Cenoura européia é outra coisa
Comunidade Econômica Européia transforma a cenoura em fruta, num pedido de Portugal, que é grande produtor de geléia da raiz.
Atenção, botânicos: se alguém disser que o vegetal Daucus carota, popular fornecedor de vitamina A, pode ser uma fruta e não uma raiz, como a ciência houve por bem classificar, contenham o impulso de enfiar uma cenoura goela abaixo do cidadão – ao menos na Europa de 1991, ele não esta de todo errado. Ocorre que, na vasta plantação de regulamento que governa os negócios da Comunidade Econômica Européia (CEE), está escrito que, para gozar das vantagens do livre comércio entre os países membros, o produto chamado geléia só pode ser feito de fruta.
Ora, pois, como os portugueses apreciam geléia de cenouras e querem propagar além-fronteiras o pitéu confeccionado com secular engenho e arte, foram queixar-se aos fazedores de regras da nova Europa, instalados em Bruxelas. Ente a conveniência diplomática e a fidelidade às realidade da natureza, os eurocratas não hesitaram: mandaram às favas os escrúpulos de ciência e decretaram que, a contar do primeiro dia deste ano, cenoura também é fruta. Resta saber como fica a situação do tomate, fruta às vezes usada para fazer geléia, mas que na festança comercial européia entra travestida de legume.