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Mao Tsé-Tung: por que ele foi o maior ditador do Oriente

Deixando de lado os posicionamentos muito radicais, ainda dá para estimar que Mao matou tanta gente quanto Gêngis Khan: 40 milhões de pessoas

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 fev 2018, 12h16 - Publicado em 9 fev 2018, 11h58

Ditador da República Popular da China entre 1949 e 1976,  Mao Tsé-Tung foi um rolo compressor sobre seu próprio povo. Nos primeiros anos, ninguém se arriscava a criticar o governo. Mas, em 1956, Mao permitiu que os opositores expusessem suas opiniões. Era uma pegadinha. Quem levantasse a voz contra ele ganhava um alvo na cabeça. Foi a chamada Campanha Antidireitista, que enviou, por exemplo, intelectuais para trabalhar em depósitos de minérios radioativos.

Em 1958, Mao lançou o Grande Salto à Frente, que desejava transformar a China em uma superpotência industrial. Camponeses viraram operários, vilarejos se transformaram em comunas, e todos tinham que aumentar a produção de ferro e aço. Cerca de 90 milhões de pessoas do campo deixaram sua terra para derreter grampos de cabelo e ferramentas de cozinha a fim de atingir a cota de metais. Resultado: a produção de aço dobrou em um ano e a de cereais caiu 25% em dois. Já que ninguém come grampo de cabelo, milhões morreram de fome.

Naquele ano, a política de Mao provocou distúrbios em Lhasa, capital do Tibete, nação ocupada desde a Guerra Civil Chinesa, em 1950. Como se tratava de um povo antigo, com uma cultura muito forte, os chineses caíram matando no Tibete. De 100 mil monges e monjas, 87 mil foram assassinados, segundo o governo em exílio do Dalai Lama, o líder religioso e político da nação.

Não bastou o Grande Salto (para o precipício), Mao instituiu a Revolução Cultural. Uma das civilizações mais antigas do mundo, a China estava ameaçada pela loucura de um líder que, ao perder espaço para os moderados, apelou à influência espiritual que ainda tinha sobre parte do povo. Milhares de casas em Pequim foram invadidas. Destruíram manuscritos, instrumentos musicais, quadros. Acabaram com 5 mil dos 7 mil monumentos históricos. Espancaram e torturaram milhares de pessoas que tinham algum sinal confuciano ou ocidental.

Usa gravata? Motivo para ser espancado até a morte. Em Guangxi, lanchonetes exibiam cadáveres de inimigos do Estado pendurados nos ganchos e serviam a quem quisesse comê-los. Estudantes cozinharam e almoçaram diretores de escola.

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Mao se afastou da vida pública e morreu em 1976. Assim como no caso de Stálin, muita ideologia para poucos dados dificultam cravar um número de mortes que não seja distante do que já se propôs, à direita e à esquerda do espectro ideológico. Uma conta mais ponderada, que leva em conta todas as atrocidades, incluindo os mortos de fome, aponta que Mao exterminou 40 milhões de pessoas. Foi a segunda maior matança de todos os tempos, empatada com Gêngis Khan e atrás apenas da Segunda Guerra, que fulminou 66 milhões de seres humanos.

No entanto, se levarmos em conta a população da Terra naquele infeliz momento, o evento mais mortal da história foi a pouco conhecida Rebelião de An Lushan. Nascido por volta de 703, próximo de Bucara, a antiga e sofisticada cidade do Uzbequistão destruída por Gêngis 450 anos depois, An Lushan foi um guerreiro brutal que se tornou um líder morbidamente obeso e intempestivo.

Na rebelião, entre 755 e 763, ele marchou em direção à China, tomou a capital ocidental Luoyang e provocou a fuga do imperador. Foi um período de saques, estupros, pilhagens e decapitações. As estimativas mais conservadoras falam em 13 milhões de mortes. Se fosse no século XX, isso equivaleria a 154 milhões de pessoas (antes que você se pergunte: as 40 milhões de vidas consumidas nas conquistas mongóis do século XIII equivaleriam a 278 milhões de pessoas no século de Mao e Stálin).

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A maior parte desses multicídios contemporâneos se deve a um tipo de violência pragmática e necessária para o grande tirano. Ideologia: ele quer uma para matar. Não que precisasse de uma, afinal desculpa é o que não falta. Das guerras religiosas às opressões comunistas antirreligião, um homem sempre inventa um argumento qualquer para cobrir outro homem de tiro, porrada e bomba. Acredita em Deus e o faz de escudo. Ou não gosta de padre, de madre, de frei, de bispo, de Cristo e não diz “amém” – e mata todo mundo que diz.

Este conteúdo foi originalmente publicado no livro 3 mil anos de guerra: como 30 séculos de sangue, suor e bala criaram o mundo em que você vive, do jornalista Felipe Van Deursen.

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