Os Malditos – A arte da libertinagem
A vida do artista renascentista Benvenuto Cellini foi uma galeria de mundanismo e homicídios - um deles perdoado pelo Vaticano
Texto Álvaro Oppermann
Benvenuto Cellini (1500-1571) foi artesão, especialista em trabalhos em metal, escultor, pintor… enfim, um gênio da Renascença. E também um crápula. Em 1558, escreveu a Autobiografia, na qual narra com prazer detalhes da sua vida, do seu trabalho, dos seus amores e também dos homicídios que cometeu. Sem um pingo de remorso.
“Cellini já foi tachado de delinquente, psicopata, moralmente insano e, na melhor das hipóteses, narcisista”, escreveu o psiquiatra Hervey Cleckley em The Mask of Sanity, livro pioneiro sobre psicopatia. “Depreende-se [de sua biografia] que tinha tanto prazer ao matar quanto ao fazer peças de bronze”, completa.
Cellini matou pela primeira vez em 1529, em Florença, para vingar o assassinato do seu irmão. Mas pegou gosto pelo crime. A sua quarta vítima, um ourives rival chamado Pompeo de Milão, foi morto a sangue-frio, de modo premeditado.
Sua vida foi uma crônica corrida de escândalos envolvendo garotos menores de idade. Em 1523, pagou uma multa à cidade de Florença para se livrar de uma acusação de pederastia. Em 1548, nova acusação, da parte de uma mãe indignada. O pintor, segundo ela, tinha tomado liberdades com o filho Vicenzo. Enfim, em 1556, o seu aprendiz Fernando di Giovanni di Montepulciano acusou-o de tê-lo sodomizado. Várias vezes.
Quem limpava a sua barra era um de seus principais patronos, o papa Paulo 3º. Cellini também era amigão de diversos cardeais no Vaticano, do qual obteve uma carta de perdão a um de seus homicídios.