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espiões :o lado o lado

Conheça os fatores que arruinaram muitas ações secretas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h25 - Publicado em 31 mar 2007, 22h00

Texto Gabriel Attuy

O mundo dos espiões tem ações que exigem execução precisa e agentes bem treinados, certo? Bem, talvez nos filmes de James Bond. Na vida real, muitas vezes as operações secretas estão mais para os Três Patetas do que para 007

As operações que a CIA gostaria de esquecer

Você já fez algo que parecia certo no momento, mas depois se arrependeu? A CIA (a agência secreta americana) também, e mais vezes do que gostaria de admitir. Na tentativa de sabotar os inimigos, muitas vezes os EUA acabaram sem querer dando uma mãozinha a quem não deveriam. Um exemplo clássico é o Talibã, grupo armado que controlou boa parte do Afeganistão, e um dos piores inimigos dos EUA. O grupo se aliou à Al Qaeda de Bin Laden e manteve o terrorista escondido em seu território após os ataques do 11 de Setembro.

Mas quem foi o responsável por armar e treinar esse feroz grupo de guerrilheiros fanáticos? Os pais do maior inimigo americano são… os EUA. No início dos anos 80, a União Soviética invadiu o Afeganistão e os EUA decidiram que seria uma brilhante idéia financiar rebeldes islâmicos para impedir o avanço dos soviéticos, o que resultou em mais de US$ 3 bilhões gastos em armamento e treinamento. A operação virou até mesmo enredo do filme Rambo III, em que Sylvester Stallone se alia aos heróicos talibãs para combater os comunistas malvados. Em 1997, uma delegação do Talibã chegou a passar vários dias em negociação na sede da Unocal Corporation, no Texas, companhia que tinha interesses comerciais na região. No entanto, a falta de apoio americano para reconstruir o país após a retirada dos soviéticos levou o grupo para caminhos diferentes do que a CIA imaginava. O resultado é que os EUA acabaram entrando em guerra contra a própria criação.

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Outra grande burrada aconteceu justamente com um dos piores inimigos americanos, o Irã. Washington diz que esse país representa um perigo para o mundo todo com seu programa nuclear. O que eles não gostam de dizer é que, sem querer, a CIA pode ter ajudado o país a acelerar o desenvolvimento de tecnologia para produzir uma bomba atômica. Ops!

Para atrasar os planos atômicos dos iranianos, a agência criou uma operação para entregar planos de uma bomba nuclear com falhas ao país. O escolhido para a tarefa foi um cientista desertor da Rússia, que deveria ir a Viena e se passar por um ganancioso negociador em busca de um cliente. O problema foi que a CIA não avisou o cientista que os planos eram falsos. Ele percebeu os erros e, gentilmente, consertou as falhas antes de entregar o projeto da bomba aos seus clientes. Hoje, muitos analistas concordam que a operação na verdade ajudou a acelerar o programa nuclear iraniano.

Além de entregar tecnologia nuclear a outros países, os EUA também foram vítima de uma operação que resultou no roubo de segredos nucleares pelos chineses. Desde os anos 80, a China tem sistematicamente espionado o programa nuclear americano. Você não sabia? A CIA também não. O chamado relatório Cox, lançado em 1999 após meses de investigação por uma comissão em Washington, conclui que desde a década de 1980 os chineses estavam roubando segredos nucleares americanos, de mísseis a reatores, bem debaixo das barbas da CIA, que nunca suspeitou de nada. O relatório classificou como “desastroso” o trabalho de contra-inteligência da agência.

Outro assunto popular em Washington é o Iraque. Mas a recente intervenção americana no país não é nada de novo para a CIA. Na verdade, a própria agência foi parcialmente responsável pela chegada de Saddam Hussein ao poder. Em 1958, o general Abdul Kassem tomou poder no país após um golpe de Estado. Isso desagradou aos americanos, especialmente quando Kassem ameaçou invadir o Kuwait e nacionalizar parte da produção iraquiana de petróleo. A CIA então montou uma operação para assassinar Kassem. Ela produziu um lenço envenenado com as iniciais AK, que deveria ser enviado como um presente para o violento ditador. No entanto, antes que Kassem pudesse espirrar e morrer envenenado, um grupo da Força Aérea iraquiana deu um novo golpe e tomou o poder. O novo regime, apoiado pelos EUA, incluía em seu quadro um jovem oficial de 26 anos em plena ascensão: Saddam Hussein, que mais tarde, na Presidência, iria justamente invadir o Kuwait, de onde os americanos tiveram que tirá-lo à força. Na seqüência, Hussein passou a ser acusado de produzir armas de destruição em massa, ou pelo menos assim dizia a CIA. Em 2003 os EUA invadiram o país sob esse pretexto, mas, no final das contas, não encontraram as tais armas e hoje estão atolados em meio a uma guerra civil, tendo que amargar mais de 3 000 soldados mortos e outros 20 000 feridos.

