Por que ninguém consegue acabar com a guerra na Colômbia?
O principal motivo é que a enrascada por lá é uma guerra de guerrilhas, um tipo de combate típico de pequenos grupos.
Texto Cristina Charão
O principal motivo é que a enrascada por lá é uma guerra de guerrilhas, um tipo de combate típico de pequenos grupos. Sabendo que não podem bater de frente com um exército mais poderoso, os guerrilheiros colombianos atacam “no varejo”: armam emboscadas, sabotam prédios públicos e praticam seqüestros e extorsões. A tática às vezes dá certo: a resistência guerrilheira foi fundamental para a derrota americana no Vietnã e, agora, é o obstáculo para que os EUA controlem o Iraque. Mas a briga na Colômbia tem outros ingredientes. “O conflito é todo financiado pelas drogas”, afirma a jornalista Constanza Vieira, especializada na guerra civil. Milícias de latifundiários nascem por iniciativa dos traficantes. E guerrilhas que se dizem comunistas, como as Farc e o ELN, garantem seu financiamento taxando a venda de drogas em territórios sob seu controle. Do outro lado do front, o governo torra 6% do PIB em gastos bélicos – proporcionalmente, mais que os ultramilitarizados EUA e Israel. Para alguns especialistas, entretanto, investir só em armas não vai pôr fim a 6 décadas de conflito. “A Colômbia é um país desigual, formado por culturas diferentes – do Pacífico, do Atlântico, da floresta, dos Andes – que nunca se integraram. A solução tem de passar pela construção dessa unidade nacional”, diz André Martin, professor de geopolítica da USP.
Folha corrida
4 milhões de pessoas afetadas em 60 anos de conflito
Razão do seqüestro 2
Não definido – 14%
Político – 21%
Extorsão – 65%
Situação dos seqüestrados 2
Cativo – 13%
Morto – 6%
Libertado / resgatado / fuga – 81%
Expulsos pelas guerrilhas (por ano) 3
2000 – 317 mil
2001 – 341 mil
2002 – 412 mil
2003 – 207 mil
2004 – 287 mil
2005 – 316 mil
Vítimas de extorsão (por ano) 2
2000 – 1,7 mil
2001 – 1,9 mil
2002 – 2 mil
2003 – 2,2 mil
2004 – 2,3 mil
2005 – 1,8 mil
2006 – 1,6 mil
Fontes: 1 Indepaz; 2 Fonde Libertad (dados de extorsão entre 1998 e 2007, dados de seqüestro entre 1996 e 2007); 3 Codhes; 4 Fundación Seguridad y Democracia. Mapas: Divisão Antinarcóticos da Polícia Nacional da Colômbia.
Selva de siglas
Guerrilhas têm 24 mil homens. Efetivo do governo é 20 vezes maior
FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COLÔMBIA (FARC)
INTEGRANTES – de 12 mil a 14 mil 4
EXTORSÕES – 140/ano 2
SEQÜESTROS – 565/ano 2
O QUE QUEREM – Derrubar o governo e implantar o comunismo.
QUANDO SURGIRAM – 1964.
SITUAÇÃO ATUAL – Enfraquecida pela repressão, ainda é a maior guerrilha da Colômbia e o único grupo que não negocia a paz com o governo, apesar da libertação de prisioneiros como Clara Rojas e Consuelo Gonzáles.
EXÉRCITO DE LIBERTAÇÃO NACIONAL (ELN)
INTEGRANTES – de 1 000 a 1,5 mil 4
EXTORSÕES – 32/ano 2
SEQÜESTROS – 449/ano 2
QUANDO SURGIU – 1964.
O QUE QUER – Atualmente diz lutar por reformas contra a desigualdade, e não mais pela tomada do poder.
SITUAÇÃO ATUAL – Nos últimos anos, o ELN perdeu um grande número de INTEGRANTES – na disputa com as forças oficiais e grupos paramilitares. Desde 2006, discute com o governo um plano de desarmamento.
GRUPOS PARAMILITARES
INTEGRANTES – 9 mil 4
EXTORSÕES – 92/ano 2
SEQÜESTROS – 165/ano 2
O QUE QUEREM – São a resposta dos narcotraficantes e latifundiários às guerrilhas de esquerda, que avançavam sobre suas terras e lucros com a cobrança de taxas.
SITUAÇÃO ATUAL – O governo anunciou a desmobilização das milícias – desde 2006, 32 mil pessoas teriam deixado esses grupos. Mas os remanescentes já se reorganizam.