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Por que as notas Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si têm esse nome?

Chegou a um ponto em que não dava para lembrar de todas as músicas de cabeça

Por Victor Bianchin
Atualizado em 15 nov 2025, 14h27 - Publicado em 14 nov 2025, 16h00

No começo da Idade Média, a música era bem diferente do que é hoje: a produção musical era quase totalmente vocal (feita apenas com o canto) e o desenvolvimento da teoria musical era feito sempre dentro das igrejas, a serviço da fé cristã. Para que um cantor pudesse cantar, ele precisava ler um símbolo associado a um som, lembrar do som respectivo e, então, vocalizar de acordo. 

Isso criava um problema: a preservação dos cantos religiosos (a música popular era ainda muito nichada) dependia quase que exclusivamente da memória dos cantores. Como era possível gravar os sons, o melhor que dava para fazer era anotar sequências de símbolos e esperar que a repetição e o hábito conseguissem passar adiante o conhecimento de qual símbolo significava qual som.

Obviamente, isso não era simples, considerando que havia centenas de cantos religiosos e um número limitado de pessoas dispostas a aprendê-los e memorizá-los. É então que entra em cena Guido d’Arezzo (992-1050), um monge beneditino que mudou completamente a notação musical como a conhecemos. Mas, para entender isso, precisamos voltar um pouco no tempo.

Como era antes de Guido d’Arezzo

Solmização é o nome que se dá à atribuição de notas musicais a sílabas. Não se sabe exatamente quando essa prática foi inventada, mas sabemos que ela vem pelo menos desde a Antiguidade, quando músicos gregos usavam nomes de letras ou sílabas para designar notas. Com o tempo, essa ideia de associar símbolos a alturas fixas foi incorporada à tradição romana e, depois, às escolas eclesiásticas medievais.

Nos séculos seguintes, com a evolução do canto gregoriano, outras técnicas de desenvolver a solmização foram criadas, como os intervalos e os graus da escala. Além disso, sob Carlos Magno, o Império Carolíngio promoveu a padronização do canto litúrgico.

No entanto, essas mudanças ainda eram esparsas e não padronizadas, de modo que cada local aprendia e reproduzia música de um jeito.

O que Guido D’Arezzo fez

No começo do século 11, o monge Guido D’Arezzo trouxe várias novidades para o mundo da música:

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Notação em pauta: Antes, os símbolos da notação musical, chamados de neumas, apenas indicavam a direção melódica (subir, descer), mas não a altura exata. Guido propôs o uso de linhas horizontais com cores (vermelha para Fá, amarela para Dó), permitindo fixar graficamente a altura das notas. Assim, os músicos sabiam não só para onde ir, mas de onde começar.

Pauta de quatro linhas: Facilitou o aprendizado do canto, pois a relação entre notas passou a ser visual. Atualmente, usamos a pauta de cinco linhas.

O sistema Ut–Re–Mi–Fa–Sol–La: Aqui ele brilhou, pois criou um método pedagógico em que cada sílaba estava associada a um intervalo fixo na escala (um grau acima do anterior). Bastava bater o olho para entender que, para passar de “Ré” para “Mi”, por exemplo, era preciso subir uma nota inteira na vocalização.

Mas como assim “Ut”? Não era “Dó”? Bem, ainda não.

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O sistema Dó-Ré-Mi

A sequência de sílabas usadas por Guido vem de “Ut Queant Laxis”, um hino a São João Batista muito famoso na Idade Média (e, até onde se sabe, não foi composta por ele). Nesse canto, cada verso começava uma nota acima do verso anterior. Para fazer sua notação, portanto, Guido utilizou a primeira sílaba de cada verso.

UT queant laxis

REsonare fibris

MIra gestorum

FAmuli tuorum

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SOLve polluti

LAbii reatum,

Sancte Iohannes

Primeira estrofe do hino Ut queant laxis eem notação quadrada sobre tetragrama.

Esse sistema criado por Guido foi posteriormente nomeado de solfejo. Mais tarde, no século 17, o teórico musical Giovanni Battista Doni trocou o “Ut” pelo “Dó” porque, no seu entendimento, isso tornava mais fácil ler e pronunciar a nota.

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Se você reparar, o solfejo original usava apenas seis sílabas (Ut–Re–Mi–Fa–Sol–La), o que já bastava para contemplar o canto litúrgico. A partir do século 16, porém, com o desenvolvimento da polifonia e o aumento da complexidade musical, foi necessário ir além.

Foi aí que um teórico musical flamengo (“flamengo” é o gentílico para as pessoas da região de Flandres, que fica na Bélgica) chamado Anselmo de Flandres propôs uma sétima nota, Si, que usava as iniciais das palavras finais do hino. No caso, eram as palavras “Sancte Ioannes”, latim para “São João”. 

Curiosidade: nos países de língua inglesa, “Si” foi trocado por “Ti” para que todas as sílabas começassem com consoantes diferentes. 

Dó-Ré-Mi ou ABC?

O solfejo é utilizado em toda a América Latina e muitos países da Europa, África e Ásia. No entanto, nos países de língua inglesa, como EUA, Reino Unido e a parte não-francesa do Canadá, utiliza-se outro sistema, em que as notas são chamadas de ABCDEFG.

O funcionamento é idêntico. O que muda são apenas os nomes das notas:

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A = Lá

B = Si

C = Dó

D = Ré

E = Mi

F = Fá

G = Sol

Além disso, as anotações de semitons também recebem nomes diferentes. O sustenido (que indica o aumento do som de uma nota em um semitom) é chamado de “sharp”. O bemol (que indica a diminuição do som de uma nota em um semitom) é chamado de “flat”. 

É por isso que, quando pesquisamos tablaturas de músicas na internet, muitas vezes as cifras usam a notação com A, B, C e afins em vez da notação ensinada nas escolas. 

Além do solfejo e do ABC, existem vários outros sistemas de notação no mundo, como a notação javanesa (kepatihan), a notação indiana (sargam), a notação chinesa (jianpu), as notações japonesas e afins, mas todas têm funcionamento parecido.

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