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34 provas de que “Harry Potter” mudou o mundo para sempre

Vinte e três anos após "A Pedra Filosofal", J.K. Rowling e seus personagens fizeram mágica no mercado editorial, em Hollywood e até no caráter dos leitores.

Por Giselle Hirata
Atualizado em 22 fev 2024, 10h10 - Publicado em 19 out 2017, 12h26
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(Sapo Lendário/Mundo Estranho)

NA EDUCAÇÃO E CIDADANIA

1) Amigos do HP
O impacto mais conhecido da saga foi despertar em muita gente o interesse pela leitura. De repente, os jovens estavam lendo. Lendo MUITO. E não foi modinha: as estatísticas indicam que J.K. Rowling criou e fidelizou um novo público. “Mesmo após a publicação da última aventura do bruxo, em 2007, os fãs continuaram procurando por obras similares para continuar lendo”, explica Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

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2) Não é só fantasia
Especialistas acreditam que os livros podem despertar o interesse do leitor em vários temas mais tradicionais:
Política: A ditadura de Dolores Umbridge e a desobediência civil da Armada de Dumbledore
Psicologia: Autoestima, luto, superação etc.
História: Mitologia grega, nórdica e celta
Física: Viagens no tempo (vira-tempo) e no espaço (aparatação)
Fé e Misticismo: Diversas profecias e as aulas de adivinhação da professora Sibila
Ética: Discussões sobre tratamento dos animais e clonagem (com o polissuco)
Comunicação: O papel da imprensa na sociedade, graças ao sensacionalismo de Rita Skeete
Esporte: As estratégias e o espírito de equipe do quadribol

3) No currículo escolar
Já imaginou estudar interpretação de texto com A Pedra Filosofal? Não é uma ideia tão maluca assim. “Muitos professores já perceberam a importância de deixar o aluno escolher o que quer ler para, depois, introduzir algo mais clássico”, diz Torelli. Faz sentido: no Brasil, 47% dos jovens de 14 a 17 anos dizem que a principal motivação para ler é “por gosto ou interesse pessoal”. Só 21% querem ler “por indicação da escola”.

4) Mais amor, por favor
Um estudo feito no Reino Unido e na Itália e publicado no Journal of Applied Social Psychology indicou que a série diminuiu o preconceito e melhorou a empatia dos jovens. Quem lia HP tinha melhores atitudes em relação a imigrantes e à população LGBT e conseguia entender que o apoio de Harry aos “sangues-ruins” era uma alegoria para a tolerância. Pelo mesmo motivo, uma pesquisa publicada no Journal of Political Science and Politics mostrou que os fãs dos EUA eram menos propensos a votar no candidato à presidência Donald Trump.

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NO MERCADO EDITORIAL

5) Jovem adulto
Harry Potter foi um fenômeno tão grande que criou seu próprio gênero: Young Adult (YA), uma literatura jovem com temáticas mais adultas. Hoje, esse tipo de livro ganha espaço de destaque em todas as livrarias. Mesmo adultos não resistem: no auge do sucesso do bruxinho, editoras lançaram versões dos livros com capas mais discretas, para não constranger marmanjos que liam em público.

6) É uma longa história
Antes, havia uma regra implícita no mercado editorial de que livros juvenis precisavam ser curtos e ilustrados, para prender a atenção do público. Séries com vários volumes também eram evitadas pelas publicadoras, que temiam perder dinheiro caso o primeiro título não vendesse bem. Nem precisamos dizer que HP estraçalhou essas regras, né?

7) Girl power
Outra “regrinha secreta” vencida por J.K. Rowling: o suposto preconceito de adolescentes masculinos contra escritoras. Foi por isso, inclusive, que ela teve de abreviar suas iniciais. Seu sucesso abriu as porteiras para que outras escritoras brilhassem, como Suzanne Collins (Jogos Vorazes) e Stephenie Meyer (Crepúsculo). Autoras de livros de terror ou de tramas policiais também ganharam espaço.

