Por que a bandeira do Nepal é tão diferente das outras?
Praticamente todas as bandeiras do mundo são retangulares, mas a do Nepal resistiu às mudanças do tempo – e virou motivo de orgulho para o seu povo
O Brasil já teve dez bandeiras ao longo dos seus quase 530 anos de história. Dos brasões às cores, as mudanças foram muitas, mas uma coisa sempre permaneceu: eram todas retangulares, assim como praticamente todas as bandeiras do mundo. Apenas três não seguem esse padrão: a da Suíça e a do Vaticano, que são quadradas, e a do Nepal, que… bem, é assim:
Formada por dois triângulos aparentemente sobrepostos, ela possui três cores e dois símbolos: o inferior representa o sol e o superior, a lua. A versão atual usada por lá vêm de 1962, após a assinatura da nova Constituição, mas a história por trás desse intrigante símbolo é bem mais antiga.
A adoção de um símbolo único para representar uma nação é um costume relativamente recente. Como o site Atlas Obscura observou em uma reportagem sobre o tema, até o século 17 a ideia de identidade nacional era escassa. Era uma época em que viagens e relações entre pessoas de países diferentes eram coisa rara, e a bandeira servia basicamente como um brasão de armas durante uma guerra – ou para representar a família real que estava no poder.
Com a necessidade de criar símbolos que as representassem, as nações começaram a institucionalizar suas bandeiras, cujos formatos foram ficando parecidos com o tempo (antes, bandeiras como a do Nepal, pontiagudas e triangulares, eram comuns, especialmente na Ásia). E há uma razão para isso. Estandartes retangulares são melhores para serem içados nos mastros dos navios, pois balançam melhor e, assim, facilitam o reconhecimento de longe.
Breve história de uma bandeira
Investigar o passado às vezes é tão difícil quanto escalar o Monte Everest (que por sinal, fica no Nepal). As informações sobre a origem da bandeira são imprecisas, uma vez que elas não tinham tanta importância em tempos remotos. A história das duas flâmulas foi traçada até por volta do ano 450 por um professor acadêmico nepalês, Dayaram Shrestha, mas o símbolo deu as caras mais conscientemente após a unificação do país, no século 19.
As cores usadas refletem a cultura local. Segundo a enciclopédia Britannica, o carmesin (achou que era vermelho? Achou errado) e o azul escuro são tons populares na arte e decoração nepalesas. A explicação para o formato incomum pode vir da tradição dos países do subcontinente indiano, que, historicamente, dão preferência a flâmulas triangulares em relação ao formato tradicional. Após a colonização britânica, apenas a do Nepal resistiu.
O mistério também ronda os símbolos presentes no desenho: o Sol e a Lua, segundo algumas interpretações, representam os Shah e os Ranas, as duas dinastias governantes mais poderosas do Nepal nos últimos 500 anos. Outros dizem que eles significam orgulho e paz, ou ainda permanência.
“A bandeira do Nepal não significa apenas uma coisa; seu significado mudará com o tempo”, diz Scot Guenter, professor do Centro de Pesquisa de bandeiras da Universidade Estadual de San Jose nos EUA, ao Atlas Obscura. Ele não acredita em outra interpretação existe, a que diz que os triângulos representariam o Himalaia (o que seria uma bela referência).
Não há nenhuma lei que proíba um país de usar formatos exóticos ao se criar ou modificar uma bandeira. Inclusive, o próprio Nepal poderia ter adaptado a sua em 1962, mas decidiu fazer o oposto: na Constituição em vigor por lá, há uma seção específica sobre o assunto, que define os ângulos, proporções e padrões de cor exatos para evitar que as pessoas errem a representação da bandeira. Um símbolo tão único, curioso e que resistiu às mudanças do tempo, por fim, virou motivo de orgulho para o povo de lá.