão expostas à comunidade interna antes de irem a público.

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