Quem foi Lord Byron?
Um poeta genial. E, também, um sujeito desregrado e hedonista - cuja infância difícil resultou em um adulto com transtornos de personalidade
O lorde Byron tinha um lado pouco romântico em sua biografia. Que o rebelde poeta inglês viveu imerso em álcool, sexo e drogas todos sabem. Mas nem só de boemia e criatividade se faz um gênio atormentado. Uma pesquisa irlandesa recente concluiu que sua vida controversa foi marcada, digamos, pela falta de consciência – ele era um psicopata.
Sexto barão da estirpe dos Byron, George Gordon Byron nasceu em 1788, em uma família rica, mas em ruínas. De pouco lhe valeria o título de lorde que ganharia aos 10 anos. Filho de John Byron – popularmente conhecido como Mad Jack (“Jack, o Louco”), um farrista que acabou abandonando a família por causa de dívidas – o pequeno Byron foi criado pela mãe, Catherine. E a coitada, obesa, histérica e louca, alimentou o filho com inseguranças.
Byron cresceu confuso, à deriva, e desde pequeno tinha sintomas de que uma psicopatia emergiria: mentiras frequentes, profundo desprezo pelos outros e até atos de crueldade, como colocar tachinhas pontiagudas na mãe enquanto ela rezava na igreja.
Ninguém conseguia mudá-lo. Um dia o menino, que mal completava 5 anos, voltou da escola dizendo que sabia ler. E leu uma página inteira para uma mãe às lágrimas. Mas ela virou a página e o pequeno continuou a ler o texto anterior – que, claro, havia decorado. A mãe suspirou e deu-lhe uns bons tapas. “Cachorrinho, você é um verdadeiro Byron, tão ruim quanto o pai.”
Coisa de criança? “Não há dúvidas de que o barão mantinha um padrão de violação dos direitos de outras pessoas, com traços da personalidade infantil que predizem a psicopatia, como desprezar vontades e necessidades alheias”, diz o psiquiatra Michael Fitzgerald, do Trinity College, Irlanda, que analisou a vida do poeta e seus transtornos de personalidade.
E concluiu: Byron não só sofria do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), de onde crê advir sua criatividade extrema, como também tinha síndrome de Asperger (um tipo de autismo, doença que mina a socialização), resvalando para transtorno da personalidade antissocial. Uma mistura explosiva.
“LOUCO, MAU E PERIGOSO”
Noção de certo e errado nunca foi uma constante para Byron, e engajamento a longo prazo, ainda menos. Entrou para a Universidade de Cambridge, mas desistiu. Fez 21 anos e saiu pelo mundo.
Viveu aventuras na Albânia, na Turquia e na Grécia, e só voltou dois anos depois, para publicar os primeiros cantos de Childe Harold’s Pilgrimage. Eram poemas de um herói angustiado, que busca o sentido da vida no mar.
Parece que o sentido Byron não encontrou, mas conseguiu o que queria: “tornar-se o centro, o chefe” das atenções, como escreve o biógrafo André Maurois. “Um dia acordei e era famoso”, escreveu Byron sobre como Londres recebeu seu Childe Harold. Era, enfim, o poeta da moda. Mas nada pior para uma personalidade volúvel. Famoso aos 24, não pararia nem de escrever nem de se afundar na boemia.
Byron parecia “louco, mau e perigoso”, definiu lady Caroline Lamb, uma das tantas amantes que surgiram desde então. A biografia mais recente do poeta mostra um Byron sangue-frio em busca de sensações. Em vez do herói idealista morto na guerra, a autora Phyllis Grosskurth perfila um homem de excessos. Quando bebia, eram 4 garrafas. Menos, julgava imoral. Vivia cercado de criados e cavalos – ainda que não tivesse dinheiro nem para o aluguel. Pior era no amor: sem consideração, trocava de amantes como de roupa – mulheres, homens ou a própria meia-irmã. Diz-se que com ela teve um filho.
Byron até tentou casar e ter uma vida normal. Mas se divorciou da primeira mulher após um ano. Largou uma filha e saiu novamente a viajar pela Europa. Em todos os lugares, deixou corações quebrados, dívidas e polêmica. Foi daí que tirou os motes para Don Juan, sua obra mais famosa e, para muitos, o poema inglês mais divertido e satírico de todos os tempos.
Após anos na Itália terminando os cantos de Don Juan, onde chegou a lutar com tropas revolucionárias contra os austríacos, Byron foi tomado por uma gripe. Começaria a lutar ao lado dos insurretos gregos contra os otomanos, em 1824, quando a febre o matou. Morte romântica, absurda e solitária, ao gosto de um Don Juan psicopata.