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A conexão cubana

Desde a Revolução Cubana, em 1959, os EUA nunca engoliram o líder comunista Fidel Castro. A CIA já fez literalmente dezenas de operações – algumas incluindo planos mirabolantes – com o objetivo de desmoralizar, derrubar e assassinar Castro. Mas a agência nunca teve sucesso, amargando algumas memoráveis derrotas que serviram apenas para tornar Castro mais popular e poderoso no seu país.

Com a subida ao poder de Castro, Washington estava preocupada que Cuba se tornaria a porta de entrada do comunismo na América Latina. Então, em 1960, o presidente Dwight Eisenhower decidiu seguir os conselhos da CIA e iniciar um plano para treinar 1 500 exilados cubanos, invadir a ilha através da baía dos Porcos – a 200 quilômetros de Havana – e derrubar Castro. No entanto, a operação teve uma série de erros e o resultado foi um fracasso total.

Os problemas começaram ainda na elaboração da invasão. A CIA cometeu 3 graves erros que não só levaram à captura dos invasores mas à desmoralização dos EUA. O primeiro erro foi tático: o plano incluía uma retirada para uma área montanhosa caso os combatentes não conseguissem avançar em campo aberto, mas na verdade a região era longe demais para se atingir a pé. A CIA também acreditava que o povo cubano iria se juntar aos exilados assim que visse a resistência contra Fidel, o que não aconteceu. Pelo contrário, os cubanos se uniram como nunca ao redor de Castro. Mais tarde, também foi constatado que um funcionário da CIA deixou escapar numa conversa o local e o dia do desembarque. A informação chegou aos ouvidos de um agente soviético, que a repassou para Castro. Como resultado, o Exército cubano repeliu facilmente o ataque, humilhando os EUA. O desastre levou toda a cúpula da CIA a pedir demissão.

Após esse episódio, o governo americano se tornou ainda mais determinado a acabar com Castro. Foi então que surgiu o Cuban Project, que criou dezenas de planos para derrubar o ditador cubano. Em um memorando de outubro de 1962, a Presidência americana determinou que “todos os esforços devem ser feitos para desenvolver meios novos e criativos para se livrar do regime cubano”. De fato, a CIA foi muito criativa. Entre os planos desenvolvidos para assassinar Castro estava uma caixa de charutos recheados de explosivos, uma roupa de mergulho envenenada e até a instalação de ostras com explosivos em lugares onde o ditador praticava mergulho. Um dos planos mais estranhos previa que Castro usasse uma substância que fizesse a sua barba cair e ficasse totalmente desmoralizado. Além de salientar a fértil imaginação dos agentes da CIA, isso mostrou ao mundo que os americanos têm uma estranha relação com pêlos faciais. Nenhum dos planos funcionou e ao que tudo indica Castro vai morrer de velhice mesmo, e barbudo.

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Os principais pecados dos espiões

Segundo especialistas em inteligência, providências simples podem evitar que um agente secreto cometa erros bobos, que podem jogar no lixo toda uma operação. Veja na lista abaixo os conselhos sobre os enganos mais comuns cometidos pelos espiões.

Deixar documentos confidenciais em cima da mesa

Fica fácil demais dar uma espiada. Aquele arquivo escrito “Top Secret” existe justamente para isso.

Portas e gavetas de mesa destrancadas

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Sim, as fechaduras podem ser arrombadas. Mas para que facilitar o trabalho do espião alheio?

Anotar senhas e nomes importantes na agenda

Os agentes devem memorizar tudo. A agenda é o primeiro lugar onde um espião adversário vai procurar por informações.

Falar códigos e senhas ao telefone

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Nunca se sabe quem pode estar escutando, ou se o telefone está grampeado.

Jogar documentos secretos na lixeira

Um inocente faxineiro pode ser na verdade um espião disfarçado. O correto é rasgar os papéis mais importantes e jogá-los em lixeiras separadas.