8) A próxima geração
Boa parte dos autores de hoje foram apresentados à literatura por HP. “Jovens de 18, 21 e 25 anos estão sendo contratados por editoras. Isso não acontecia 15 anos atrás”, diz Almeida. “HP foi um fenômeno de proporções até então inimagináveis. Isso ampliou o interesse das editoras pela literatura juvenil”, diz Monica Figueiredo, da Rocco, que publicou a série no Brasil.

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9) A turma do Wattpad
Com tantos novos autores, muitos sendo inspirados por Rowling, as plataformas virtuais de autopublicação se tornaram uma importante ferramenta para as editoras. Além de descobrirem talentos escondidos, as redes sociais literárias servem como fonte de prospecção de futuros best-sellers – levando em consideração, por exemplo, quantos seguidores um autor tem.

10) Bienal de cara nova
Motivada pela febre Potter, a Bienal do Livro passou a promover cada vez mais encontros entre fãs e escritores de YA. Em 2012, dos 170 autores convidados, 24 eram de YA, como Cecily von Ziegesar (Gossip Girl). Em 2014, foi a vez de Cassandra Clare (Os Instrumentos Mortais) e Kiera Cass (A Seleção). Em 2016, foram 41 autores, como Jennifer Niven (Por Lugares Incríveis).

11) Pegaram o vácuo
Sabe aquele ditado “A maré alta levanta todos os barcos”? A boa venda de Harry Potter ajudou também os grandes clássicos da fantasia. “Os leitores queriam continuar lendo e não conseguiam esperar até o lançamento do próximo volume”, lembra Almeida. Foi nessa época que O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis, e A Bússola de Ouro, de Philip Pullman, foram redescobertos.

12) Filão editorial
A abertura do nicho provocou uma onda de livros YA: Crepúsculo, Jogos Vorazes, Percy Jackson, A Culpa É das Estrelas, Divergente… “O mercado era muito focado no setor infantil e adulto, com pouca coisa para o adolescente. Hoje trabalhamos mais focados em faixas etárias, e a geração criada por Harry Potter é a maior fatia de leitores”, afirma Almeida. O gráfico abaixo mostra a quantidade de livros, impressos no Brasil, da categoria literatura juvenil:

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13) Dormindo na fila
Em julho de 2007, fãs chegaram a amanhecer na porta das lojas para garantir uma cópia de As Relíquias da Morte. “Antes de HP, nunca se viu um adolescente esperar um livro chegar como se fosse um astro do pop”, analisa Pedro Almeida, publisher da Faro Editorial. A livraria também foi rejuvenescida: tornou-se um ambiente de socialização, de passeio e de debate.

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NO CINEMA

14) Pai de todos
Quando HP se tornou um monstro nas bilheterias (e na venda de produtos relacionados ao filme), todo estúdio quis entrar na onda. A avalanche de adaptações de YA teve resultados bons (Jogos Vorazes e A Culpa É das Estrelas) e outros não tão dignos (Percy Jackson), e criou estrelas como Kristen Stewart e Jennifer Lawrence – que se tornaram figuras-chave em Hollywood.

15) Um é pouco
Havia tanto conteúdo a ser exposto em As Relíquias da Morte que os produtores decidiram dividir o livro em dois filmes (os cofres da Warner agradecem!) Foi o estopim de uma tendência, repetida em Jogos Vorazes (A Esperança I e II arrecadaram US$ 1,4 bilhão) e Crepúsculo (Amanhecer I e II levaram US$ 1,5 bilhão) e, futuramente, em Os Vingadores (que estreiam em 2018 e 2019).

16) Um sucessor de sucesso
Mesmo depois de encerrada, a franquia continua derrubando mitos em Hollywood. Foi o caso de Animais Fantásticos e Onde Habitam: geralmente, spin-offs não costumam render tanto quanto o filme que os originou. A aventura de Newt Scamander faturou US$ 814 milhões. Planejada como trilogia, a história agora será contada em cinco filmes.

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17) Ela é que manda
Antes de J.K. Rowling, nunca um autor havia tido tanto poder sobre como sua obra seria levada às telas. Ela conseguiu, por exemplo, a aprovação final em toda a escalação de atores. Foi um divisor de águas. Gillian Flynn, de Garota Exemplar, por exemplo, chegou a mudar o final da história no cinema. E.L. James também controla com pulso firme os scripts de Cinquenta Tons de Cinza.

