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E se todo mundo virasse vegano?

Os fatores ambientais, como a poluição e o desmatamento, melhorariam muito, mas a economia sofreria um baque gigantesco

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 22 fev 2024, 10h09 - Publicado em 29 nov 2017, 13h42

VOLTA O VERDE
Sem precisar desmatar para dar espaço ao gado ou para cultivar alimentos para ele, poderíamos usar boa parte da área restante para recuperar florestas. Seria necessário fazer um alto investimento, porque o solo usado para pasto é bastante degradado, mas valeria a pena para melhorar a qualidade do ar e a variedade dos ecossistemas do planeta

ABRE A PORTEIRA!
Teríamos que lidar com quase 25 bilhões de animais sem função, porque, subitamente, não teriam mais valor econômico. São 1,4 bilhão de cabeças de gado, 1,9 bilhão de ovelhas e cabras, 980 milhões de porcos e 19,6 bilhões de galinhas. Devolvê-los para a natureza provocaria a morte da maioria. A melhor solução seria colocá-los em reservas onde seriam mantidos vivos. Mas como essas reservas iriam se sustentar financeiramente?

POBRES COM FOME
A carne é uma fonte barata de proteínas importantes para manter um organismo humano em pé. Dietas mais saudáveis são mais caras: seria preciso estimular a agricultura local dos países em desenvolvimento para melhorar a distribuição de legumes e frutas, que muitas vezes são mais difíceis de preservar sem estragar. Nos países mais pobres, que mais dependem de carne, esse é um cenário difícil de colocar em prática

CHOQUE CULTURAL
Muitas regiões têm a carne como parte essencial de sua cultura. Elas seriam descaracterizadas – imagine o Brasil sem churrascarias, os EUA sem hambúrgueres, o Japão sem sushis. Além disso, povos nômades carregam o gado consigo, porque eles servem para transportar peso e também como fonte de comida. Eles se veriam forçados a migrar para as cidades, aumentando o inchaço populacional e a pobreza

AR LIMPO
A poluição cairia muito, porque a pecuária emite uma quantidade colossal de poluentes – desde o gás metano, muito liberado por esses animais, até a fumaça gerada pelo transporte da carne. Atualmente, cerca de 25% de todas as emissões de gases poluentes do planeta são provocadas pela agropecuária – comer 100 g de carne todos os dias significa emitir 99 kg de CO2 em um ano. Com o fim do consumo de produtos de origem animal, essa parcela cairia cerca de 70%

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ADEUS, COMPUTADORES
Diversos produtos contêm algum tipo de substância extraída de animais. A lista inclui desde itens mais óbvios, como roupas, até sacolas plásticas de mercado, perfume, xampu, açúcar, cigarro, desodorante, pasta de dente, batom, pneu de carro, giz de cera, camisinhas, filmes fotográficos e até mesmo computadores. Num mundo vegano, nada disso poderia mais existir, a menos que a ciência achasse substitutos viáveis

MAIS TERRA
Teríamos mais espaço para plantar, sem precisar desmatar florestas: um terço de toda a área cultivada do planeta não produz alimentos para nós, humanos, mas sim para os animais que consumimos. Com o fim da pecuária, liberaríamos uma porção de terra equivalente à África inteira. Também economizaríamos água: gastamos 15 mil litros para produzir 1 kg de bife e só 300 litros para 1 kg de vegetais

TODO MUNDO NA RUA
Caso, subitamente, todo mundo parasse de comer carne de qualquer tipo, além de derivados de leite de vaca e de ovinos em geral, o impacto para a economia seria descomunal. O 1,5 bilhão de pessoas (20% da população mundial) que hoje trabalham na pecuária, na avicultura e na pesca ficariam desempregadas. Realocar tanta gente seria bem difícil, especialmente em países como o Brasil, onde o setor gera R$ 400 bilhões todos os anos, ou a Indonésia, onde os peixes são essenciais para a economia

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VIDA SAUDÁVEL
No caso de os problemas socioeconômicos serem resolvidos e todos os habitantes do planeta terem acesso a uma alimentação sem carne, seriam evitadas 7 milhões de mortes por ano daqui até 2050. Isso porque a alimentação excessivamente dependente de proteína e gordura animal provoca doenças cardíacas, diabetes, derrames e alguns tipos de câncer. A redução nos gastos com saúde pública seria da ordem de 3% do PIB mundial

Pergunta do leitor – Marcelo Rabelo, Guarapari, ES

CONSULTORIA Marco Springmann, pesquisador da Universidade de Oxford / FONTES Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea), Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) e Netherlands Environmental Assessment Agency

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