O homem do fundo do mar
Mergulhador-cientista passa 12 dias morando debaixo d¿água - e de maneira sustentável
Texto Rafael Tonon
Será mesmo que é possível viver de forma isolada, independente e auto-sustentável? Ao que o experimento do australiano Lloyd Godson indica, isso é perfeitamente possível, sim. O biólogo marinho passou 12 dias morando em uma caixa de aço de 14,4 m2 de área, que foi mergulhada a 5 metros de profundidade em um lago localizado na região de Wonga, na cidade de Albury, no sudeste australiano.
O oxigênio da casa era produzido pela fotossíntese de algas verdes (Chlorella vulgaris) que o cientista plantou no cubículo subaquático. As algas também tiravam do ar o gás carbônico liberado por ele. Por segurança, porém, o biólogo contava com um compressor de mergulho que oferecia uma dose extra de oxigênio, se necessário. Para matar a sede, uma máquina transformava a umidade do ar em água. Quando queria fazer xixi, aproveitava para regar as plantas. O “número 2” era jogado em uma caixa hermeticamente fechada e ficava ali, guardadinho, lacrado. Todo dia o biólogo se exercitava na bicicleta ergométrica que, além de manter o condicionamento físico, gerava energia elétrica para recarregar o laptop.
Godson teve a idéia de morar por uns dias debaixo d’água quando foi convidado a participar de um concurso promovido pela revista Australian Geographic. Ele venceu com seu projeto e ganhou US$ 50 mil para construir a sua casa de aço. O australiano se prepara agora para um experimento ainda mais ousado: a convite da Nasa, Godson vai passar alguns dias na Atlântica, comunidade submersa que a agência espacial americana pretende inaugurar em maio de 2009. Esse será o mais importante passo para estudar a viabilidade de uma cidade submarina.
Quem nada quer casa
A moradia do australiano tinha energia gerada por bicicleta ergométrica e muita alga
Energia limpa
Uma bicicleta ergométrica foi modificada para transformar a força das pedaladas de Godson em corrente elétrica de 12 watts. É com essa energia que ele carregava o laptop.
Saída de emergência
O contêiner foi vedado para impedir a entrada de água, fazendo com que se tornasse uma verdadeira fortaleza de aço. Em caso de emergência, o cientista só conseguiria sair por esta abertura de vidro no fundo, acionada eletronicamente.
Peso pesado
Para que o contêiner de 2 toneladas ficasse submerso na água sem boiar (já que o recheio era de ar), foram necessárias 6 vigas de concreto que, juntas, pesavam mais de 28 toneladas.
Luz do sol
A caixa de aço foi equipada com 16 painéis solares de 62 watts que mantinham a luz artificial do contêiner acesa 24 horas por dia para que as algas verdes pudessem fazer fotossíntese.
Planta multiuso
O biorreator fotossintético era responsável por oferecer iluminação às algas, que ficavam mergulhadas nesta espiral captando o CO 2 e liberando O 2. As algas ainda serviram de alimento, já que são ricas em proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais.
Bons ares
O monitor media a concentração de O 2e CO2 no ar. Caso o nível de gás carbônico superasse o de oxigênio, um alarme era emitido. Aí bastava Godson usar o compressor de mergulho para respirar numa boa.