Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Mulheres também eram escribas de elite, revela arcada dentária medieval

Fragmentos de lápis-lazúli, pedra que originava um pigmento azul usado em luxuosos livros, foi encontrado nos dentes de uma mulher

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 10 jan 2019, 20h17 - Publicado em 10 jan 2019, 20h07

Durante a Idade Média, a abertura de rotas comerciais com a Ásia introduziu diversos produtos exóticos na Europa. O pigmento “ultramarino”, um pó brilhante azul produzido a partir de pedra lápis-lazúli (encontrada em minas do atual Afeganistão), foi um deles. Era algo tão raro e caro que valia tanto quanto o ouro. Usado para ilustrar luxuosos manuscritos medievais, apenas os escribas mais importantes tinham acesso ao pigmento. Os escribas, diga-se, formavam a elite intelectual de sua época. Eram eles, afinal que escreviam os livros (a prensa de tipos móveis não existia), e uma obra feita à mão em pergaminho com lápis-lazúli podia custar tanto quanto uma casa.

A novidade aqui, de qualquer forma, é outra. Uma descoberta recente mostrou que essa elite profissional não era formada apenas por homens, como o senso comum levaria a crer. O achado surgiu por acaso: uma equipe chefiada pela arqueóloga Christina Warinner, da Universidade de Zurique, Suíça, estava investigando microrganismos da cavidade bucal de esqueletos antigos. O objetivo era pesquisar a dieta medieval. Um desses esqueletos veio de um cemitério perto de Dalheim, na Alemanha, associado a uma comunidade religiosa feminina — certamente um mosteiro de freiras da época.

A questão é que esse esqueleto, de uma mulher que viveu entre os anos de 1000 e 1100, possuía uma estranha placa mineralizada azul em sua arcada dentária. Depois de uma longa investigação, os arqueólogos constataram que as partículas azuis eram, nada mais nada menos, que o cobiçado lápis-lazúli. São as primeiras evidências diretas do uso do pigmento por uma mulher nessa época.

Ok, mas o que isso significa? Significa que havia mulheres escribas no século 11, e que elas desempenhavam importantes funções na área. Os historiadores há muito presumem que os monges, e não as freiras, eram os principais produtores de livros na Europa medieval. Poucos manuscritos com iluminuras (letras, bordas e ilustrações decoradas) foram assinados, mas aqueles que continham assinaturas eram todos atribuídos a homens.

Achar lápis-lazúli na arcada de uma mulher religiosa, porém, desafia essa suposição: perto do convento de Dalheim, de onde veio o esqueleto, havia um mosteiro de monges escribas. Os historiadores acreditam que a produção de manuscritos de luxo, usando materiais caros (como ouro e o próprio lápis-lazúli), foi terceirizada às vizinhas, mulheres escribas.

Continua após a publicidade

“Há um viés generalizado, compartilhado por muitos historiadores, de que a produção de livros era feita apenas por homens. Mas, por razões de submissão, as mulheres tendiam a não assinar suas obras”, disse a arqueóloga Christina Warinner.

O mosteiro de Dalheim foi destruído em um incêndio durante o século 14, deixando escassa evidência de trabalho que suas moradoras poderiam ter feito lá. A manutenção de registros nos mosteiros das mulheres medievais é bem limitada, assim como os manuscritos sobreviventes.

Você pode estar se perguntando: mas como o pigmento de lápis-lazúli acabou na boca dela? Da mesma forma que poderia parar nos dentes de qualquer escriba da época. Eles (e elas) lambiam a ponta dos pincéis para deixar o traço mais firme. Nisso, o pó de lápis-lazúli ia acumulando nos dentes.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.