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Planeta sal

O platô enorme, do tamanho da Jamaica, tem o chão duro, escorregadio e branco. Às vezes, surge uma ilha de cactos. O cenário é inacreditável. Você está em Uyuni, nos Andes bolivianos, um lago de água salgada. Que secou.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h15 - Publicado em 31 out 1997, 22h00

Ivonete D. Lucírio

Você busca abrigo num oásis, com cactos de até 8 metros de altura. À sua volta, a alvura do enorme deserto plano, chapado. O vento joga os grãos em seu rosto. Seria uma tempestade de areia, mas aqueles são grãos de sal. E a tempestade é gelada. Mesmo com o sol alto, é gelada. Esse incrível deserto é na verdade um lago, tão seco que você pode caminhar sobre toda a sua extensão. Uyuni, o maior lago salgado do mundo, tem 10 600 quilômetros quadrados, uma área do tamanho da Jamaica, ou metade do Estado de Sergipe. Nas próximas páginas, você vai descobrir Uyuni.

E entender por que os aventureiros acham que vale a pena subir 3 600 metros acima do nível do mar para conhecer uma das paisagens mais superinteressantes que existem.

O chão de sal foi gerado por vulcões

“A brancura é tanta que, em dias nublados, não dá para ver onde termina o lago e onde começa o céu”, conta o fotógrafo paulista Ignacio Aronovich, que percorreu a região recentemente. Mas, há 15 000 anos, Uyuni era diferente. O lago tinha água doce e era cercado por vulcões ativos. Foram eles que salgaram a área.

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As erupções despejaram na terra toneladas de lava enriquecida com sais minerais, que foram arrastados pelas chuvas e rios para o lago (veja o infográfico ao lado). Com o tempo, o clima seco evaporou tudo por ali e transformou Uyuni no que os geólogos chamam de salar – uma placa salgada de mais de 200 metros de espessura. “Esse processo acontece até hoje, alimentado pelos raros vulcões ainda ativos”, diz Cláudio Ricomine, da Universidade de São Paulo.

Com isso, Uyuni acumulou 64 bilhões de toneladas de cloreto de sódio (sal de cozinha), mais 150 milhões de toneladas de cloreto de potássio e outras 100 milhões de cloreto de magnésio. Há duas técnicas de extração, ambas primitivas. Ou os trabalhadores simplesmente raspam o chão ou usam machados e picaretas, arrancando os chamados “panes” (pães). São tijolos listrados, em que os três cloretos – de sódio, de magnésio e de potássio – se alternam em camadas. “Quando a gente se perde, uma saída é seguir as marcas deixadas no chão pelas rodas dos caminhões que recolhem os panes”, conta Aronovich. “Elas mostram o caminho para fora do salar.”

Uma sede louca, que pede 5 litros de água por dia

Caminhar pelo salar é como andar de carro, a 60 quilômetros por hora, com a cabeça para fora da janela. Essa é a velocidade do vento. O sal fino que ele carrega cola no rosto e resseca a pele. Se você pensa que vai poder tomar um banho no fim do dia para se livrar do melado, esqueça. Água, ali, é artigo raríssimo. Nem o Hotel de Sal – uma hospedaria toda feita de blocos salinos, instalada no meio do salar – oferece duchas. Também não conte com as chuvas. Elas caem vez ou outra, entre dezembro e fevereiro, e deixam apenas algumas poças de 2 centímetros de profundidade, que evaporam em horas. Além disso, não servem para nada, de tão salgadas que são.

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Ainda assim, vale a pena atravessar o lago em excursões a jipe, para conhecer as belas ilhas que pontilham o deserto branco. A maior delas, a Ilha do Pescado, fica a 2 horas da cidade de Uyuni. No topo, há uma caverna com um inexplicável cheiro de mar. Os que realmente têm espírito de aventura podem acampar por lá. Desde que levem muita água, suco, chá ou refrigerante (a extrema secura faz você beber até 5 litros de líquido por dia, ou seja, três ou quatro vezes mais que o normal). E agasalhos. No verão, a temperatura máxima em Uyuni é de 10 graus Celsius, e no inverno chega a menos 20.

“Mas não tente chegar à ilha sozinho”, aconselha Aronovich. “A chance de se perder é enorme.” Contrate guias na própria cidade de Uyuni ou por meio das agências de viagem (veja o quadro ao lado).

Como tudo se formou

Os canais subterrâneos e os rios carregam os sais minerais de origem vulcânica para dentro do lago.

A lava derramada pelos vulcões (1) é rica em cloreto de sódio e outros sais, como cloreto de potássio e de magnésio. A cada chuva, a água escorre pela encosta do vulcão (2) e arranca da lava os minerais. Os sais são carregados para os rios (3) e grande parte deles se infiltra no solo, até os canais subterrâneos que desembocam no lago. O sol seca o lago (4), principalmente nas margens, deixando as placas brancas à vista. Nas partes mais fundas (5) resta uma lâmina com 2 centímetros de água.

Para ver de perto

Dicas para uma aventura em Uyuni.

Não viaje sem seu kit de sobrevivência: protetor solar, creme hidratante, óculos escuros e agasalho. O ponto de partida é La Paz, capital da Bolívia. Há vôos saindo quase todos os dias de São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus. De lá, a viagem segue por trem ou ônibus. A travessia por trilhos exige paciência: leva 12 horas. Mas é a melhor opção, pois as estradas são muito ruins. É possível organizar o passeio antecipadamente, com uma agência de viagens boliviana. Em La Paz, a Ecological Expeditions (telefone 00 591 2 314172) oferece pacotes de cinco dias. Na cidade de Uyuni há várias agências, na Avenida Ferroviária. Uma delas é a Transandino Tur (telefone 00 591 693 2132). O transporte pelo salar é feito por jipes. Há alguns hotéis na cidade. Mas, para sentir o clima, nada como hospedar-se no Hotel de Sal, no meio do salar. As reservas são feitas nas agências de La Paz ou Potosi.

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