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NAS LIÇÕES DE J.K. ROWLING

18) Nunca é tarde para mudar
Ela se formou em língua francesa por pressão dos pais, que queriam que fosse secretária. Rowling até teve empregos na área, mas nunca levou jeito e resolveu apostar no que amava mesmo: escrever. “Se fosse bem-sucedida em outra coisa, poderia nunca ter encontrado a determinação para ter sucesso na única área à qual acreditava que realmente pertencia”.

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19) Aproveite o tempo livre
Foi em 1990, numa viagem de trem de Manchester à estação King’s Cross, em Londres, que Rowling concebeu a história. Ela não tinha caneta nem papel e ficou com vergonha de pedir emprestado. “Fiquei frustrada no momento, mas a situação me deu a oportunidade de ter várias ideias para olivro durante as quatro horas no trem”, disse à Urbanette Magazine.

20) Valorize sua imaginação
A poderosa imaginação de Rowling aos 9 anos foi sua maior inspiração para criar Harry Potter, anos depois. No subúrbio de Bristol, ela brincava de fazer feitiços e viajar a outros mundos com a irmã, Dianne, e os vizinhos, os Potters. “Não precisamos de magia para transformar o mundo. Já trazemos todo o poder de que necessitamos: imaginar o melhor”, discursou na Universidade Harvard (EUA).

21) Insista até conseguir
A Pedra Filosofal foi rejeitado por várias editoras – Rowling já chegou até a tuitar algumas cartas de recusa. Mas ela não desistiu e conseguiu encontrar um agente que acreditou no potencial do livro e o ofereceu à Bloomsbury, que o lançou em 1997. “Eu não tinha nada a perder e, às vezes, isso faz com que você se torne corajoso o suficiente para tentar”, tuitou Rowling sobre essa época.

22) Apoio aos refugiados
No ápice da crise dos refugiados na Europa, quando a imagem do corpo de um menino na praia da Turquia correu o mundo, Rowling ofereceu seu apoio, usando a hashtag #refugeeswelcome, que entrou nos trending topics do Twitter. “Se você não consegue se imaginar em um dos barcos, tem algo de errado com você. Eles estão morrendo por uma vida melhor”, disse.

23) Chega de xenofobia
Em 2015, após o atentado ao jornal Charlie Hebdo, em Paris, o empresário da mídia Rupert Murdoch disse que todos os muçulmanos deveriam ser responsabilizados pelo ataque. A autora apontou como essa lógica não fazia nenhum sentido – e ainda alfinetou o magnata: “Eu nasci cristã. Se isso me faz responsável por Rupert Murdoch, vou me autoexcomungar”. A questão foi tão polêmica que rolou até uma petição (com mais de 56 mil assinaturas!) para que ela abrigasse muçulmanos em sua mansão.

24) Machistas não passarão
Após uma vitória da tenista Serena Williams, a autora tuitou: “Que atleta, que exemplo, que mulher!” Um de seus seguidores teve a infelicidade de fazer um comentário misógino: “Irônico que o motivo pelo qual ela é tão bem-sucedida é o fato de ter o corpo de um homem”. Rowling faturou game point: “‘Ela tem o corpo de um homem’. Claro, meu marido fica exatamente assim de vestido. Você é um idiota”.

25) Viva o arco-íris
Em maio de 2015, quando a Irlanda aprovou o casamento homossexual, ela escreveu: “Assistindo à Irlanda fazer história. Extraordinário e maravilhoso”. Na época, também postou que adoraria ver os magos Dumbledore, de HP, e Gandalf, de O Senhor dos Anéis, se casando. Quando recebeu críticas da Igreja Batista de Westboro, rebateu: “Essa união seria tão incrível que explodiria suas mentes preconceituosas”.

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NOS PROJETOS SOCIAIS 

26) O riso salva
Fundada em 1985 pelo diretor e roteirista Richard Curtis, a Comic Relief usa a comédia para arrecadar dinheiro e combater a miséria no Reino Unido e na África. Rowling doou todos os royalties do livro Quadribol Através dos Séculos (R$ 71,9 milhões). Em março deste ano, anunciou no Twitter que fará mesmo com Animais Fantásticos e Onde Habitam.

