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Por que os incas cavaram milhares de buracos em uma montanha? Estudo traz pistas

Pesquisadores encontraram indícios que podem mudar o entendimento sobre um dos sítios mais enigmáticos dos Andes.

Por Luiza Lopes
10 nov 2025, 18h00

Durante quase um século, o Monte Sierpe (ou “Montanha da Serpente”), no sul do Peru, intrigou arqueólogos. A encosta rochosa, recoberta por mais de 5 mil buracos alinhados com precisão, parecia desafiar qualquer explicação. 

Agora, uma pesquisa publicada na revista Antiquity apresenta a hipótese mais consistente até hoje: o local pode ter sido um antigo mercado de trocas e, mais tarde, um sistema de contabilidade usado por povos indígenas e pelos incas.

Os pesquisadores combinaram mapeamentos com drones e análises microscópicas do solo para examinar o sítio, conhecido também como “Faixa de Buracos”. A investigação revelou padrões numéricos na disposição das cavidades e vestígios de milho e de plantas usadas tradicionalmente para fazer cestos. 

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Os buracos se estendem por cerca de um quilômetro e meio no Vale do Pisco, a 35 quilômetros do litoral. Têm de um a dois metros de largura e meio metro de profundidade, distribuídos em seções ou blocos separados por faixas de terra. 

O padrão das fileiras segue repetições específicas, como séries de sete ou oito buracos, sugerindo um sistema organizado. Essa estrutura se assemelha à de um quipu, o dispositivo de cordas com nós usado pelos incas para registrar tributos e estoques. 

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As análises de sedimentos mostraram pólen de milho e de juncos, plantas que há milênios são usadas para trançar cestos. Isso indica que pessoas depositavam produtos vegetais nos buracos, provavelmente utilizando feixes ou cestos para o transporte. 

O local está em uma região de transição ecológica entre a serra e a costa, conhecida como chaupiyunga, onde diferentes grupos costumavam se encontrar para trocar mercadorias. Essa localização, somada à proximidade com antigas rotas comerciais e centros administrativos incas, reforça a hipótese de que o sítio tenha funcionado como ponto de encontro e de comércio.

O arqueólogo Jacob Bongers, autor principal do estudo, sugere que o Monte Sierpe tenha sido um mercado pré-inca frequentado por agricultores, pescadores e comerciantes.

“Sabemos que a população pré-hispânica aqui era de cerca de 100.000 pessoas. Talvez comerciantes itinerantes e caravanas de lhamas se reunissem no local para trocar produtos locais, como milho e algodão. Vejo esses buracos como um tipo de tecnologia social que reunia as pessoas e, mais tarde, se tornou um sistema de contabilidade em larga escala sob o Império Inca”, afirmou em comunicado.

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O estudo indica que o local foi construído por volta do ano 1000, quando o Vale do Pisco integrava o Reino de Chincha, uma sociedade próspera baseada em agricultura e comércio marítimo. 

Quando os incas conquistaram a região no século 15, reorganizaram os sistemas produtivos e passaram a cobrar tributos em bens e trabalho. Segundo os autores, o Monte Sierpe pode ter sido incorporado a esse sistema, servindo como uma ferramenta física de registro e controle. Cada conjunto de buracos poderia representar um grupo responsável por entregar uma quantidade específica de produtos.

A disposição geométrica dos blocos de cavidades se assemelha à estrutura de um quipu encontrado próximo dali, hoje preservado no Museu Etnológico de Berlim. Para os pesquisadores, essa semelhança reforça a hipótese de que o Monte Sierpe tenha funcionado como um “quipu da paisagem”, um instrumento de contabilidade materializado no terreno.

Khipu
Quipu encontrado próximo de Pisco, hoje preservado no Museu Etnológico de Berlim. (Museu Etnológico de Berlim, fotografia por Claudia Obrocki; licença CC BY-NC-SA 4.0; figura por J. Osborn/Reprodução)
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O trabalho também ajuda a afastar explicações fantasiosas que associavam o sítio a civilizações perdidas ou seres extraterrestres. Nenhuma evidência de fortificações, sepultamentos ou mineração foi encontrada, e a hipótese agrícola é inviável, já que o clima extremamente árido e a falta de água impediriam o cultivo local.

Para Bongers, Monte Sierpe representa um exemplo único de como comunidades antigas modificavam a paisagem para organizar trocas e encontros. “Esta pesquisa contribui com um importante estudo de caso andino sobre como as comunidades do passado modificaram as paisagens para reunir pessoas e promover a interação”, disse. 

Os autores pretendem continuar as investigações com novas escavações e datações por radiocarbono. O objetivo é compreender melhor quando e como o monumento foi construído, além de aprofundar o estudo sobre os sistemas de contabilidade e troca usados por sociedades andinas antes da colonização.

“Ainda há muitas perguntas, mas estamos cada vez mais perto de compreender esse sítio misterioso. É muito empolgante”, concluiu o arqueólogo. 

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