Sexo: Prazeres proibidos
A humanidade sempre criou tabus para reprimir o sexo. Alguns persistem até hoje.
Débora Lerrer
O sexo nunca foi realmente livre. Aliás, quando se trata de proibição, poucos temas sofreram uma marcação tão cerrada. Todas as sociedades bolaram alguma maneira de reprimi-lo, por motivos variados. Essas tarjas pretas impostas a algumas práticas sexuais são conhecidas como tabus – palavra polinésia que significa algo sagrado ou intocável.
Como toda regra social, os tabus sempre nascem com uma razão de ser. “Eles são instituídos para proteger a comunidade contra os desejos individuais”, disse à SUPER a psicanalista paulista Maria Rita Kehl. Se tudo fosse permitido, um pai poderia, por exemplo, manter livremente relações com a filha, gerando um duplo problema. O primeiro, genético: as crianças resultantes estariam mais propensas a doenças hereditárias. Além disso, a jovem provavelmente deixaria de se casar com algum rapaz de outro clã. “Se todo mundo fizesse isso, os laços sociais não existiriam”, afirma o antropólogo Edward McRae, professor da Universidade Federal da Bahia.
O veto ao incesto é o único dos tabus sexuais a resistir à mudança de costumes que caracteriza a sociedade moderna. O homossexualismo, antes perseguido, é cada vez mais aceito como uma prática normal, embora ainda persistam preconceitos. A virgindade, na prática, deixou de ser uma condição para o casamento e o adultério, nos países mais desenvolvidos, não é mais encarado como um crime. Virou uma questão a ser resolvida no âmbito de cada casal.
O calvário dos gays
Na Grécia antiga, as relações com o mesmo sexo não eram desonra para ninguém. Na Idade Média, os homossexuais passaram a ser perseguidos como criminosos – segundo a Igreja Católica, o sexo só deveria servir para a reprodução. Na Alemanha nazista os gays eram dizimados em campos de concentração e na Inglaterra, até 1967, condenados à cadeia.
Quem sabe é super
O artigo 219 do Código Civil brasileiro, em vigor desde 1947, prevê a anulação do casamento se o marido descobrir que a mulher não é mais virgem.
O mito da primeira vez
O tabu da virgindade nasceu nas primeiras sociedades agrícolas, há 10 000 anos. O marido queria ter certeza de que o primeiro filho – o herdeiro de seus bens – era mesmo seu. Com o tempo, o tabu se transformou num símbolo da supremacia masculina. A idéia de ser “o primeiro” ganhou tal importância que, na Idade Média, os senhores feudais se arrogavam o direito de deflorar as jovens camponesas antes que elas se casassem. No sul da Itália, os recém-casados eram obrigados até recentemente a exibir o lençol manchado com o sangue da noite de núpcias para provar que a noiva era virgem. Com a ampliação dos direitos das mulheres, a partir dos anos 50, esse tabu entrou em declínio.
A tragédia de Édipo
O caso de incesto mais famoso do mundo aconteceu na Grécia, há mais ou menos 2 400 anos. Pelo menos na ficção. Na peça Édipo Rei, do dramaturgo grego Sófocles (496-406 a.C.), o protagonista, rei de Creta, se apaixona por uma mulher, Jocasta. Casa-se com ela, mas não sem antes matar seu marido, Laio. Os deuses, enfurecidos com o duplo pecado, mandam todo tipo de desgraça ao reino. Mais tarde, o rei descobre que Jocasta era sua mãe – e Laio, seu pai. Com vergonha fura os próprios olhos. Inspirada pela tragédia grega, a Psicanálise hoje chama a atração do filho pela mãe de complexo de Édipo.
Todos os anos, 2 milhões de mulheres são vítimas de um costume horrendo – a extirpação do clitóris, parte mais sensível de seu aparelho genital. A amputação tem o objetivo de diminuir o desejo sexual feminino, tido como uma ameaça à estabilidade das famílias. Na foto, virgens que acabaram de sofrer a mutilação na Costa do Marfim, um dos 28 países da África onde ainda se pratica essa atrocidade
Na Idade Média, a Inquisição encarava a sexualidade feminina como algo tão perigoso que podia levar à possessão demoníaca. Se alguma mulher ficasse com fama de promíscua, era logo acusada de ser bruxa, com sério risco de acabar na fogueira