Quem foi o primeiro homem a pisar no Pólo Norte?
O autor se inclina para o lado de Cook. E deixa um alerta: até o fim do século, é provável que o gelo da polêmica derreta sem que saibamos, de fato, quem chegou lá primeiro.
Bruno Vieira Feijó
Norte verdadeiro
Bruce Henderson, Objetiva, R$ 50, 346 páginas
Em 1909, o médico Frederick Cook anunciou com pompa, em Nova York, ter sido o primeiro homem a pisar no Pólo Norte. Cinco dias mais tarde, o engenheiro Robert Peary proclamou o mesmo feito. As declarações quase simultâneas provocaram polêmica. Peary, no entanto, soube mobilizar a opinião pública a seu favor. E acabou levando o crédito pelo pioneirismo. Como a dúvida jamais foi desfeita, Henderson decidiu reconstituir a trajetória. Ironicamente, elas começaram juntas – Cook foi médico de uma expedição de Peary. O autor se inclina para o lado de Cook. E deixa um alerta: até o fim do século, é provável que o gelo da polêmica derreta sem que saibamos, de fato, quem chegou lá primeiro.
Guerra do gelo
Passo a passo, a disputapara ser o primeiro homem apisar no Pólo Norte
Cook
PARTIDA: Cook saiu de Etah. Dali ao pólo, são 1 126 km. Cook levantou âncora em dezembro de 1907 rumo à ilha de Axel Heiberg, caminho até então inexplorado. O frio de –40 oC provocava queimaduras quando a pele tocava o metal do barco.
PONTO-CHAVE: Na ponta mais ao norte de Axel Heiberg, Cook abandonou material para aliviar o peso. Dali em diante, seriam só paredões de gelo e mar congelado. Em 18 de março de 1908, Cook se despediu dos nativos. Tigishi ah yaung-uluk! (“Rumo ao Grande Prego!”), responderam. É como chamavam o pólo. Restavam 963 km.
CHEGADA: Teria acontecido no dia 21 de abril de 1908. Mais difícil ainda foi a volta, que durou mais de um ano. Na região de Esparbo, a trupe passou fome e se alimentou de pedaços de vela e couro fervido. Ainda enfrentaram nevascas na ilha de Ellesmere, para, enfim, alcançar o norte da Groenlândia, lar dos nativos.
Peary
PARTIDA: Depois de 7 tentativas frustradas ao longo de 22 anos, Peary iniciou sua expedição ao pólo partindo de Etah em agosto de 1908. Arrebanhou famílias de esquimós para auxiliá-lo em direção ao cabo Sheridan.
PONTO-CHAVE: Em fevereiro de 1909, a equipe teve de abandonar seu navio na região do Sheridan. Dali partiu para a escalada de espinhaços de gelo que tinham a altura de uma casa e até 40 km de extensão – o trecho mais árido da aventura. A qualquer momento, trenós corriam o risco de romper o gelo da superfície e cair em águas gélidas.
CHEGADA: Supostamente, aconteceu em 6 de abril de 1909. Mas, segundo Henderson, o local não poderia ser o pólo. Para chegar lá, Peary precisaria ter viajado 55 km por dia na etapa final. A velocidade máxima da expedição, no entanto, girava em torno dos 24 km por dia.