É verdade que cerveja feita de milho é pior?
A desinformação em torno do assunto se tornou tão grande que até ganhou um apelido no meio cervejeiro: "mimimilho"
Não necessariamente. A cerveja é feita a partir da fermentação alcoólica do malte de cereais, principalmente a cevada. O malte, por sua vez, é obtido por meio da germinação artificial e da secagem do cereal.
Mas nem sempre a cerveja é 100% de cereais maltados. É aí que entra o milho. Por lei, a bebida tem que ter no mínimo 55% de malte. Então até 45% podem ser os chamados cereais não maltados, que variam de acordo com a disponibilidade de matéria-prima e as características que se quer dar à cerveja – como a leveza, já que os não maltados geram álcool sem deixar a bebida mais encorpada. O milho é mais comum na América do Sul, assim como o arroz nos EUA, a aveia na Europa e o sorgo na África.
Como os cereais não maltados barateiam a produção de grandes fabricantes, eles passaram a ser vistos como vilões nos últimos anos. Mas isso não faz sentido. Assim como “puro malte” nem sempre é sinônimo de qualidade, cervejas de milho podem ser muito boas. Entre as micro e pequenas cervejarias, cereais não maltados servem, muitas vezes, como estímulo à criatividade. A Flying Dog, uma das mais celebradas dos EUA, lançou a Agave Cerveza (de milho e agave, a matéria-prima da tequila), enquanto a dinamarquesa Amager, em parceria com a carioca 2cabeças, fez a Marry Me in Rio, que tem milho, arroz e uma respeitável nota 87 no site de avaliações RateBeer. Os exemplos se acumulam e mostram que o milho pode ser mais um aliado do que um vilão.
ESPIGA DE HISTÓRIA
Apesar da birra recente, o milho está há tempos na vida da cerveja
- INCAS Bem antes da invasão dos europeus, povos andinos faziam chicha, bebida fermentada de milho. Essa prima da cerveja existe até hoje em países como o Peru
- BÉLGICA MEDIEVAL A abadia Leffe produz cerveja desde o século 13. Hoje ela faz alguns dos rótulos mais tradicionais e bem avaliados da Bélgica. Com milho
- TREZE COLÔNIAS Os primeiros colonizadores dos EUA faziam cerveja de milho – e os imigrantes alemães no país, no século 19, vendiam a versão com milho a um valor mais alto que a de puro malte
CONSULTORIA Laura Aguiar, mestre-cervejeira e sommelière de cervejas da Ambev, e Mauricio Beltramelli, mestre em estilos de cerveja e autor de livros sobre cerveja.
FONTES Livro Drink: A Cultural History of Alcohol, de Iain Gately; blogs “Dois Dedos de Colarinho” (O Globo), “Lupulinas” (Carta Capital) e “Só de Birra” (O Estado de S. Paulo); Draft Magazine, planalto.gov, RateBeer e The Washington Post.