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O mistério do templo submerso

Esses vestígios, enlaçados pelas algas e semi-enterrados na lama, sugerem uma obra portentosa, com 50 metros de largura e 200 de comprimento, estendendo-se em três níveis sobre o leito do lago.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 30 set 2000, 22h00

Gilberto Stam

Os povos pré-colombianos são um misto de prodígios e enigmas que a Arqueologia só agora começa a desvendar. Prova disso são as ruínas do templo encontrado em agosto, 20 metros abaixo da superfície do Lago Titicaca e 3 810 metros acima do nível do mar, na fronteira andina entre a Bolívia e o Peru.

Esses vestígios, enlaçados pelas algas e semi-enterrados na lama, sugerem uma obra portentosa, com 50 metros de largura e 200 de comprimento, estendendo-se em três níveis sobre o leito do lago. O que está fazendo esse monumento suntuoso no fundo do lago? Quem o construiu e com que propósito? “Sabemos que o templo pertenceu à civilização tiwanaku, a mais antiga e uma das mais extraordinárias da América”, disse à Super uma das descobridoras do sítio arqueológico, a geóloga brasileira Soraya Ayub, da organização não-governamental Akakor de Exploração Geográfica, sediada na Itália. “Os tiwanacotas criaram o primeiro Estado do continente”, diz o arqueólogo Eduardo Pareja, da Direção Nacional de Arqueologia da Bolívia, colaborador da Akakor. “Eles dominaram a região do lago por um milênio e meio e desapareceram de repente, por causas desconhecidas, por volta do século XI.”

Quanto ao templo, há indícios de que ele ficava não no fundo, mas às margens do lago, cujo nível era de 25 a 30 metros mais baixo há 800 anos “O aspecto mais enigmático dos tiwanacotas é a sua doutrina espiritual”, diz Pareja. “Ela revela um profundo respeito pela natureza.” José Berenguer, do Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana, afirma que os sacrifícios humanos, embora macabros, estavam relacionados com a batata, sua cultura básica de subsistência. “Eles cortavam e enterravam a cabeça das vítimas, como se a plantassem no solo. Era um símbolo de renascimento e de fertilidade.” Também ofereciam lhamas e alpacas aos deuses (havia ossos desses animais junto ao templo achado agora), que, por sua vez, eram representados pelos felinos, pelos peixes e pelas aves. Supõe-se que simbolizavam, respectivamente, a terra, a água e o ar.

Há pouca dúvida de que o leito do lago esconde tesouros arqueológicos. “Como o Titicaca foi o núcleo dessa civilização, é possível que boa parte do que sobrou dela esteja debaixo d’água”, afirma Soraya. Junto ao templo submerso, a equipe da Akakor – composta de cientistas e técnicos italianos, brasileiros e bolivianos –, também encontrou os restos de um muro de contenção e de um terraço, provavelmente usado para o plantio, trechos de uma estrada com 3 metros de largura, vasos de cerâmica e esculturas em pedra. Soraya diz que a coleta do material é dificílima, porque mergulhar a quase 4000 metros de altitude exige técnica apurada e extrema cautela. O ar, lá em cima, é tão rarefeito que, quando se sai da água, a diferença de pressão fica muito grande: o mergulhador corre sério risco de ter embolia, a formação de bolhas no sangue. “Descer a 20 metros, no topo dos Andes é como chegar a 32 no mar”, diz ela. “Foi em parte por isso que passamos dois anos preparando a expedição. Se tivéssemos uma emergência, os hospitais qualificados mais próximos seriam os de São Paulo.” A equipe do Akakor vai demorar meses analisando os dados coletados. Depois, voltará ao lago com um reforço: um robô mergulhador. Espera-se que a máquina encontre mais pistas sobre o passado sul-americano.

Para saber mais

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https://www.geocities.com/Athens/Aegean/4650/cuerpocbba.html

https://www.akako.com

fdieguez@abril.com.br

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Mergulho no passado

No leito do Lago Titicaca, junto aos Andes, cientistas encontram restos de um megacomplexo religioso que a água cobriu há 800 anos

Monumento de pedra

A planta do local de culto revela que ele tinha três níveis e paredes recobertas de imagens. Ainda não se sabe o desenho exato das divisões internas

Baixo nível

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Sinais encontrados nas rochas no leito do lago mostra que o seu nível, há 800 anos, era 25 metros mais baixo que o de hoje. Naquela época, portanto, o templo ficava às margens do lago

Plantação de cabeças

Parte de um grande conjunto cerimonial, o templo tinha como função dar proteção espiritual ao local. Os sacrifícios eram realizados em edifícios centrais (não localizados ainda) do complexo: cabeças de animais e de seres humanos eram cortadas e enterradas no solo para torná-lo fecundo

Império milenar

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A civilização Tiwanaku foi a mais antiga da América

600 a.C. – Os tiwanacotas ocupam a região do Lago Titicaca, nos Andes

200 a.C. – As cidades tiwanacotas se espalham pela bacia do lago. Fora das áreas urbanas, centros cerimoniais reúnem templos e pirâmides. O plantio de batatas era feito em terraços recortados na montanha, sustentados por muros de pedra

375 d.C. – Ergue-se o império. Ele integra dezenas de cidades e subjuga povos vizinhos num raio de até 500 quilômetros em torno do lago

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600 d.C. – Período áureo. A capital do império, perto da atual cidade de Tihauanaco (veja o mapa), chega a ter 40 000 habitantes. Isso ocorre 900 anos antes do aparecimento dos incas

1200 d.C. – A civilizaçãodesaparece. Supõe-se que a escassez de comida, provocada por uma grande seca, teria levado ao caos social. Até folhas de coca, oferecidas aos deuses, teriam faltado na despensa dos sacerdotes

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