Theodore Roosevelt, ex-presidente americano, mapeou um dos últimos rios brasileiros em 1914
Cansado da política, Roosevelt decidiu que queria explorar a Amazônia – e quase morreu durante a expedição. Conheça essa história, retratada em uma nova minissérie da HBO Max.
Muita gente escolhe mudar de carreira depois dos 50. Theodore Roosevelt já havia sido governador de Nova York e presidente dos Estados Unidos duas vezes quando chegou ao quinquagésimo primeiro aniversário. Ele até tentou se eleger novamente, mas perdeu nas urnas. Aos 55 anos, ele já estava cansado da política.
A tentativa de sair do marasmo trouxe Roosevelt para o Brasil, resultou em contribuições importantes para a ciência e quase custou a vida do ex-presidente. Essa história inspirou a nova minissérie da HBO, chamada O Hóspede Americano. A produção é dirigida por Bruno Barreto e protagonizada por Aidan Quinn, no papel de Theodore Roosevelt, e Chico Diaz, como o explorador Cândido Rondon. Abaixo, conheça os detalhes da aventura.
A Expedição Científica Rondon-Roosevelt
A oportunidade de mudar de vida surgiu quando Roosevelt foi convidado a dar uma palestra na Argentina. Ele aproveitou a viagem para conhecer a Amazônia, afirmando que seria “sua última chance de ser um garoto”. Em 1913, o ex-presidente propôs uma expedição científica à floresta para coletar exemplares da flora e fauna nacionais, e levou consigo naturalistas do Museu Americano de História Natural. Quem os guiaria seria o Marechal Cândido Rondon, um explorador brasileiro de origem indígena.
Só que Rondon não queria ser guia turístico de gringo, e disse que aceitaria a proposta apenas se a expedição tivesse maior caráter científico. Roosevelt, então, topou fazer uma expedição para desbravar o Rio da Dúvida – que tinha esse nome justamente porque ninguém sabia onde ele iria desaguar. Era um dos últimos rios não cartografados do Brasil.
O rio havia sido descoberto pela primeira vez em 1909, durante uma expedição que Rondon fez para a construção de uma linha telegráfica. Ele suspeitava que o Rio da Dúvida seria afluente do Rio Amazonas. A viagem com Roosevelt (com o perdão do trocadilho) era a oportunidade de tirar a dúvida de vez.
A expedição começou com 15 pessoas e durou cinco meses (dois deles foram gastos só para chegar ao rio). Para o ex-presidente, onças-pintadas não representavam perigo – ele caçou algumas no início da viagem. O problema mesmo eram os mosquitos. Cândido Rondon escreveu que, certa noite, Roosevelt precisou sair escondido do acampamento, incomodado com as picadas nas nádegas durante o sono.
Mas o pior foi que a expedição quase custou a vida de Roosevelt diversas vezes. Uma cobra picou sua perna, mas as presas não atravessaram a bota de couro para inocular o veneno. Ele sofreu com febre – provavelmente resultado de uma doença tropical transmitida por mosquitos – e até teve que passar por uma cirurgia na floresta após ter cortado a perna em uma cachoeira.
A expedição terminou no dia 26 de abril de 1914, quando a equipe atingiu a confluência do Rio da Dúvida com o Rio Aripuanã. Roosevelt perdeu um quarto de seu peso, e só estava vivo graças à ajuda de Rondon e dos seringueiros da região.
Após a expedição, o Rio da Dúvida foi rebatizado de Rio Roosevelt. Doze anos depois, uma nova expedição até lá confirmou os achados de Roosevelt e Rondon. O rio possui 679 quilômetros de extensão e diversas corredeiras; nasce no estado de Rondônia (que, sim, deriva de “Rondon”), passa por uma parte do Mato Grosso, entra no Amazonas, se funde com o Rio Aripuanã e torna afluente do Rio Madeira – que, por sua vez, é um dos principais afluentes do Rio Amazonas.
A aventura é contada em detalhes no livro O Rio da Dúvida – A Sombria Viagem de Theodore Roosevelt e Rondon pela Amazônia, da autora Candice Millard. O primeiro de quatro episódios de O Hóspede Americano foi lançado no último domingo (26) no serviço de streaming HBO Max.