27) Faça-se a luz
A escritora cofundou, em 2005, a Children’s High Level Group, que lutava para melhorar a qualidade de vida de crianças com deficiência. Em 2007, J.K. leiloou uma cópia manuscrita de Os Contos de Beedle, Bardo e arrecadou o equivalente a R$ 8 milhões para a instituição. Em 2010, a entidade virou Lumos e agora trabalha em projetos que dão suporte a crianças carentes e visam reduzir a mortalidade infantil. Todos os royalties de Os Contos de Beedle, o Bardo são doados à fundação.

28) Em nome da mãe
Em 2010, ela doou 10 milhões de libras (R$ 42,3 milhões) à fundação de uma clínica especializada em tratamentos de esclerose múltipla na Universidade de Edimburgo. O espaço foi batizado como Anne Rowling Regenerative Neurology Clinic, em homenagem à sua mãe, que morreu aos 45 anos – poucos meses depois de Rowling ter começado a escrever Harry Potter.

29) Tamo junto!
Em junho de 2014, J.K. doou 1 milhão de libras (R$ 4,2 milhões) à campanha Better Together, que era contra a independência da Escócia. Em um comunicado em seu site oficial, ela explicou que o país deveria continuar dentro do Reino Unido e que a decisão pela separação seria “um erro histórico” e afetaria “as perspectivas das gerações futuras”.

30) Ela se lembra de onde veio
Também criada por Rowling, a Volant Charitable Trust funciona desde 2000 e apoia organizações de caridade, grupos e projetos da Escócia – principalmente os que combatem a privação social de mulheres, crianças e jovens em situação de risco. Essa causa está intimamente ligada com passado de J.K., que também viveu em situação de pobreza.

31) Parceiros
Outra que está sempre engajada é Emma Watson, que interpretou Hermione. Uma das causas mais importantes defendidas pela atriz é a igualdade entre gêneros. Ela lançou, em 2014, a campanha #HeForShe (“Ele por Ela”). objetivo é fazer com que os homens se envolvam na luta contra as barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingir o seu potencial.

31) Ler para crer
Assim como Hermione, Watson não resiste a um bom livro. Ela criou, em janeiro de 2016, Our Shared Shelf (“nossa estante compartilhada”), uma espécie de “clube de leitura” online. Em novembro, escondeu 100 obras nas estações de metrô de Londres, para apoiar o projeto Books on the Underground (“livros no metrô”), que realiza um trabalho similar.

32) Nude pela natureza
Para arrecadar fundos para projetos ambientais, a ruivinha fez um ensaio nu para o livro Natural Beauty (“beleza natural”, inédito no Brasil), lançado em 22 de abril (Dia da Terra) pelo fotógrafo australiano James Houston. O trabalho foi inspirado na conexão entre o design e a natureza e também trouxe outras estrelas, como Brooke Shields.

33) Moda sustentável
Referência no mundo fashion, a atriz aproveitou a turnê de divulgação de A Bela e a Fera para usar apenas vestidos com materiais reciclados e confeccionados localmente. Até a maquiagem foi pensada com cuidado: todos os produtos eram livres de maus tratos animais e feitos com ingredientes naturais.

34) Espalhe a luz
Em 2016, o brasileiro Pedro Martins, do site Potterish, e a norte-americana Michaella Katz, do Always J.K. Rowling, bolaram uma campanha sazonal para beneficiar instituições de caridade. Com o apoio de mais de 20 sites de fãs e youtubers de Harry Potter, o Spread the Light arrecadou mais de 2 mil libras (R$ 8,4 mil). Você pode ajudar em spreadthelight.site.

CONSULTORIA Pedro Almeida, publisher da Faro Editorial, Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro, Monica Figueiredo, editora de Harry Potter no Brasil, Célia Regina Cavalheiro, professora do curso de audiovisual do Senac, e Marina Anderi e Pedro Martins, do site Potterish

FONTES Sites Forbes, The New York Times, The Guardian, Pottermore e Box Office Mojo

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