O que é máfia?
Ideologia e negócios diversificados distinguem mafiosos de outras quadrilhas
Rodrigo Cavalcante e Eduardo Lima
Máfia do apito, da sentença, da pirataria… Toda vez que pessoas se reúnem para cometer crimes, logo aparece alguém chamando aquele grupo de máfia. Mas nem toda associação criminosa deve ser classificada assim. A siciliana Cosa Nostra é uma máfia, mas os cartéis colombianos não são. A japonesa Yakuza também é máfia, mas os bandidos do Comando Vermelho ou do PCC não podem ser considerados mafiosos.
Toda máfia tem ao menos uma característica que a distingue de outras quadrilhas. Para começar, ela geralmente está fundamentada numa cultura e numa ideologia que lhe permitem sobreviver à morte ou à prisão de seus integrantes. Tomem-se como exemplo as máfias italianas, cujos membros sempre se autodenominaram “homens de honra”. Todas elas continuam em plena atividade, apesar da forte repressão policial desde a década de 1980 e da recente prisão de alguns de seus chefões. Por outro lado, uma quadrilha como a chamada “máfia dos sanguessugas” – que escandalizou o Brasil em 2006, com um esquema de compra irregular de ambulâncias – desaparece assim que o grupo é desbaratado.
Outra característica das máfias é o que se pode chamar de “bom relacionamento” com a comunidade ao redor. O mafioso compra o respeito dos mais pobres com pequenos favores. Na outra ponta, também se aproxima dos mais ricos, mantendo negócios com eles. Por fim, inclui em sua folha de pagamento políticos, juízes e policiais. Pronto: está erguida a blindagem que faz de toda máfia uma organização criminosa das mais difíceis de serem combatidas.
Para manter sua longevidade, as máfias devem ser capazes de atuar em diferentes negócios ao mesmo tempo – das atividades ilegais aceitas pela população, como jogo e contrabando, ao tráfico de drogas, armas e seres humanos. Esta talvez seja a característica que mais diferencia uma autêntica máfia de cartéis colombianos e traficantes brasileiros. Por mais que sejam poderosos e bem-organizados, que tenham políticos e juízes no bolso ou contem com o apoio da comunidade, essas quadrilhas têm apenas uma fonte consistente de receita: o tráfico. Em tese, são mais fáceis de identificar e combater.
De todos os traços que distinguem as máfias de outras organizações, a mais fascinante – e, por isso mesmo, a mais explorada no cinema e na TV – é a estrutura hierárquica rígida, semelhante à de uma família patriarcal. Os que estão na base dessa estrutura devem se submeter com humildade e obediência aos que estão no topo. O resultado é uma militância apaixonada, com ritos de passagem e códigos internos que ajudam a manter a organização coesa e impenetrável. Um desses códigos é a lei do silêncio, ou omertà. Ela impede que o mafioso entregue um comparsa ou revele segredos à Justiça, ainda que submetido à mais rigorosa das penas.