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Sou nerd, mas tô na moda

Ou como os garotos mais estranhos do colégio conquistaram o mundo

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h26 - Publicado em 31 out 2007, 22h00

Texto Bruno Garattoni

Você sabe o que é um nerd: aquele cara meio estranho, sem vida social, que adora ciência e tecnologia e tem hobbies obscuros (tipo colecionar gibis japoneses). Se alguém o chamar de nerd – ou de geek, um subtipo nerd, mais descolado e viciado em brinquedos tecnológicos, provavelmente não está fazendo um elogio. Ou está? Por incrível que pareça, o nerdismo está na moda. Olhe na TV e no cinema e você perceberá isso.

Até o fim dos anos 90, as séries mais populares eram as comédias urbanas, como Friends e Seinfeld. Em 2007, muitos dos sucessos da programação têm uma queda nerd: seja solucionando crimes com alta tecnologia (os detetives de CSI), reinventando a medicina (o ca­beçudo doutor de House), discutindo conceitos da física (as teorias por trás de Lost) ou criando computadores (em Heroes). Essa overdose científica não acontece à toa. É o resultado de uma tendência: a temática dá boa audiências e as emissoras resolvem investir mais dinheiro nela. Tanto que uma das maiores a­postas para a temporada é a série The Big Bang Theory (“A Teoria do Big-Bang”), onde os protagonistas, físicos do Instituto de Tecnologia da Califórnia, tentam conquistar garotas declamando conceitos da Teoria da Relatividade. No horário nobre.

Na 1ª semana de outubro, que marcou a estréia da temporada 2007 nos EUA, 3 programas nerds lideraram a audiência: House, Bionic Woman e CSI. (A conta não inclui as hiperpopulares Lost e Heroes, que continuam de férias.) CSI foi tão bem-sucedida que deu origem a duas outras séries – CSI New York e CSI Miami. Juntas, elas são seguidas por mais de 2 bilhões de pessoas, em 200 países. “Agora, ser geek é legal”, anunciou o vice-presidente da rede NBC, que já tinha Heroes e acaba de lançar Chuck, sobre um nerd que recebeu no cérebro o download de informações sigilosas.

Dá para ver o fenômeno na música também. O indie rock é a aposta das gravadoras para ganhar dinheiro e sobreviver ao inferno dos downloads piratas. O cinema também está na onda. Só para citar um exemplo, o veterano Bruce Willis, último dos heróis de ação, se rendeu em Duro de Matar 4.0 – mesmo com toda a sua força, para vencer os bandidos ele teve de pedir a ajuda, veja só, de um hacker.

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É o caso de perguntar o que está acontecendo com o mundo. Como aqueles meninos que babavam na gola, os mais ridicularizados do colégio, foram alçados a heróis dos nossos tempos? “Os nerds são muito mais importantes e necessários atualmente”, explica o jornalista americano Neil Feineman, autor do livro Geek Chic – The Ultimate Guide to Geek Culture (“Guia da Cultura Geek”, sem versão em português). Quando Bill Gates começou a fazer fortuna, nos anos 80, passar a tarde no computador era motivo de chacota. Hoje, é impossível viver longe de um pc. A sua vida está cada dia mais digital – e esse é um caminho sem volta. É aí que entram os nerds: são eles que vão nos guiar à terra prometida da revolução tecnológica. Vão consertar o computador de casa, recomendar softwares e ensinar a usar todos os recursos do iPhone. De quebra, vão explicar todos os mistérios de Lost! Repare na diferença: o novo nerd é um cara legal, cujas habilidades são socialmente desejáveis – um sujeito que mesmo você, que não é nerd (ou é?), gostaria de ter como amigo.

Além de mais importantes, os novos nerds estão cheios da grana. “Hoje, você pode fundar uma empresinha de internet e ficar famoso e milionário, como se fosse um astro do rock”, diz Feineman. Já ouviu falar nos donos do Google? Nos YouTube boys? No fundador do Facebook, 23 anos de espinhas na cara e proprietário de um site que pode valer US$ 5 bilhões? Todos nerds. E ricos. Nos EUA, o setor de tecnologia paga um salário mensal médio de US$ 9 200. Entre todos os setores da economia, só o mercado financeiro remunera melhor. Isso sem falar nas grandes empresas do ramo, que cobrem de mimos seu exército geek: o Google é considerado o melhor lugar do mundo para trabalhar.

Com tanta popularidade – agora todo mundo quer ser nerd! – era natural que o mercado cultural refletisse as mudanças. A indústria dos games, passatempo preferido desse pessoal, já supera Holly­wood: fatura US$ 13,5 bilhões anuais, contra US$ 9,5 bilhões dos estúdios de cinema. Até o perfil do jogador mudou: neste ano, pela primeira vez uma pesquisa mostrou as mulheres como maioria entre os gamers. Tudo graças aos jogos online e ao console Wii, da Nintendo, que inaugurou uma nova maneira de jogar, simples e acessível.

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É apenas mais uma prova de que a tecnologia saiu do gueto dos garotos com espinhas. Ouça um grupo de meninas e você perceberá que elas falam sobre internet, não vivem sem iPod, sem blog, sem perfil no orkut. As pessoas comuns estão ficando mais nerds – e os nerds estão ficando mais normais.

Isso não quer dizer, claro, que eles sejam totalmente normais. Alguns ainda estão longe disso. Imagine que, ao ver a namorada triste, o rapaz queira dizer algo para acalmá-la. “A vida é cheia de paradoxos. Como a luz, por exemplo. Ela é uma onda, mas aí veio Einstein e mostrou que ela também se comporta como partículas.” Ainda existem coisas que só meganerds, como o físico Leonard, protagonista de The Big Bang Theory, é capaz de fazer.

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Nerdismo clássico, neonerdismo, descolados e CDFs: quem é quem no mundo das pessoas intelectualmente favorecidas.

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