O mistério da pintura em caverna que pode retratar um animal extinto há 200 milhões de anos
Estudo sugere que indígenas da África do Sul encontraram fósseis de uma espécie extinta antes dos europeus – e representaram o bicho em sua arte.
Numa parede de pedra encontrada na África do Sul, uma série de desenhos retratam humanos batalhando com suas lanças, além de animais como antílopes, comuns da região. Mas um elemento específico chama a atenção de arqueólogos: um bicho esquisito, com um corpo alongado como de uma lagarto e um par de presas longas como as de um morsa – algo totalmente diferente de todos os seres encontrados por lá.
Estima-se que esse conjunto de desenhos, conhecido como “painel da serpente com chifres”, foi feito há mais de 200 anos pelos San, povo indígen da região de Carru (Karoo), na África do Sul. Como não existem morsas no país africano, arqueólogos vêm debatendo sobre o que seria a figura com presas. Uma hipótese é que seja apenas um monstro inventado.
Agora, porém, um novo estudo propõe uma explicação diferente: o animal retratado poderia ser um dicinodonte (do grupo Dicynodontia), uma espécie extinta há mais de 200 milhões de anos. Esses bichos de quatro patas não tinham dentes, apenas duas longas presas como uma morsa, e conviveram com os primeiros dinossauros.
Julien Benoit, professor de paleontologia na Universidade do Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul, propõe essa explicação num artigo publicado na revista PLOS One. Segundo o pesquisador, os nativos sul-africanos podem ter reconstruído a aparência dos dicinodontes a partir de fósseis – que são relativamente comuns na região.
Se de fato for o caso, isso significaria que os San conheciam esse animal extinto bem antes dos ocidentais: o primeiro fóssil da espécie só foi descrito em 1845 pelo famoso paleontólogo britânico Richard Owen. A pintura foi feita em 1835, uma década mais cedo, ou até mesmo antes disso.
Os dicinodontes eram animais herbívoros, parecidos com répteis, ancestrais dos mamíferos modernos. Sumiram da Terra há cerca de 200 milhões de anos.
O pesquisador formulou a hipótese após investigar a região em que a pintura foi feita e descobrir vários fragmentos de fóssil por lá – o solo é propício para a preservação deles. E restos de dicinodontes eram especialmente comuns.
Mesmo assim, é difícil saber com certeza se a gravura foi inspirada ou não por fósseis. O campo de pesquisa que estuda como registros do passado podem ter influenciado as lendas, representações artísticas e crenças dos humanos se chama geomitologia, e ainda há muito debate entre autores sobre o tema.