Massacre no mar
Os dois naufrágios com o maior número de mortos da história aconteceram em 1945, por obra dos Aliados.
Em termos de vidas humanas, os dois piores desastres marinhos de todos os tempos foram causados pelos Aliados, contra alvos principalmente civis. Em 3 de maio de 1945, o transatlântico SS Cap Arcona afundou por obra de um ataque da Aeronáutica britânica (foto acima). A ação deixou 5 mil vítimas fatais – a maioria prisioneiros Aliados, de campos de concentração.
O navio foi alvo de uma ação massiva dos ingleses, quando a guerra já tinha acabado na prática. Três dias antes do naufrágio, Adolf Hitler havia cometido suicídio, e um dia depois os alemães assinariam a rendição. O último esforço para atingir embarcações inimigas que frequentavam o Mar Báltico culminou com disparos contra três navios ancorados na Baía de Lübeck, incluindo o cargueiro Thielbek e o navio de passageiros Deutschland. No total, a ação na baía provocou 7 mil mortes.
O transatlântico Arcona havia começado a operar em 1927, levando cargas e passageiros de Hamburgo até Buenos Aires, com paradas no Rio de Janeiro. Em 1943, foi usado como cenário para a produção alemã Titanic, que retratava o naufrágio mais famoso da história como resultado da arrogância britânica.
A partir de 1945, o navio vinha sendo usado para evacuar civis e militares alemães diante do avanço do Exército Vermelho. Quando foi atingido, acabara de receber uma nova missão: assim como o Thielbek e o Deutschland, vinha sendo utilizado como um navio-prisão para manter detentos de campos de concentração que tinham sido evacuados, fugindo do avanço soviético (os alemães faziam isso para que os soviéticos não testemunhassem os seus campos, e para manter a mão de obra escrava). Os três navios estavam atracados quando foram atingidos. Os comandantes não tiveram condições de reagir.
Fuga frustrada
Em matéria de mortes em um único navio, os ataques britânicos chegam a parecer pequenos diante do que havia acontecido meses antes. Em 30 de janeiro de 1945, o cruzeiro MV Wilhelm Gustloff, que levava militares e uma multidão de civis, fugindo das tropas soviéticas, foi torpedeado pelo submarino soviético S-13. Morreram 9.400 pessoas, incluindo 5 mil crianças. Não há registro de naufrágio com mais vítimas, em qualquer época.
Batizado em homenagem ao ativista nazista suíço Wilhelm Gustloff, assassinado pelo estudante croata David Frankfurter em 1936, o navio foi inaugurado em 1937. Tinha 208,5 metros de comprimento, 25 mil toneladas de peso e capacidade para transportar 1.880 pessoas. Era utilizado para levar jovens para passeios e atividades culturais por toda a Europa, até ser adaptado e transformado em um hospital marítimo em 1939.
Em novembro de 1940, o navio foi utilizado como quartel em alto-mar, na região do porto de Gotenhafen, na atual Polônia. No início de janeiro de 1945, com a derrota alemã a caminho, o navio foi utilizado para uma nova demanda: evacuar militares e civis. Rapidamente, mais de 10 mil pessoas se amontoaram na embarcação, que partiu no dia 30 de janeiro, escoltada por um único torpedeiro.
Ao cair da noite, sob um intenso nevoeiro, o navio foi localizado pelo submarino russo comandado pelo capitão Alexander Marinesko – que pintou recados nos quatro torpedos que disparou; mandou escrever neles “Pela pátria”, “Por Stalin”, “Pelo povo soviético”, “Por Leningrado”. Às 21h, o submarino disparou. Três torpedos acertaram o alvo, e o Wilhelm Gustloff começou a afundar. 996 dos mais de dez mil puderam ser resgatados da água. Todos os demais morreram. E seus corpos, até os anos 1970, continuaram chegando à costa.