Como se identifica uma pintura falsificada?
Com análises visuais, fotográficas e laboratoriais. Detecta-se se estilos, técnicas e materiais são compatíveis com o pintor em questão
ILUSTRA Thales Molina
Com análises visuais, fotográficas e laboratoriais. A pintura é investigada para detectar estilos, técnicas e materiais e checar se são compatíveis com o pintor em questão e com a época em que ele viveu. Também é possível descobrir se a obra foi rasurada, alterada, danificada ou restaurada no passado. O trabalho é importante, porque o mercado de arte tem muitas fraudes: estima-se que 40% de todas as pinturas expostas no mundo sejam falsificações. Há, inclusive, pintores que se especializam em imitar o estilo de artistas consagrados para criar obras novas, dizer que são dos famosos e cobrar uma nota por elas. Um caso que ganhou notoriedade foi a descoberta de que a pintura Madonna of the Veil, atribuída a Botticelli, foi feita na verdade três séculos depois da morte do renascentista.
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1) OLHO NA TELA
Primeiro, é feita uma análise a olho nu. Especialistas com grande conhecimento sobre o artista, conhecidos pelo termo francês connoisseurs, comparam a obra com trabalhos já consagrados. Eles analisam estilo, tema, formato das pinceladas, cores e também o estado de conservação da tela e do suporte de madeira. Van Gogh, por exemplo, se caracterizou por pinceladas curtas, densas e irregulares.
2) LENTE DA VERDADE
Uma análise minuciosa com uma lupa e, se necessário, microscópio, pode revelar se a pintura é uma fraude. Isso porque a ampliação da lente consegue distinguir os antigos pigmentos, que eram moídos à mão (e, por isso, eram mais grossos), dos modernos, produzidos industrialmente e bem mais finos.
3) BATE NA MADEIRA
A dendrocronologia é uma análise da moldura e do suporte. O número de anéis revela a idade da árvore, contando do centro (miolo) até a ponta (casca). A distância entre eles varia conforme a temperatura e a quantidade de água recebida, o que permite saber o local de origem da árvore. Existem várias regiões cujos padrões de anéis já foram tabulados, permitindo verificar se o quadro veio de onde se acredita ter vindo.
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4) SEGREDOS PARTICULARES
O processo mais complexo chama-se espectroscopia de infravermelho. Uma partícula com cerca de 5 mm de diâmetro é retirada da obra e analisada com luz infravermelha. Isso permite identificar a espessura de cada camada. de tinta e de verniz, além dos pigmentos e aglutinantes utilizados. Sabendo quando eles entraram em uso e em quais regiões, pode-se comparar com a datação oficial da obra.
5) FOTOS E FATOS
Fotografando a obra com lentes macro, é possível ampliar detalhes. A iluminação é essencial: luzes rasantes, tangentes à pintura, destacam as irregularidades da superfície,o movimento dos pincéis e o modo de aplicação da tinta. São detalhes que podem ser comparados aos do suposto autor.
6) CHAPA QUENTE
Assim como acontece com humanos, também dá para fazer radiografia (tirar raio X) de quadros. No caso, o objetivo é revelar pinturas adjacentes, alterações posteriores e a localização de pregos e massas de restauro. Um tubo emite a radiação, que atravessa a obra até atingir a chapa radiográfica. Nela ficam impressas, em tons de cinza, as partes ocultas.
7) DARK ROOM
A técnica de fluorescência tem ares de CSI. Iluminada apenas por lâmpadas de luz negra, a pintura é fotografada com ajuda de um filtro ultravioleta. As moléculas da tela começam a vibrar – quanto mais antigas as partículas, mais elas emitem luz. Isso permite visualizar retoques e repinturas.
8) CÓDIGO VERMELHO
Para saber o que há por trás da tinta, a obra é fotografada com um filtro infravermelho acoplado à câmera. Ele torna as camadas externas da pinturamais transparentes e evidencia os compostos que têm maior absorção, como as partículas de carbono, comumente utilizadas para fazer o rascunho. Com isso, dá para ver esboços, grafias e imagens que podem não condizer com o autor creditado. Também dá para usar a luz transversa, emitida pelo lado oposto da tela, que evidencia manchas, marcas e rupturas no suporte.
FONTESArtigos A Dendrocronologia Aplicada às Obras de Arte, de Lilia Esteves, Hieronymus Bosch e As Tentações de Santo Antão, de Sandra Hitner, Aplicação das Técnicas de Espectroscopia FTIR e de Micro Espectroscopia Confocal Raman à Preservação do Patrimônio, de Joana Gonçalves Leite, e Fotografia como Auxiliar de Restauro e Conservação de Pinturas de Cavalete, de Vicente Pagliaro Peixoto de Mel