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Névoa assassina

O maior vazamento químico do mundo matou sufocadas milhares de pessoas nos arredores de uma cidade indiana. O caso provoca polêmica ainda hoje

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h16 - Publicado em 2 fev 2013, 22h00

Fred Linardi

Acidente industrial
Índia – 1984 – 4000 mortos – 3900 feridos

Em julho de 2010, centenas de pessoas na cidade de Bhopal, no centro da Índia, se reuniram com cartazes em torno de um monumento em homenagem às vítimas da maior tragédia industrial que o planeta já viu. Naquele momento, em Londres, na Inglaterra, o Comitê Olímpico Internacional anunciava a Dow Química como patrocinadora dos Jogos Olímpicos de 2012.

Os manifestantes de Bhopal queriam que o comitê olímpico recusasse o patrocínio. No país com mais indianos fora da Índia, a Dow Química sofria indiretamente com a repercussão negativa de uma aquisição realizada em 2001. A companhia comprou a gigante americana Union Carbide Corporation, cujo nome, ainda hoje, está ligado a uma tragédia de 1984 na capital do estado indiano de Madhya Pradesh. Um vazamento de gás tóxico matou cerca de 4 mil pessoas e deixou marcas no solo e na água da região.

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Foi no início da madrugada de 3 de dezembro de 1984 que as vielas em torno da fábrica de pesticidas ganharam uma névoa diferente. Pessoas que dormiam em sua casa sentiram uma queimação nos olhos e na garganta. Assustadas, muitas saíram às ruas, expondo-se ainda mais à neblina de gás tóxico. Ao respirar o composto químico de isocianato de metila (mais conhecido pela sigla MIC), elas se sentiram sufocadas a substância causa cegueira e invade o sistema respiratório. Como o componente reage com a água, a irritação das mucosas nasais provoca o aumento das secreções, fazendo com que a reação química se potencialize, até que a vítima morre cega e sufocada. A Union Carbide usava a substância para produzir o pesticida Sevin. Em Bhopal, a fábrica empregava cerca de mil indianos.

O acidente poderia ser evitado de diversas formas. Às 21h do dia 2, funcionários da Union Carbide iniciaram o procedimento de limpeza de dutos. O jato de água tinha um itinerário seguro, sem entrar em contato com nenhum dos 3 tanques de MIC. No entanto, naquela noite os canos foram tomados por cerca de mil litros do líquido. Um dos tanques, que continha 40 toneladas do componente de pesticida, foi contaminado. Ao perceber que a pressão do recipiente subia a ponto de começar a rachar o concreto que o envolvia, os técnicos da sala de controle entraram em alerta e deram início aos procedimentos de segurança.

Para situações como essa, a Union Carbide contava com um sistema de neutralização, que lançava soda cáustica para limitar o impacto de pequenos vazamentos. O dispositivo foi acionado, mas estava inoperante. A fumaça então seguiu para a torre da usina, onde ainda poderia ser queimada, antes de ser expelida pela chaminé. Mas a ignição também não respondia. Livre, o MIC saiu pela chaminé da torre.

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Ainda existia uma última chance: lançar água sobre a fumaça, fazendo com que produto voltasse ao chão em forma líquida. Foi só então que os operários descobriram que as mangueiras de emergência estavam sem pressão suficiente para jorrar até aquela altura. O resultado foi devastador. Muitos corpos das vítimas acabaram incinerados anonimamente. Centenas jogados em rios e lagos se deterioraram ou foram comidos por jacarés.

A tragédia chegou rapidamente ao noticiário, e a negligência da empresa ficou evidente. A Union Carbide of India passava por uma crise financeira que levara seus administradores a cortar gastos no sistema de segurança. Houve 6 acidentes anteriores ao desastre de 1984¿, afirma o químico Themistocles D’Silva, que visitou o local. O governo indiano reagiu rápido, mas sem transparência. As investigações foram dificultadas pelos representantes governamentais. Os pesquisadores que foram enviados para investigar a empresa, cuja matriz fica nos Estados Unidos, não puderam entrevistar os operários nem tiveram acesso a vários documentos, diz Roberto de Castro Neves, consultor em crises empresariais. A Índia acabou por responsabilizar a Union Carbide e exigiu indenização às vítimas. Os sobreviventes receberiam cerca de US$ 600 cada um, mas poucos viram a cor do dinheiro: uma multidão apareceu para reclamar sua parte, e era impossível identificar quem, de fato, tinha sido afetado.

As investigações seguiram em segredo, enquanto os moradores da região ainda hoje apontam rastros de contaminação na natureza ¿ algo que não poderia ter sido causado pelo MIC e levanta a suspeita de que outros componentes químicos vazaram em 1984. Até hoje doenças como câncer, danos cerebrais e má-formação de fetos se manifestam na região em número fora do comum. Os médicos locais alegam que têm dificuldade em tratar muitos de seus pacientes mais por falta de acesso a informações detalhadas sobre o acidente.

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Carvão e amônio
Outros acidentes industriais de grande impacto

1549 mortos – 26 de abril de 1942 – Benxi, China

Na mina de carvão Banxihu, pequenas partículas de pó ocuparam o ar e foram detonadas por uma centelha de fogo. Algo semelhante ocorreu em 1906 em Courrières, na França, matando 1099 trabalhadores.

581 mortos – 16 de abril de 1947 – Texas, Estados Unidos

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A cidade recebia um cargueiro com 2300 toneladas de nitrato de amônio quando a carga reagiu ao calor, levando a uma grande explosão em cadeia, que envolveu outro navio com a mesma carga e várias refinarias próximas.

561 mortos – 21 de setembro de 1921 – Ludwigshafen, Alemanha

Resultad da reação da mistura de sulfato de amônio com nitrato de amônio, cuja propriedade explosiva não era conhecida. A explosão foi ouvida em Munique, a 300 km de Ludwigshafen.

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Mais de 500 mortos – 24 de fevereiro de 1984 – Cubatão, São Paulo

O vazamento de 700 mil litros de gasolina, provocado pela pressão excessiva de bombeamento num duto que passava sob a favela Vila Socó, provocou um incêndio que queimou mais de 500 barracos.

Para saber mais

The Black Box of Bhopal, Themistocles D¿Silva, Trafford Publishing, 2006.
www.bhopal.org

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