Erasmo de Roterdã: “Toda educação saudável é uma educação sem controle religioso”
A vida e as ideias do monge que se tornou violentamente anticlerical - e escreveu um livro que inspirou a Reforma Protestante
Um monge que criticou a doutrina da Igreja, detestava morar no convento e acreditava que o mundo material não era tão ruim assim. Esse era o filósofo e escritor holandês Erasmo de Roterdã. Filho bastardo de um padre, Erasmo também se formou em teologia, mas defendia uma educação longe dos clérigos. Louco?
Talvez. Mas ele próprio dizia que a loucura era uma das virtudes que garantiram a felicidade. Erasmo via na loucura uma parte essencial do homem, o atributo que pode nos trazer as alegrias mais sinceras. Como bom discípulo do desvario, ele criou em sete dias sua obra mais célebre, Elogio da Loucura, onde a própria insanidade é a narradora da história.
No livro, dirigiu críticas mordazes a doutrinas e valores hipócritas da Igreja, que já não se mostrava tão santa assim. Foi um dos primeiros autores a enfrentar os dogmas que guiavam o poder medieval, propondo uma educação livre do controle religioso. Fora da Itália, o teólogo era considerado um dos grandes líderes do pensamento humanista, movimento que pregava o homem como dono de sua própria vida. As ideias renascentistas de Erasmo inspiraram Lutero na Reforma Protestante. Porém, o monge holandês não se juntou ao movimento. Guiado por um espírito independente, preferia não se filiar a nenhum extremo. Para externar sua posição, criou o sermão Sobre o Livre Arbítrio, indo contra uma das ideias centrais de Lutero. Para Erasmo, apesar do homem ter o poder de fazer suas escolhas livremente, ele nunca encontraria a salvação sem a graça divina. Ele defendia um retorno às crenças sinceras, um contato com Deus sem intermédio de missas, padres ou confessionários.