Sociedades desiguais faziam mais sacrifícios humanos, diz estudo
Em civilizações antigas, matar pessoas com motivações ritualísticas tinha muito mais a ver com manter o poder da elite do que com religião
Civilizações antigas tinham rituais de deixar qualquer um arrepiado – como os sacrifícios humanos. Parece uma violência sem sentido, certo? Bem, por mais estranho que pareça, havia um sentido. E bem mais cruel do que você imagina: mostrar aos mais pobres, que eram os alvos dos sacrifícios, quem mandava ali. Não à toa, quanto mais desigual era a sociedade, mais comuns eram esses rituais.
Mas ninguém aceitaria numa boa, se não houvesse uma desculpa razoável. Por isso, ao que tudo indica, os donos do poder usavam motivos religiosos como justificativa para seguir as matanças. Enquanto, na verdade, o único interesse era manter o status quo – e os líderes na sociedade.
É o que arqueólogos neozelandeses concluíram após analisarem 93 sociedades antigas da Austrália, Polinésia e Nova Zelândia. Eles identificaram 20 comunidades igualitárias, familiares e sem classes e outras 27 estratificadas – ou seja, formadas por uma elite bem estabelecida no poder e outras camadas sociais mais baixas.
E eles perceberam que apenas 5 das sociedades igualitárias praticavam sacrifício humano, enquanto entre as desiguais o número subia para 18. Concluíram, então, que os sacrifícios, ainda que tivessem alguma motivação religiosa ou espiritual, serviam na prática para manter a desigualdade, justificando e fortalecendo o poder das elites.
Entre as formas de sacrifício catalogadas pelos arqueólogos, as mais comuns eram esmagar a pessoa sob um barco recém-construído ou atirá-la de uma nova construção para, depois, decapitá-la. Isso foi lido pelos cientistas como uma forma de a elite demonstrar o seu poder. É como se quem estivesse no comando dissesse “ei, não mexa comigo e fique bem quietinho, porque o próximo a ser esmagado sob esse barco que eu construí pode ser você”.