O pior da 2ª Guerra Mundial

Na tentativa de realizar ações de sabotagem contra os Aliados, os alemães lançaram diversas operações para infiltrar agentes em território americano. No entanto, as forças alemãs pareciam ter um pequeno problema de motivação. Alguns espiões misteriosamente desistiram da vida de intrigas e segredos em troca de uma existência pacata e tranqüila. Não haveria nada de errado com isso, não fosse pelo fato de que todos decidiram fazer isso bem no meio das operações. Em 1942, a agência de inteligência da Alemanha nazista, a Abwehr, recrutou 8 agentes para plantar bombas em usinas siderúrgicas, hidrelétricas e pontes. A operação foi impressionante: os agentes viajaram secretamente em dois submarinos e foram desembarcados em praias de Nova York e da Flórida. No entanto, o agente George Dasch resolveu pular fora daquela vida agitada. Ele foi a Washington, simplesmente bateu na porta do FBI e se entregou. Isso levou à captura de todos os outros 7. Nenhum deles realizou absolutamente nada que estava nos planos.

Depois desse fracasso, parece que a moda pegou entre os agentes alemães. No mesmo ano, uma operação similar ocorreu no Canadá. A missão era observar a movimentação de embarcações em Halifax, ponto importante de partida para navios americanos. O agente (i)responsável, no entanto, decidiu mudar um pouco os planos originais e foi viver calmamente em Ottawa, torrando o dinheiro que havia recebido para a missão. Depois de umas férias prolongadas, ele se entregou em dezembro de 1944 às autoridades canadenses, que o receberam como um inesperado presente de Natal. Teimoso, o serviço secreto alemão não desistiu. Pela terceira vez, lá se foi mais uma leva de submarinos para levar agentes secretos. Eles desembarcaram em Nova York para espionar o projeto nuclear dos americanos. A vida de espião, no entanto, estava difícil, e Erich Gimpel e William Colepaugh decidiram que seria mais proveitoso se aposentar. Ambos se entregaram ao FBI; Gimpel pegou 10 anos e depois foi deportado para o Brasil, enquanto Colepaugh ficou preso até 1960, montou um negócio na Pensilvânia e mais tarde se aposentou na Flórida, morando o resto da vida à beira da praia.

Como as coisas não estavam dando certo em território americano, os alemães decidiram tentar algo mais perto de casa. O plano era simples: capturar o duque de Windsor e sua esposa americana. O duque Edward havia abdicado do trono para se casar com a divorciada Wallis Simpson, e em 1937 os dois realizaram uma visita à Alemanha como convidados de Adolf Hitler. Aparentemente, o duque tinha simpatia pelo regime nazista, e trabalhava na inteligência britânica. Os alemães julgaram que, se ele fosse capturado, seria fácil convencê-lo a entregar os segredos dos ingleses. Porém a operação foi um fracasso total. Agentes alemães passaram semanas tentando convencer o casal a ir de Portugal, onde estavam hospedados, para a Espanha, onde seriam capturados. Eles montaram uma elaborada campanha com a intenção de fazer o duque acreditar que Winston Churchill, então primeiro-ministro britânico, iria eliminá-lo assim que ele voltasse para território inglês. Isso incluiu quebrar os vidros da casa em que os dois estavam em Lisboa e culpar os ingleses, além de enviar flores para a duquesa com mensagens ameaçadoras. Toda a encenação não serviu para nada. O casal acabou indo para as Bahamas, das quais Edward havia sido nomeado governador justamente por Churchill. Os oficiais alemães envolvidos no plano culparam um ao outro pela falha e Hitler ficou muito irritado com o fracasso, batendo o pé no chão enquanto gritava “nein, nein, nein!”

Após tanta humilhação, era hora de os alemães finalmente levarem a melhor. Eles fizeram os ingleses de bobos na operação que ficou conhecida como Das Englandspiel (“O Jogo da Inglaterra”, em alemão), uma das maiores farsas já encenadas no mundo da espionagem. Em 1941, a Inglaterra iniciou uma operação para infiltrar agentes na Holanda e montou uma rede de transmissões via rádio para receber informações. Mas, assim que os primeiros agentes chegaram ao país, eles foram capturados pelos alemães. No entanto, por um problema de comunicação temporário no rádio, os ingleses não perceberam que seus espiões haviam sido presos e substituídos por agentes alemães. Durante dois anos, os britânicos continuaram enviando mantimentos, explosivos, armamento, dinheiro e informações secretas, que caíam diretamente nas mãos dos germânicos. Após a descoberta do esquema, os agentes alemães mandaram uma última mensagem para os ingleses, transmitida – convenientemente – no dia 1º de abril de 1944: “Entendemos que vocês tentaram por algum tempo realizar negócios na Holanda sem a nossa ajuda. Nós sentimos muito pelo fim da operação, porque nós atuamos por tanto tempo como seus representantes neste país, para a nossa satisfação mútua. Muito obrigado pela atenção”.

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