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Roberto Landell de Moura

Ele foi o primeiro a transmitir a voz humana pelas ondas do rádio. E quase ninguém o conhece, até hoje...

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h15 - Publicado em 8 mar 2013, 22h00

Roberto Landell de Moura, ou o padre Landell, como gostava de ser chamado, é o exemplo clássico do cientista que trabalha num país incapaz de apreciar e apoiar seu trabalho. No caso, o Brasil do final do século 19.

A despeito de sua posição na Igreja Católica, Landell jamais enxergou barreiras para o estudo das ciências. Para ele, não havia limites para onde a razão humana pudesse chegar. O espírito arguto em alguns casos o levou a ficar em rota de colisão com os líderes de sua fé, como quando mexeu com hipnotismo e espiritismo (o que lhe valeu uma repreensão formal das autoridades católicas).

Contudo, sua mais notável contribuição à ciência foi nas telecomunicações, desenvolvendo diversos dispositivos devidamente patenteados, como um transmissor de ondas, um telefone sem fio e um telégrafo sem fio.

FORMAÇÃO

Landell nasceu em Porto Alegre, em 1861, mas a maior parte de seus estudos avançados se deu no exterior. Embora sua carreira científica tenha começado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, foi em Roma, na Itália, que ele se formou em física e química, além de teologia, sendo ordenado padre em 1886. De volta ao Brasil, prosseguiu nos estudos iniciados na Europa e no final do século 19 já fazia demonstrações notáveis de seus inventos.

Entre 1893 e 1894, Landell transmitiu a voz humana por meio de ondas eletromagnéticas a partir do Colégio das Irmãs de São José (hoje Colégio Santana), no alto do bairro de Santana, em São Paulo, até a Avenida Paulista, por uma distância de 8 km.

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Ocasionalmente a imprensa deu destaque aos feitos do cientista brasileiro, que obteve patentes no Brasil e nos Estados Unidos para seus inventos. Contudo, faltou-lhe apoio institucional para ir além das demonstrações mais básicas. Isso sem falar no preconceito do povo ignorante, que passou a tratá-lo como “herege” e “feiticeiro” após ter seus feitos divulgados.

Em 1900, constatada a falta de suporte no Brasil, Landell pretendeu doar seus inventos ao governo britânico – o que acabou não acontecendo. Depois de uma estadia de três anos nos EUA, em 1905, o inventor tentou novamente chamar a atenção das autoridades de seu país. Enviou uma carta ao Presidente da República, Rodrigues Alves, solicitando dois navios da esquadra de guerra para demonstrar inventos que revolucionariam a comunicação.

Em defesa do presidente, deve-se dizer que houve um interesse inicial. Mas, quando Landell foi questionado sobre a distância que deveria separar os navios, teria dito a um assessor presidencial que deveriam estar tão longe quanto possível, uma vez que seu invento tinha um alcance que se estendia pelo globo – e poderia até servir para comunicação interplanetária.

Hoje a Nasa tem a sua Deep Space Network, rede de antenas espalhadas pelo mundo que faz exatamente isso, mantendo contato com sondas espalhadas por todo o Sistema Solar. Mas imagine falar de algo do tipo em 1905. Landell foi tido como “maluco” e seu pedido foi negado.

Documentos de 1904 demonstram que o inventor também estudava formas de transmitir imagens sem fio – um precursor da televisão.

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“Dotado de uma mente brilhante, o padre Landell foi um inventor fantástico, não reconhecido e ofuscado pela ignorância em sua época”, diz Hamilton Almeida, autor da biografia mais completa do inventor. Tanto que hoje, apesar de demonstrações baseadas em suas patentes confirmarem a eficácia de suas invenções, quase ninguém conhece o padre cientista. i

QUEM INVENTOU O RÁDIO?

Tradicionalmente, a invenção do rádio é atribuída a Guglielmo Marconi. O então jovem inventor italiano, com apenas 20 anos, realizou seus primeiros experimentos bem-sucedidos fazendo tocar um sino do outro lado de uma sala pressionando um botão telegráfico na bancada. Isso aconteceu em 1894.

A essa altura, o padre Landell já estava transmitindo a voz humana a uma distância de 8 km, em São Paulo. Marconi, por sua vez, se concentrou mais no desenvolvimento da telegrafia sem fio, e só foi transmitir a voz humana em 1914.

Uma grande diferença entre o inventor brasileiro e o italiano estava no apoio recebido para prosseguir nas experiências. Enquanto Rodrigues Alves se negou a oferecer navios para os experimentos de Landell, o governo italiano ofereceu a esquadra inteira a Marconi e encorajou-o a desenvolver um sistema completo de comunicação à distância.

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Por levar seus experimentos a um estado prático e comercial, o italiano ficou com todo o reconhecimento. Inclusive foi agraciado com o Prêmio Nobel em 1909. Landell, em compensação, foi relegado ao esquecimento.

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